segunda-feira, 3 de março de 2025

TERMOS FUNDAMENTAIS DA ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA - ACP



INTRODUÇÃO

A Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), desenvolvida por Carl Rogers, representa um marco na psicologia humanista ao enfatizar a capacidade inerente do ser humano para o crescimento e a autorrealização.

Fundamentada em conceitos como a tendência atualizante, o eu e a autoimagem, a validação e a consideração positiva incondicional, essa abordagem propõe um modelo terapêutico baseado na empatia, na congruência e na aceitação incondicional do cliente.

Este texto explora os principais termos e conceitos fundamentais da ACP, destacando seu impacto na psicoterapia e no desenvolvimento pessoal.

Através de uma compreensão aprofundada desses elementos, é possível perceber como a ACP possibilita um ambiente terapêutico que favorece o bem-estar emocional e a construção de uma vida mais autêntica e integrada.

TENDÊNCIA ATUALIZANTE

Na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), a tendência atualizante é um dos conceitos centrais desenvolvidos por Carl Rogers.

Refere-se à capacidade inata dos seres humanos (e também de outros organismos vivos) de crescer, desenvolver-se e realizar seu potencial de forma plena.

Trata-se de uma força motivadora que impulsiona o indivíduo a buscar a autorrealização e a adaptar-se criativamente às circunstâncias da vida, sempre em direção ao desenvolvimento de suas potencialidades.

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DA TENDÊNCIA ATUALIZANTE:

Inerente e Universal:

Está presente em todos os seres humanos e representa uma predisposição biológica para o crescimento, a saúde e a maturidade. 

Direcionada ao Crescimento:

Essa tendência leva o indivíduo a buscar experiências e relações que promovam seu bem-estar, desenvolvimento pessoal e congruência (harmonia interna). 

Autocorreção e Adaptação:

A tendência atualizante é flexível, permitindo que o indivíduo aprenda com suas experiências e se adapte às mudanças em seu ambiente. 

Base na Experiência:

Para Rogers, o crescimento humano ocorre por meio da vivência direta, e a tendência atualizante é expressa nas escolhas e comportamentos baseados nessas experiências. 

RELAÇÃO COM A PSICOTERAPIA

Na terapia centrada na pessoa, a tendência atualizante é vista como a força motriz por trás do progresso terapêutico.

Quando o cliente encontra um ambiente terapêutico seguro, onde são garantidas as três condições centrais (empatia, congruência e aceitação positiva incondicional), a tendência atualizante é ativada. Isso permite que o cliente explore e resolva conflitos internos, promova mudanças e caminhe em direção à sua autorrealização. 

Exemplos práticos:

Uma pessoa que enfrenta dificuldades emocionais pode, com o suporte adequado, encontrar recursos internos para lidar com os desafios e se fortalecer emocionalmente.

Crianças que crescem em um ambiente de aceitação e apoio tendem a desenvolver-se de forma saudável e explorar seu potencial de maneira criativa e confiante. 

Em resumo, a tendência atualizante é a base para a crença de que as pessoas possuem uma capacidade inerente para encontrar soluções para seus problemas e viver de forma mais autêntica e plena, desde que sejam oferecidas as condições adequadas para esse processo.

EU E AUTOIMAGEM

Na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), desenvolvida por Carl Rogers, o conceito de Eu e Autoimagem é essencial para entender como o indivíduo percebe a si mesmo e como isso afeta sua vida emocional, comportamental e relacional. Esses conceitos estão profundamente conectados à forma como a pessoa se organiza e busca seu crescimento pessoal. 

O EU

O Eu (ou self) refere-se à percepção que o indivíduo tem de si mesmo em um determinado momento. É a totalidade das experiências, crenças, valores e sentimentos que uma pessoa associa a si mesma. 

Segundo Rogers, o Eu é dinâmico e está em constante transformação à medida que o indivíduo vive novas experiências e processa suas vivências. 

CARACTERÍSTICAS DO EU:

Consciência e percepção:

O Eu é formado a partir da consciência que o indivíduo tem de suas próprias experiências e de como ele se percebe no mundo. 

Organização:

O Eu organiza as experiências em um sistema que ajuda a pessoa a dar sentido à sua realidade interna e externa. 

Dinamicidade:

O Eu está em constante processo de mudança, adaptando-se às novas experiências e interações.

AUTOIMAGEM

A autoimagem é uma parte específica do Eu e refere-se à forma como o indivíduo se enxerga. 

É a visão que a pessoa tem de si mesma, com base em suas experiências passadas, crenças e feedback do ambiente social. 

A autoimagem pode ser positiva ou negativa e influencia diretamente o comportamento e a autoestima do indivíduo. 

COMPONENTES DA AUTOIMAGEM:

Imagem ideal:

A ideia de como a pessoa gostaria de ser frequentemente influenciada por valores sociais, culturais e expectativas externas.

Imagem percebida:

A forma como a pessoa realmente se vê no momento, incluindo aspectos físicos, emocionais e comportamentais.

Congruência e incongruência:

A congruência ocorre quando a autoimagem (como a pessoa se percebe) está alinhada com as experiências reais. 

Já a incongruência acontece quando há um descompasso entre o que a pessoa acredita ser e suas experiências reais, o que pode gerar conflitos internos e sofrimento emocional. 

RELAÇÃO ENTRE O EU, A AUTOIMAGEM E A TENDÊNCIA ATUALIZANTE

A congruência entre o Eu, a autoimagem e as experiências vividas é fundamental para que a tendência atualizante (a capacidade natural de crescimento e autorrealização) opere plenamente.

Quando a pessoa vive de forma autêntica e alinhada com seu Eu, ela consegue explorar seu potencial e lidar com os desafios de maneira mais saudável.

Exemplos práticos:

Uma pessoa com autoimagem positiva, que se percebe como capaz e valiosa, tende a enfrentar os desafios da vida com maior resiliência e confiança.

Já uma pessoa cuja autoimagem é negativa ou incongruente com suas experiências reais pode experimentar sentimentos de inadequação, baixa autoestima e dificuldade em tomar decisões.

A IMPORTÂNCIA NA TERAPIA

Na terapia centrada na pessoa, o objetivo é ajudar o cliente a alcançar congruência entre o Eu, a autoimagem e suas experiências. 

Isso é promovido por meio de um ambiente terapêutico onde o cliente se sinta seguro para explorar seus sentimentos e reconstruir sua autoimagem de forma mais alinhada com sua realidade e valores pessoais.

O Eu é a totalidade da percepção de si mesmo, enquanto a autoimagem é a forma como a pessoa se vê e se descreve. Trabalhar esses conceitos na ACP ajuda o cliente a viver de forma mais autêntica e congruente, promovendo bem-estar e autorrealização. 

VALIDAÇÃO E A CONSIDERAÇÃO POSITIVA

Na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), os conceitos de validação e consideração positiva são fundamentais para criar um ambiente terapêutico que favoreça o crescimento pessoal, a autorrealização e a congruência do cliente. Esses princípios refletem o compromisso do terapeuta em oferecer um espaço acolhedor, sem julgamentos, para que o cliente possa explorar suas experiências com segurança emocional. 

VALIDAÇÃO

A validação na ACP é a atitude do terapeuta de reconhecer e legitimar as experiências subjetivas do cliente, independentemente de concordar ou não com elas. 

Trata-se de uma escuta empática profunda, onde o terapeuta comunica ao cliente que suas emoções, pensamentos e vivências fazem sentido no contexto da sua experiência. 

CARACTERÍSTICAS DA VALIDAÇÃO:

Reconhecimento:

O terapeuta reconhece as emoções e percepções do cliente como legítimas e válidas, sem tentar negá-las ou minimizá-las. 

Empatia:

A validação está intimamente ligada à capacidade do terapeuta de compreender profundamente o mundo interno do cliente e expressar essa compreensão de forma sensível. 

Redução do julgamento:

A validação implica aceitar o que o cliente traz, sem impor julgamentos, críticas ou interpretações.

Importância na terapia:

Promove um ambiente de segurança psicológica para que o cliente explore suas experiências mais profundas. 

Ajuda o cliente a se sentir compreendido e respeitado, fortalecendo a relação terapêutica. 

Reduz a resistência terapêutica, permitindo que o cliente se conecte mais plenamente com suas emoções. 

Exemplo prático:

Se um cliente relata sentir-se inadequado após uma crítica no trabalho, o terapeuta pode validar dizendo: "Entendo como isso pode ser difícil para você. Parece que essa crítica tocou em algo muito importante para você, algo que você valoriza."

CONSIDERAÇÃO POSITIVA

A consideração positiva é a atitude do terapeuta de oferecer aceitação e respeito incondicional ao cliente, independentemente de suas escolhas, comportamentos ou sentimentos. Esse conceito é um dos pilares da ACP e reflete a crença de Carl Rogers de que todos os seres humanos têm valor intrínseco. 

TIPOS DE CONSIDERAÇÃO POSITIVA:

Consideração Positiva Condicional:

Ocorre quando a aceitação e o respeito são oferecidos apenas quando o cliente age ou pensa de acordo com certas expectativas. 

Na ACP, esse tipo de abordagem é evitado, pois pode prejudicar o crescimento pessoal. 

Consideração Positiva Incondicional:

É o núcleo da ACP e significa aceitar o cliente sem condições ou julgamentos. 

O terapeuta respeita o valor do cliente como pessoa, mesmo que não concorde com seus comportamentos ou escolhas. 

CARACTERÍSTICAS DA CONSIDERAÇÃO POSITIVA INCONDICIONAL:

Aceitação total:

O terapeuta aceita o cliente como ele é, sem tentar moldá-lo ou mudá-lo. 

Respeito ao potencial do cliente:

A consideração positiva incondicional reflete a crença de que o cliente tem capacidade de crescimento e mudança. 

Ausência de julgamento:

O terapeuta mantém uma atitude de neutralidade e acolhimento, independentemente do que o cliente revele.

Importância na terapia:

Cria um espaço seguro para que o cliente explore seus sentimentos e experiências sem medo de rejeição. 

Permite que o cliente experimente uma relação baseada na aceitação plena, o que pode ser transformador para aqueles que enfrentaram julgamentos ou rejeições em outros contextos.

Facilita a autorrealização ao reduzir o medo de ser inadequado ou inaceitável.

Exemplo prático:

Se um cliente compartilha uma experiência difícil, como ter mentido para um ente querido, o terapeuta pode expressar consideração positiva incondicional dizendo: "Eu aceito que isso faz parte da sua experiência, e estou aqui para explorarmos juntos o que isso significa para você, sem julgamentos."

A RELAÇÃO ENTRE VALIDAÇÃO E CONSIDERAÇÃO POSITIVA

Validação está focada em legitimar as experiências do cliente, enquanto a consideração positiva está relacionada a aceitar o cliente como um todo, independentemente de suas ações ou sentimentos.

Ambos trabalham juntos para criar um ambiente terapêutico acolhedor, onde o cliente se sente respeitado, valorizado e compreendido.

Esses conceitos ajudam a promover a congruência no cliente, incentivando-o a integrar suas experiências e a viver de forma mais autêntica. 

Na Abordagem Centrada na Pessoa, a validação legitima e acolhe as experiências subjetivas do cliente, enquanto a consideração positiva oferece aceitação incondicional. Esses dois conceitos são essenciais para construir uma relação terapêutica baseada em confiança, empatia e respeito, elementos fundamentais para o crescimento pessoal e a autorrealização. 

CONCLUSÃO

A Abordagem Centrada na Pessoa oferece uma perspectiva inovadora e humanista para a compreensão do desenvolvimento humano e do processo terapêutico. 

Ao enfatizar a tendência atualizante como força motriz do crescimento pessoal e ao destacar a importância da congruência entre o eu e a autoimagem, a ACP reforça a crença na capacidade do indivíduo de encontrar soluções e evoluir em direção à autorrealização. 

Além disso, a validação e a consideração positiva incondicional criam um espaço seguro e acolhedor, essencial para o progresso terapêutico. 

Dessa forma, a ACP não apenas revoluciona a prática clínica, mas também promove uma visão mais otimista e respeitosa do ser humano, incentivando relações interpessoais mais autênticas e significativas. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ROGERS, Carl. Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

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KEGAN, Robert. A Arte de Ser Cliente. São Paulo: Cultrix, 2011.

PEREIRA, Cláudia. Humanismo e Psicoterapia. Lisboa: Climepsi, 2015.

BOCK, Ana M. B.; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes T. Psicologias: Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2019 

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