quinta-feira, 6 de março de 2025

A ESCUTA ATIVA NA ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA (ACP)

 


INTRODUÇÃO

A escuta ativa é uma das práticas fundamentais na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), desenvolvida por Carl Rogers.

Trata-se de uma habilidade que vai além de simplesmente ouvir o cliente; envolve compreender profundamente seus sentimentos, pensamentos e experiências, demonstrando respeito, empatia e aceitação genuína.

É um processo que promove a criação de um ambiente seguro e acolhedor, onde o cliente se sente verdadeiramente ouvido e compreendido.

CONCEITO DE ESCUTA ATIVA

A escuta ativa é definida como a capacidade do terapeuta de se envolver de maneira plena e intencional no processo de escuta, buscando compreender o significado subjacente do que o cliente expressa, tanto verbal quanto não verbalmente. 

Na ACP, a escuta ativa é essencial para criar uma relação terapêutica de confiança e facilitar o crescimento do cliente. 

A escuta ativa é uma forma de comunicação que envolve ouvir com atenção e interesse, de modo a estabelecer um diálogo verdadeiro entre o psicoterapeuta e o cliente.

CARACTERÍSTICAS DA ESCUTA ATIVA NA ACP

Presença Plena:

O terapeuta está completamente presente no momento, concentrando-se exclusivamente no cliente.

Evita distrações externas e internas, como julgamentos ou planejamentos de respostas.

Empatia:

O terapeuta busca compreender o mundo interno do cliente, colocando-se em seu lugar e percebendo as experiências como ele as vivencia. 

A empatia não é apenas intelectual, mas emocional, conectando-se genuinamente aos sentimentos do cliente. 

Validação: 

A escuta ativa envolve validar as emoções e experiências do cliente, demonstrando que são legítimas e compreensíveis. 

Reflexão de Sentimentos:

O terapeuta reflete os sentimentos expressos pelo cliente, ajudando-o a reconhecer e compreender melhor suas próprias emoções.

Ausência de Julgamento:

O terapeuta ouve sem criticar, avaliar ou impor interpretações. Essa postura promove aceitação e encoraja o cliente a explorar livremente seus pensamentos e sentimentos.

Exploração do Não Verbal:

Além das palavras, o terapeuta presta atenção às expressões faciais, gestos, tom de voz e outras formas de comunicação não verbal para captar o que o cliente pode estar expressando de forma implícita. 

COMO A ESCUTA ATIVA SE MANIFESTA NA SESSÃO

Parafraseamento:

O terapeuta reformula o que o cliente disse, confirmando sua compreensão e permitindo que o cliente esclareça ou aprofunde seus pensamentos.

Exemplo: O cliente diz: "Sinto que não sou bom o suficiente." O terapeuta responde: "Parece que você está se sentindo inseguro sobre suas habilidades."

Reflexão de Sentimentos:

O terapeuta identifica e reflete os sentimentos subjacentes às palavras do cliente. 

Exemplo: O cliente diz: "Ninguém parece se importar comigo." O terapeuta responde: "Você está se sentindo sozinho e negligenciado." 

Silêncio Terapêutico:

Momentos de silêncio são utilizados para permitir que o cliente processe suas emoções e pensamentos. O terapeuta não interrompe ou preenche o silêncio desnecessariamente. 

Confirmações Verbais e Não Verbais:

Pequenas respostas verbais ("Entendo," "Sim," "Estou acompanhando") e sinais não verbais (nódulos de cabeça, contato visual) indicam ao cliente que o terapeuta está engajado.

 Perguntas Abertas:

O terapeuta faz perguntas que incentivam o cliente a explorar suas experiências mais profundamente.

 Exemplo: "Como você se sente em relação a isso?" ou "O que isso significa para você?"

 IMPORTÂNCIA DA ESCUTA ATIVA NA ACP

A escuta ativa é crucial para a eficácia da terapia na ACP, pois:

Fortalece a Relação Terapêutica:

Quando o cliente sente que está sendo genuinamente ouvido, a confiança no terapeuta aumenta, fortalecendo o vínculo terapêutico.

 Facilita o Autoconhecimento:

Ao refletir sentimentos e ajudar o cliente a explorar suas experiências, a escuta ativa promove maior compreensão e aceitação de si mesmo.

Reduz a Resistência:

A validação e a aceitação incondicional ajudam o cliente a se sentir menos defensivo e mais aberto ao processo terapêutico.

Promove a Congruência:

Ao ouvir e refletir de forma ativa, o terapeuta ajuda o cliente a integrar suas experiências internas, promovendo maior harmonia entre pensamentos, sentimentos e ações. 

EXEMPLO PRÁTICO DE ESCUTA ATIVA

Cliente: "Estou frustrado porque parece que nunca consigo alcançar o que quero." Estou sempre tentando, mas parece inútil."\

Terapeuta: "Você se sente frustrado porque percebe que seus esforços não estão levando você ao resultado que deseja." Parece que há um sentimento de impotência aí."\

Cliente: "Sim, exatamente. E isso me faz pensar se eu realmente sou capaz de algo."\

Terapeuta: "Essa frustração está fazendo você questionar suas próprias capacidades, o que aumenta ainda mais o peso desse sentimento."

BENEFÍCIOS DA ESCUTA ATIVA PARA O CLIENTE

Sentir-se Compreendido:

O cliente experimenta uma conexão emocional genuína, promovendo confiança e abertura. 

Exploração Emocional:

A escuta ativa encoraja o cliente a acessar e explorar sentimentos que talvez não fossem verbalizados sem esse apoio. 

Validação de Experiências:

O cliente se sente aceito e respeitado, o que pode ser transformador, especialmente em situações onde suas emoções foram previamente desconsideradas. 

CONCLUSÃO

Na Abordagem Centrada na Pessoa, a escuta ativa é mais do que uma técnica: é uma postura terapêutica que reflete a essência do humanismo de Carl Rogers.

Ao ouvir com empatia, congruência e aceitação positiva incondicional, o terapeuta cria um espaço seguro para o cliente explorar sua experiência subjetiva, promovendo autoconhecimento, congruência e crescimento pessoal. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

ROGERS, Carl. Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

ROGERS, Carl. Um Jeito de Ser. São Paulo: Martins Fontes, 2013. 

ROGERS, Carl. Psicoterapia e Consulta Psicológica. Belo Horizonte: Edições Loyola, 2001. 

GENDLIN, Eugene T. Focusing: Um Processo de Autoconhecimento. São Paulo: Summus, 1986. 

BARRETO, Margareth. Psicologia Humanista: Abordagem Centrada na Pessoa. Campinas: Papirus, 1999. 

SOUZA, Anália A. Terapia Centrada no Cliente. Petrópolis: Vozes, 2007. 

KEGAN, Robert. A Arte de Ser Cliente. São Paulo: Cultrix, 2011. 

PEREIRA, Cláudia. Humanismo e Psicoterapia. Lisboa: Climepsi, 2015.

BOCK, Ana M. B.; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes T. Psicologias: Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2019. 

BUGENTAL, James F. T. Psicoterapia Humanista. São Paulo: Cultrix, 2010.

 

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