quinta-feira, 9 de outubro de 2014

SAÚDE MENTAL NA ADOLESCÊNCIA: ZONA DE RISCO E NECESSIDADE DE ACOMPANHAMENTO

 
A adolescência, por ser um período particularmente rico em possibilidades desestabilizadoras, já que é um momento de definições diversas no campo sexual, profissional, familiar, lança questões que alguns jovens não têm condição de responder positivamente, determinando sofrimento psíquico e a eclosão de quadros psicopatológicos.
 
Diversamente das sociedades tradicionais, que possuíam mecanismos para demarcar os lugares que cada um dos seus membros devia ocupar ao tornar-se adultos, a sociedade moderna desafia seus jovens a buscar uma definição que esteja inserida num projeto globalizante ao mesmo tempo que seja singular, e única para suas vidas.
 
A tarefa, inerente ao homem moderno, de apresentar-se como um sujeito singular se inicia na juventude, quando o adolescente é compelido a assumir suas opções frente às diversas exigências próprias à sua inclusão no mundo adulto.
 
Algumas situações podem ser destacadas como agravantes dos riscos quanto à manutenção da saúde mental dos adolescentes:
 
- doenças crônicas que atinjam seu desenvolvimento físico e/ou mental, principalmente quando conduzem a longos períodos de hospitalização;
 
- gravidez precoce e não planejada;
 
- pais com severos transtornos mentais, incluindo alcoolismo e depressão de longa duração, além de transtornos psicóticos;
 
- convivência com situação de violência, doméstica ou comunitária, como vítimas diretas de abusos ou maus-tratos, ou como testemunhas freqüentes de ocorrências violentas;
 
- situação de ruptura ou de enfraquecimento de vínculos familiares que os conduzam a viver constantemente nas vias públicas sem os cuidados de adultos idôneos;
 
- envolvimento precoce e/ou abusivo com álcool, tabaco ou outras drogas psicoativas, lícitas ou ilícitas;

- agravos produzidos por trabalho precoce e/ou nocivo ao seu desenvolvimento psicossocial;
 
- envolvimento em situações ilícitas e/ou violentas resultantes de associação com grupos criminosos.

Dentre os agravos à saúde mental dos jovens, encontramos algumas situações particularmente delicadas que reclamam ações de prevenção e reabilitação para reverter ou impedir o crescimento dos "desafiliados sociais":

1) Os quadros psicóticos merecem atenção especial, tanto pelos prejuízos imediatos que causam ao adolescente quanto pelas restrições que podem determinar no seu futuro desenvolvimento.
 
Durante o período agudo, a psicose está freqüentemente associada ao risco de suicídio e à exposição a outras situações igualmente de risco psicossocial, como uso de drogas, comportamento violento, envolvimento em acidentes, internação psiquiátrica e início de uma carreira manicomial,
etc;
 
2) Outra população da faixa infanto-juvenil em situação de risco psicossocial é constituída por jovens que se convencionou chamar de meninos de rua.

Historicamente, estes jovens têm sido categorizados como delinqüentes, com um comportamento anti-social.

Simultaneamente, são considerados "culpados" por reinventarem a cada instante formas de sobreviver numa sociedade que é hostil a suas presenças.

São jovens que vivem nas ruas e, apesar de serem parte da sociedade, não têm nada que referencie suas existências a essa sociedade.

Junto a esse grupo, existem ainda aqueles órfãos ou abandonados, que se encontram "internados" em instituições ou abrigos dirigidos à infância pobre e por isso mesmo sofrem um empobrecimento em suas capacidades psicossociais.

Diferentemente dos meninos de rua, são pouco criativos e repetitivos, mas apresentam igualmente dificuldades para tomar decisões ou criar projetos de vida próprios após os 18 anos, quando precisam ser "desligados" da instituição, por necessidade jurídica e/ou para abrir vagas para outros.

Da mesma forma que os meninos de rua, necessitam de um forte suporte em sua auto-estima, de forma a propiciar modificações pessoais;

3) Ainda entre aqueles que se encontram em situação de risco psicossocial, estão aqueles em que a "dificuldade de aprendizagem escolar" e/ou o "mau comportamento" em sala de aula criam precocemente o estigma de serem aqueles que não dão certo na escola e nem darão certo na vida.

Procurando responder ou acalmar a dificuldade que a instituição-escola tem em lidar com a aprendizagem do aluno que recebe, desenvolveu-se uma prática disseminada, a necessidade de recorrer aos saberes psiquiátrico e psicológico para legitimar que o fracasso escolar está no aluno e não no sistema.

Todos o casos citados são indicados acompanhamento psicológico, psicanalítico ou psiquiatra, tendo em vista a recuperação, quando não a diminuição dos sofrimentos para a pessoa do adolescente, familiares e sociedade em geral.