domingo, 2 de novembro de 2014

DISPOSOFOBIA - ACUMULAÇÃO COMPULSIVA

 
Definição
A acumulação compulsiva ou disposofobia (fobia em dispor das coisas), consiste na aquisição ou recolha ilimitada de objetos de pouca ou nenhuma utilidade, muitas vezes já deixados no lixo por outras pessoas.
 
Outros nomes dados a enfermidade
 A acumulação compulsiva também é conhecida como Síndrome de Miséria Senil, por muitas vezes (mas nem sempre) acometer pessoas de mais idade ou Síndrome de Diógenes, devido ao filósofo grego que vivia como um mendigo recolhia da rua inúmeros objetos sem valor.
 
Talvez seja esse o primeiro relato de acumulação compulsiva na história.
 
A repercussão comportamental e cognitiva da enfermidade
Acumulação compulsiva é um transtorno emocional com fortíssima repercussão comportamental e cognitiva caracterizado por recolhimento excessivo e incapacidade para descartar coisas, geralmente sem utilidade.
 
O comportamento de acumulação compulsiva geralmente causa, para a pessoa que sofre da doença e para membros da família, prejuízo emocional, social, financeiro, físico e até mesmo legal.
 
Os acumuladores compulsivos juntam grande quantidade de coisas, geralmente em completa desordem, ocupando áreas excessivas da casa ou do local de trabalho que fazem falta às demais pessoas.
 
Os casos graves
Nos casos graves o paciente começa enchendo um quarto de quinquilharias, depois outro, a sala, cozinha e logo não sobra espaço para mais nada na casa.
 
Algumas pessoas acumuladoras compulsivas podem não ter senso crítico da anormalidade e morbidade de sua atitude, mas, não obstante, seu comportamento costuma ser angustiante para outras pessoas, como por exemplo familiares, vizinhos, amigos.
 
Muitas vezes a pessoa acumuladora compulsiva perde o controle para organizar e selecionar seus objetos acumulados gastando todo seu tempo disponível nessa atividade completamente estéril.
 
Dessa forma as coisas acumuladas passam a dominar sua vida, a qual parece fazer sentido apenas para adquirir compulsivamente mais coisas sem jamais conseguir se libertar delas.
 
Prejuízos causados na vida do paciente
Com frequência a perturbação conduz o paciente ao isolamento, restringe sua mobilidade social e chega a interferir na realização das tarefas básicas do dia-a-dia, tais como a alimentação, a higiene, a forma de se vestir e a utilização mais saudável de seu tempo.
 
Quando surge a enfermidade
Embora a acumulação compulsiva não seja uma perturbação mental presente desde sempre na vida da pessoa, alguns traços de personalidade cumulativa e comuns nesse transtorno podem ter existido precocemente.
 
Em momento oportuno eclode a doença, seja depois da morte de um familiar, diante de dificuldades econômicas, de conflitos pessoais ou profissionais, enfim, depois de uma experiência vivencial mais traumática.
 
A diferença entre colecionador e acumulador compulsivo
Existe uma clara separação entre o acumulador compulsivo e o colecionador. Mesmo que o colecionador seja compulsivo para adquirir objetos de sua coleção, como selos, carros, borboletas, bonecas, games, bichos de estimação, relógios, etc., ele tende a organizar os objetos racionalmente, respeita sensatamente o espaço, os valores e as possibilidades práticas de aquisição.
 
Os acumuladores compulsivos, por sua vez, são incapazes de organizar o seu espaço de convivência, perdem o autocontrole para adquirir ou de se desfazer das coisas.
 
Classificação científica
Atualmente o Transtorno de Acumulação Compulsiva está classificado isoladamente no DSM-5 (Classificação Norte-americana de Psiquiatria), de acordo com a hipótese de tratar-se de um distúrbio distinto do TOC, diferentemente do que se pensava antes.
 
Por outro lado, a acumulação compulsiva pode ser de um sintoma de certos casos de TOC, quando recebe o nome de “colecionismo”, aparecendo em 15% a 40 % dos pacientes. Em cerca de 5% dos casos de Transtorno de Acumulação Compulsiva a doença é incapacitante (Rasmussen, 1993).
 
Segundo critérios de diagnóstico da DSM.5, os sintomas da doença são suficientes para causar sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou outras áreas importantes de funcionamento, incluindo a incapacidade para manutenção de um ambiente satisfatório para si e/ou para os outros.
 
Faixas etárias atingidas
A maioria dos pacientes com acumulação compulsiva tende a ser de mulheres e em idade mais madura. Na psiquiatria da infância e adolescência observa-se a mesma predileção, com 53% de meninas versus 36% de meninos (Mataix e cols., 2008).
 
Diagnóstico
 Alguns sinais da Acumulação Compulsiva de utilidade para o diagnóstico seriam:
- Recolher e acumular excessivamente bens e objetos que a maioria das pessoas joga fora, tais como sucatas ou lixo, embalagens, jornais velhos, etc. e amontoá-los em pilhas.
- Incapacidade ou grande dificuldade, angústia e indecisão ansiosa associado às tentativas e solicitações para descartar os objetos acumulados.
- Viver em condições precárias de salubridade e em desorganização por conta do acumulo excessivo de bens e objetos, além de não permitir que alguém arrume ou limpe essa desorganização.
- Desvirtuar o espaço da casa da real finalidade a que se destina (cozinha para cozinhar, banheiro para tomar banho, quarto para dormir…) para ocupá-lo pelos objetos acumulados.
- Em alguns casos, ter muitos animais de estimação e não cuidar deles da melhor maneira — transtorno de acumulação de animais.
- Negar que seja exagerado o acúmulo compulsivo, ter vergonha e constrangimento deste hábito e, mesmo assim, não conseguir controlar o impulso.
- Os sintomas causam sofrimento significativo ou prejuízo em áreas sociais, ocupacionais ou outras importantes de funcionamento da pessoa.
 
Requisitos para diagnóstico
Uma das recomendações dos manuais de classificação com a finalidades de avaliar a gravidade do quadro é sobre o juízo crítico e noção da morbidade que o portador do transtorno tem sobre sua situação.
 
Um outro requisito para o diagnóstico de acumulação compulsiva é que todos esses sintomas não fazem parte do quadro sintomático de outro transtorno mental, como por exemplo a demência, estados confusionais e, inclusive, o TOC. Nesse último caso, por exemplo, o diagnóstico seria de TOC com sintoma de colecionismo.
 
Devem ser investigadas a crítica e as crenças dos pacientes sobre seu comportamento de coleta excessiva de objetos, principalmente quando não há espaço disponível.
 
No caso da acumulação de animais avalia-se, da mesma forma, o juízo crítico sobre o controle do espaço, os eventuais problemas sanitários envolvidos, a qualidade de cuidados dispensada aos animais, entre outros.
 
Dificuldades no tratamento
Alguns critérios de insucesso no tratamento do TOC se aplicam também no caso dos acumuladores compulsivos.
 
Um desses critérios mais importante de sucesso está atrelado à autocrítica, aqui sistematizada em três possibilidades.
 
1. - Visão boa ou razoável:
Quando o paciente reconhece que as crenças e comportamentos referentes à dificuldade de descartar objetos recolhidos, à desordem, a ocupação do espaço ou aquisição excessiva são realmente problemáticas e gostaria que não fosse assim.
2. - Percepção Pobre (insight pobre):
É quando o paciente acredita, sem muita convicção, de que as crenças e comportamentos referentes a dificuldade para descartar objetos, a desordem ou aquisição excessiva não são problemáticas, apesar das evidências em contrário.
3. - Percepção Delirante:
Quando o paciente está completamente convencido de que as crenças e comportamentos referentes a dificuldade para descartar objetos, a desordem ou aquisição excessiva não são problemáticas, apesar das evidências em contrário.
 
A ausência de insight ou percepção pobre da morbidade da doença é um dos fatores consistentemente associados ao insucesso do tratamento, ao abandono dos medicamentos e da terapia, ou seja, à não-resposta aos tratamentos tanto farmacológicos como psicoterápicos (Catapano, 2010).
 
Obviamente, se o paciente não acredita que seu comportamento seja bizarro, anômalo, doentio, mórbido e que ele precisa de ajuda, até mesmo para benefício e alívio das pessoas que convivem com ele, então ele jamais acreditará que precisa de tratamento. Não haverá disposição ou motivação para empenhar-se em ser uma pessoa melhor.
 
As dificuldade no tratamento
Os acumuladores compulsivos e os portadores de TOC com sintoma de colecionismo são os pacientes que menos respondem ao tratamento, especialmente quando os sintomas são graves, com insight pobre ou ausente.
 
Esses pacientes respondem muito pouco tanto à Terapia Cognitivo Comportamental como aos tratamentos farmacológicos.
 
O funcionamento do cérebro da pessoa com acumulação compulsiva
Pessoas com distúrbio de acumulação compulsiva apresentam diferenças na função cerebral quando comparadas à população geral.
 
Segundo Tolin, o cérebro dos acumuladores compulsivos responde de maneira diferente em relação à outras pessoas quando estimuladas a descartar objetos, geralmente manifestando ativação excessiva no córtex cingulado anterior, região do cerebral envolvida na tomada de decisões, principalmente decisões que envolvam informações conflituosas e falta de certeza.
 
A atividade também se mostrou elevada na insula, região que monitora o estado emocional e físico. Essa região está envolvida em sensações como nojo, vergonha e outras emoções negativas fortes. Juntas, essas regiões ajudam o indivíduo a decidir a importância dos objetos (Tolin, 2012).
 
Referência:
Ballone GJ - Acumuladores Compulsivos in. PsiqWeb, Internet - disponível em http://www.psiqweb.med.br/, 2013

UMA EXPLICAÇÃO PARA PERMANÊNCIA NO RELACIONAMENTO DOENTIO


 "Assim como buscamos emoção no uso de drogas, na prática de esportes radicais que muitas vezes chegam a destruir nossa vida, podemos utilizar os relacionamentos para isso"
Quando se trata de relacionamentos, percebemos que existem todos os tipos de encontros entre pessoas, desde os luminosos encontros amorosos, até parcerias doentias que mais fazem mal do que bem.
Ora, quando pensamos racionalmente, tudo fica muito simples.
Se uma relação nos faz mal deveríamos deixá-la e seguir em frente, em busca de alguém com quem pudéssemos celebrar uma parceria saudável, construtiva e mais feliz. Mas nem sempre é assim.
É muito comum, e eu tenho certeza de que você conhece algum casal assim.
Encontramos pessoas que parecem estar unidas não pelo que tem de saudável, e sim por uma espécie de vínculo doentio, que não parece fazer sentido para quem olha de fora.
São casais que vivem no limite, a ponto de explodir.
Parecem viver numa intensidade tal que o menor movimento pode ser o gatilho para uma reação intensa puramente emocional.
São os casais que protagonizam grandes brigas por ciúmes, posse, tentativa de controlar o outro, e por aí vai. Muitas vezes parecem de tal maneira apaixonados que quem os olha de fora chega a invejar tamanho “amor”.
Vivem a polaridade amor /ódio, muitas vezes chegando a atitudes inaceitáveis de desrespeito e agressão.
- Por que essas pessoas continuam juntas?
Nos perguntamos, sem compreender, uma vez que aquele relacionamento parece gerar muito mais desgaste do que alegria e prazer.
São muitos os possíveis motivos para explicar o motivo dessas uniões desastrosas. A verdade é que, quase sempre, essas parcerias acabam causando sérios danos aos que nela se encontram envolvidos.
Quase sempre percebemos que o que aconteceu foi uma espécie de entrelaçamento nas histórias de duas pessoas sofridas. Cada uma delas traz de seu passado, de sua infância, aspectos não resolvidos, que são atualizados e revividos na relação atual.
Assim, não é ao outro que ficam aprisionados, e sim ao seu próprio passado não resolvido.
Por esse motivo, um trabalho mais profundo de autoconhecimento é necessário, para que as pessoas se libertem dessa repetição que tanto lhes causa mal, para que caminhem em direção a um relacionamento mais saudável, que lhes traga uma sensação de autovalorização e bem-estar.
Também é comum que essas pessoas tenham encontrado nessa forma intensa de viver, sempre a um ponto da explosão, uma fonte de vida.
Da mesma forma como, ao praticar um esporte radical, somos levados a experimentar uma descarga de adrenalina que nos tira da consciência cotidiana e nos faz sentir, por algum tempo, extremamente cheios de vida, algumas pessoas passam a sentir-se assim em relacionamentos amorosos como os que relatei.
Como se a intensidade de tudo, a sensação de beirar uma explosão, trouxesse ao casal a sensação de estarem vivos como nunca.
Aos envolvidos nessa parceria explosiva, parece muito sem graça viver um relacionamento mais ameno, como se lhes faltassem emoção.
Assim como buscamos emoção no uso de drogas, na prática de esportes radicais que muitas vezes chegam a destruir nossa vida, podemos utilizar os relacionamentos para isso.
É preciso que avaliemos o custo de tudo. Não há nada de errado em buscar tornar nossa vida mais emocionante, mas é preciso que tenhamos a medida do saudável em tudo.
Existe um limite protetor que não podemos atravessar. Se, para viver uma emoção colocamos nossa vida, física ou emocional, em risco, é preciso que reconsideremos nossa escolha.
Podemos aprender a povoar nossa vida cotidiana com pequenas emoções, podemos buscar essa adrenalina que nos deixa com as bochechas vermelhas de tantas formas.
Por que escolher algo que nos destrua, que avilte o que temos de mais raro: a vida?
Por que nos matarmos, mesmo que emocionalmente, em busca de vida? Não faz sentido!
 Existe uma outra maneira de viver, mas que muitas pessoas se recusam à aceitar justificando um grande "amor".