quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

PSICOSE COLETIVA: CONCEITO, DEFINIÇÃO, ORIGEM E CONSEQUÊNCIAS


 INTRODUÇÃO

A psicose coletiva é um fenômeno social que ocorre em momentos de tensão, medo ou crise, quando um grande número de pessoas passa a compartilhar crenças irracionais e comportamentos disfuncionais.

Compreender as dinâmicas da psicose coletiva é essencial para identificar seus gatilhos e mitigar seus impactos na sociedade, pois esse fenômeno pode ter consequências graves, como a propagação de histerias em massa, pânicos sociais e adesão irrestrita a ideologias ou práticas perigosas.

CONCEITO E DEFINIÇÃO

A psicose coletiva é definida como um estado de desordem psicológica que afeta simultaneamente um grupo de indivíduos, levando-os a agir ou acreditar de forma irracional.

Ao contrário da psicose individual, que está ligada à saúde mental de uma pessoa, a psicose coletiva emerge de interações sociais intensas, alimentadas por medos compartilhados, informações manipuladas e pressões externas.

Esse fenômeno pode ser desencadeado por:

ü  Eventos Traumáticos:

Catástrofes naturais, pandemias ou atentados terroristas.

ü  Manipulação Midiática:

Propaganda e desinformação que exploram vulnerabilidades emocionais.

 ü  Contextos de Instabilidade:

Crises econômicas, instabilidade política ou guerras. 

ORIGEM DO TERMO E PRINCIPAIS TEÓRICOS

Embora o termo "psicose coletiva" não tenha um criador único, sua exploração acadêmica remonta a teóricos como Gustave Le Bon (Gustave Lê Bon) e Sigmund Freud (Sigmunde Froide). 

Le Bom (Lê Bon), em seu livro "A Psicologia das Multidões", descreve como os indivíduos em um grupo perdem suas inibições e tornam-se vulneráveis à influência de líderes carismáticos e emoções exacerbadas. 

Freud, por sua vez, em "Psicologia de Grupo e Análise do Ego", analisa como as relações interpessoais em grupos podem gerar submissão a lideranças e perda de autonomia. 

Outros estudiosos também contribuíram para a compreensão do tema:

Hannah Arendt (Hana Arent):

Em "Origens do Totalitarismo", discutiu como regimes totalitários manipulam massas através do medo e da propaganda. 

Philip Zimbardo (Fílip Zimbardo):

Investigou como situações de grupo podem transformar indivíduos comuns em agentes de comportamentos extremos, como no experimento da prisão de Stanford. 

Serge Moscovici (Sérji Moscovíci):

Destacou a formação de representações sociais e como ideias coletivas podem moldar a percepção de realidade. 

COMO ACONTECE NA SOCIEDADE

A psicose coletiva se manifesta quando fatores como medo, tensão social e propaganda convergem para criar uma atmosfera de irracionalidade coletiva. 

Alguns mecanismos centrais incluem:

Propaganda e Manipulação Midiática:

Informativos alarmistas ou desinformativos amplificam medos preexistentes. 

Exemplo: Durante a transmissão de "A Guerra dos Mundos" em 1938, muitos acreditaram que a Terra estava sendo invadida por alienígenas. 

Dinâmicas de Grupo:

A pressão para conformidade pode levar indivíduos a adotar crenças e comportamentos irracionais. 

Exemplo: O experimento de Asch (Ásh) sobre conformidade demonstrou como indivíduos podem dar respostas incorretas propositalmente apenas para acompanhar a maioria do grupo, mesmo sabendo que estão errados. 

Eventos Catalisadores:

Guerras, pandemias ou crises econômicas podem desencadear histeria em massa, como o pânico do Y2K, que levou pessoas a acumularem suprimentos por medo do colapso tecnológico. 

Explicando sobre o evento Y2K

O pânico do Y2K foi um fenômeno global que ocorreu no final dos anos 1990 e no começo do ano 2000.

Ele surgiu do medo de que sistemas de computadores em todo o mundo falhassem ao fazer a transição de datas de 1999 para 2000. Isso aconteceria porque muitos sistemas mais antigos usavam apenas dois dígitos para representar o ano, como "99", e poderiam interpretar "00" como 1900, causando erros catastróficos.

Governos, empresas e indivíduos investiram bilhões de dólares para corrigir o problema, enquanto notícias sensacionalistas alimentavam o medo de um colapso tecnológico global.

Pânicos sobre possíveis apagões, falhas em infraestruturas críticas e colapsos econômicos levaram muitas pessoas a estocar alimentos, água e outros suprimentos.

Apesar dos temores, a transição para o ano 2000 ocorreu sem grandes incidentes, evidenciando como a psicose coletiva pode amplificar medos sem fundamento sólido.

EXEMPLOS HISTÓRICOS

O Caso da Dança de 1518:

Em Estrasburgo, dezenas de pessoas dançaram compulsivamente até a exaustão e morte. A histeria foi atribuída a superstições e condições sociais da época. 

A Caça às Bruxas de Salem:

No século XVII, medo e superstição levaram a acusações em massa de bruxaria nos Estados Unidos. 

Pânico Financeiro de 1929:

A quebra da bolsa de valores de Nova York gerou um clima de desespero coletivo, resultando em suicídios em massa e colapso econômico global. 

Fake News e Redes Sociais:

No contexto atual, campanhas de desinformação são amplificadas por algoritmos, criando pânicos sobre vacinas, crises políticas e mudanças climáticas. 

IMPACTOS NA SOCIEDADE

A psicose coletiva pode causar danos graves, incluindo:

ü  Perda de Confiança nas Instituições:

Narrativas falsas podem enfraquecer governos e organizações. 

ü  Aumento da Violência:

Pânicos coletivos podem levar à perseguição de minorias ou à radicalização de movimentos. 

ü  Impactos Psicológicos:

O estresse coletivo pode desencadear distúrbios de ansiedade e depressão. 

CONCLUSÃO

A psicose coletiva é um fenômeno complexo, refletindo as vulnerabilidades humanas diante de crises e incertezas. 

Seu estudo nos permite entender como narrativas e lideranças moldam o comportamento de massas.

Em um mundo cada vez mais conectado, é fundamental promover educação crítica e transparência para reduzir os impactos da desinformação e da manipulação social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.     ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.


2.     FREUD, Sigmund. Psicologia de Grupo e Análise do Ego. Rio de Janeiro: Imago, 1997.


3.     LE BON, Gustave. A Psicologia das Multidões. São Paulo: Martin Claret, 2008.


4.     MOSCOVICI, Serge. A Representação Social da Psicanálise. Petrópolis: Vozes, 2012.


5.  ZIMBARDO, Philip. O Efeito Lúcifer: Entendendo Como Pessoas Boas se Tornam Más. Rio de Janeiro: Record, 2012.


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