quinta-feira, 30 de outubro de 2014

DEPRESSÃO INFANTIL

 
Crianças pode ter depressão?
A resposta é afirmativa. Existe sim depressão em crianças, porém é um quadro atípico.
 
É bom que saibamos que nem sempre é necessário uma pessoa ter problemas para desenvolver depressão.
 
Depressão é uma doença, um transtorno do afeto, é um desarranjo cerebral funcional e tem uma base bioquímica.
 
É claro que dificilmente veremos uma criança queixando de angústia, um vazio dentro de si, um medo indefinido, insegurança, autoestima baixa, perda de prazer com as coisas, perspectivas futuras sombrias. Isso é comum na depressão típica e de adultos.
 
Na criança a depressão é completamente diferente.
 
O Transtorno Depressivo Infantil é um quadro sério e capaz de comprometer o desempenho, o desenvolvimento e a maturidade psicossocial.
 
A maior dificuldade no diagnóstico, estudo e tratamento da depressão infantil é proporcionada pela descrença na existência da doença.
 
Outro fator que compromete o entendimento da depressão infantil é a grande diferença entre seus sintomas e os sintomas da depressão do adulto.
 
Enquanto o adulto deprimido consegue falar sobre seus sentimentos, deixando clara a tonalidade depressiva de seu afeto e, consequentemente, de seus sintomas depressivos, a criança não consegue ter essa consciência e sua depressão só pode ser indiretamente suspeitada através de seu comportamento.
 
Principais características da depressão em crianças
Os principais comportamentos que caracterizavam a depressão infantil são os seguintes:
1 - Humor instável;
2 - Autodepreciação,
3 - Agressividade ou irritação;
4 - Distúrbios do sono;
5 - Queda no desempenho escolar;
6 - Diminuição da socialização,
7 - Modificação de atitudes em relação à escola;
8 - Perda da energia habitual, do apetite e/ou do peso.
 
Na criança e adolescente a forma atípica desse transtorno afetivo esconde os verdadeiros sentimentos depressivos sob uma máscara de irritabilidade, agressividade, hiperatividade e rebeldia. As crianças mais novas, devido a incapacidade para comunicar verbalmente seu verdadeiro estado emocional, manifestam a depressão de forma mais atípica ainda, notadamente com hiperatividade.
 
Outras características
Entretanto, embora a maioria das crianças com depressão manifeste sintomatologia atípica, algumas delas podem apresentar sintomas clássicos, tais como tristeza, ansiedade, expectativa pessimista, mudanças do hábito alimentar e do sono, ou ainda problemas físicos, tais como dores inespecíficas, fraqueza, tonturas, mal estar geral, enfim, queixas que não respondem ao tratamento médico habitual.
 
Os pais devem estar em alerta para alterações como:
A depressão na criança pode ser inicialmente percebida como perda de interesse pelas atividades habitualmente interessantes, como uma espécie de aborrecimento constante diante dos jogos, brincadeiras, esportes, sair com os amigos, etc., além dessa apatia, preguiça e redução significativa da atividade, às vezes pode haver tristeza, mas essa não é a regra geral.
 
De forma complementar aparecem sintomas muito significativos, como por exemplo,  diminuição da atenção e da concentração, perda da confiança em si mesmo, sentimentos de inferioridade e baixa autoestima, idéias de culpa e inutilidade, tendência ao pessimismo, transtornos do sono e da alimentação e, dependendo da gravidade do quadro, até ideação suicida.
 
Os sintomas
A Depressão Infantil não se traduz, invariavelmente, por tristeza e outros sintomas típicos dos adultos, como foi dito acima. É muito importante saber que existem momentos nos quais as crianças podem estar tristes, irritadas ou aborrecidas em resposta a vivências circunstanciais. Essas manifestações emocionais nada têm a ver com depressão, pois são fisiológicas, fugazes e passageiras.
 
Entretanto, pode-se suspeitar de algum componente depressivo quando essas manifestações de aborrecimento, birra, irritação, inquietação ou outros rompantes são constantes e frequentes, quase caracterizando uma maneira dessa criança ser e reagir.
 
Nas crianças e adolescentes é comum a depressão ser acompanhada também de sintomas físicos, tais como fadiga, perda de apetite, diminuição da atividade, queixas inespecíficas, tais como cefaléias, lombalgia, dor nas pernas, náuseas, vômitos, cólicas intestinais, vista escura, tonturas, etc.
 
A Depressão na Infância e Adolescência costuma se manifestar ainda por insônia, choro, baixa concentração, irritabilidade, rebeldia, tiques, medos lentidão psicomotora, problemas de memória, desesperança, ideações e tentativas de suicídio. A tristeza pode ou não estar presente.
 
Na esfera do comportamento, a Depressão na Infância e Adolescência pode causar deterioração nas relações interpessoais, familiares e sociais, perda de interesse por pessoas e isolamento.
 
As alterações cognitivas da Depressão Infantil, principalmente relacionadas à atenção, raciocínio e memória interferem sobremaneira no rendimento escolar.
 
Sinais e sintomas que podem indicar depressão infantil
1- Mudanças de humor significativa
2- Diminuição da atividade e do interesse
3- Queda no rendimento escolar, perda da atenção
4- Distúrbios do sono
5- Aparecimento de condutas agressivas
6- Auto-depreciação
7- Perda de energia física e mental
8- Queixas somáticas
9- Fobia escolar
10- Perda ou aumento de peso
11- Cansaço matinal
12- Aumento da sensibilidade (irritação ou choro fácil)
13- Negativismo e Pessimismo
14- Sentimento de rejeição
15- Idéias mórbidas sobre a vida
16- Enurese e encoprese (urina ou defeca na cama)
17- Condutas anti-sociais e destrutivas
18- Ansiedade e hipocondria
 
Tratamento
Ao se pensar no tratamento o passo mais importante é a certeza do diagnóstico.
 
Depois de diagnosticada depressão infantil é necessário avaliar o grau da doença e sua origem.
 
Nas crianças menores a probabilidade de existir forte componente orgânico é maior, principalmente se houver antecedentes familiares de transtorno afetivo.
 
Nas crianças de idade escolar para frente a depressão pode ser também reativa, ou seja, desencadeada ou determinada por questões vivenciais.
 
As eventuais associações ou complicações do quadro depressivo, sejam causas ou conseqüências, devem ser avaliadas para eventuais abordagens por profissionais especializados, paralelamente ao tratamento médico-psiquiátrico (bulling, violência física, sexual, maus tratos, falhas educacionais, prejuízos acadêmicos, etc.).
 
O tratamento da criança deprimida deve ser iniciado o mais precoce possível, antecedido por avaliação do grau da depressão e possível definição do tipo e tempo do tratamento.
 
Para as crianças mais novas, pré-escolares, se a depressão for mais leve recomenda-se a terapia cognitivo-comportamental, de preferência para paciente e família, ou o chamado treinamento de necessidades sociais, que é semelhante à terapia cognitivo-comportamental, porém, com grande enfoque em atividades abertas e desenvolvimento de habilidades específicas, além da psicoterapia com foco no relacionamento familiar.
 
Nos casos de depressão mais severa deve-se indicar um tratamento psicológico mais intensivo e muitas vezes medicamentoso.
 
Em faixa etária precoce, em torno dos 6 anos, na vigência de complicações importantes, tais como anorexia, sintomas de TOC, ideação suicida, apatia extrema, sintomas psicóticos de origem afetiva, os medicamentos antidepressivos poderão ser imprescindíveis.
 
Medicação
Os antidepressivos mais antigos, ou seja, os chamados tricíclicos (imipramina, clomipramina, maprotilina, amitriptina ou nortriptilina) são muito usados em crianças tendo em vista sua eficácia e a experiência clínica adquirida ao longo dos anos.
 
Os principais ISRS aprovados pelo FDA para tratamento da depressão infantil são a Fluoxetina, a Sertralina e o Escitalopram.
 
Outros antidepressivos, como por exemplo, a venlafaxina, embora bastante eficiente para o tratamento da depressão em adultos ainda é pouco pesquisada em crianças menores.
 
Prefere-se o tratamento com a venlafaxina para jovens maiores de 15 anos.
 
Os pacientes devem ser continuamente avaliados e as doses sempre ajustadas conforme a necessidade e eventuais efeitos colaterais.
 
Em média o tratamento medicamentoso para a depressão infantil se mantém por um tempo que varia entre um e três anos, dependendo sempre do curso e evolução do quadro.
 
Outras possibilidades de tratamento
Existem também os tratamento alternativos, como o uso da medicação homeopática, fitoterápica e acupuntura.
 
Os métodos citados podem ajudar e diminuir a dependência de medicação que muitas vezes pode acontecer por falta de cuidado por parte de alguns profissionais.
 
Referências:
Ballone GJ, Depressão Infantil, in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, 2010.