INTRODUÇÃO
O Plano de Segurança (Safety Plan) é uma ferramenta clínica estruturada, utilizada principalmente por profissionais da área de saúde mental, com o objetivo de ajudar pessoas em risco de suicídio a lidar com momentos de crise, reduzir a impulsividade e ampliar o senso de controle pessoal.
Ele consiste em um guia prático, individualizado e colaborativo, elaborado junto ao paciente, para que este tenha estratégias concretas a recorrer quando experimentar pensamentos autodestrutivos.
Diferente de um contrato de não suicídio (que se mostrou pouco eficaz), o Plano de Segurança é proativo, centrado em recursos internos e externos, favorecendo a autonomia e o cuidado imediato.
ESTRUTURA DO PLANO DE SEGURANÇA
Embora possa ser adaptado conforme cada caso, a versão mais difundida segue os passos propostos por Stanley e Brown (2008):
1. Identificação de sinais de alerta.
o Reconhecimento de pensamentos, sentimentos, situações ou comportamentos que indicam o início de uma crise.
o Ex.: insônia repentina, isolamento, pensamentos recorrentes de morte.
2. Estratégias internas de enfrentamento.
o Atividades que a própria pessoa pode realizar para reduzir a angústia sem precisar de contato imediato com outros.
o Ex.: exercícios de respiração, escrever, ouvir música, oração, caminhar.
3. Rede de apoio interpessoal.
o Pessoas significativas que o paciente pode contatar para conversar ou buscar apoio em momentos difíceis.
o Ex.: familiares, amigos, líderes espirituais.
4. Contatos profissionais e serviços de emergência.
o Telefones de psicólogos, psiquiatras, CAPS, hospitais e linhas de apoio (no Brasil, como o CVV – 188).
5. Meios letais e ambiente seguro
o Identificação e restrição de acesso a instrumentos que poderiam ser usados em uma tentativa (como armas, medicamentos ou locais de risco).
IMPORTÂNCIA CLÍNICA
Reduz risco imediato: auxilia o paciente a agir antes que a crise se torne incontrolável.
Promove autonomia: coloca a pessoa como protagonista do processo, fortalecendo sua responsabilidade pelo autocuidado.
Facilita vínculo terapêutico: a construção colaborativa aumenta a confiança entre paciente e profissional.
Instrumento dinâmico: deve ser revisado e atualizado conforme evolução clínica e mudanças no contexto de vida.
COMPROVAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO USO DO PLANO DE SEGURANÇA NA PREVENÇÃO DO SUICÍDIO
Sobre a eficiência, em termos percentuais, do uso do Plano de Segurança na prevenção do suicídio.
O que a literatura científica atual revela, de forma clara e embasada, não são números isolados para essa intervenção específica, mas resultados robustos que demonstram sua eficácia no reduzir comportamentos suicidas.
Vejamos os achados mais relevantes:
EVIDÊNCIAS SOBRE INTERVENÇÃO COM VETERANOS
A intervenção Stanley–Brown, amplamente utilizada, mostrou resultados significativos em uma amostra de 1.640 pacientes em hospitais do sistema de Veteranos dos EUA. Houve uma redução de 45% nos comportamentos suicidas após o uso do Plano de Segurança.
EVIDÊNCIAS SOBRE REDUZIR COMPORTAMENTOS SUICIDAS
Uma meta-análise conduzida por Nuij et al. (2021) incluiu seis estudos envolvendo um total de 3.536 participantes.
O risco relativo de comportamentos suicidas após a aplicação de intervenções do tipo "safety planning" foi reduzido para 0,570 (95 % CI: 0,408–0,795), o que corresponde a uma redução de cerca de 43 % no risco de comportamento suicida, em comparação com grupos controle.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES
Essas evidências são consistentes quanto à eficácia na prevenção de tentativas ou comportamentos suicidas, mas não demonstram eficácia significativa na redução da ideação suicida (pensamentos suicidas), conforme a meta-análise de Nuij et al.
A qualidade das intervenções varia, com diferentes formas de aplicação — presencial, eletrônica, como parte de programas mais amplos, o que também pode afetar os resultados.
AS CONCLUSÕES EM TERMOS PERCENTUAIS
Redução de cerca de 43% dos comportamentos suicidas em meta-análise de intervenções “safety planning” como estratégia isolada.
Redução de 45% nos comportamentos suicidas em contexto clínico com o Plano de Segurança Stanley–Brown, aplicado em hospitais de veteranos.
Este percentual expressivo (entre 40% e 45%) ressalta a importância clínica do Plano de Segurança como uma ferramenta eficaz e comprovada para mitigar comportamentos suicidas.
No entanto, para lidar com a ideação suicida, é recomendável integrá-la a outras abordagens terapêuticas que possam atuar mais eficazmente nesse domínio.
CONSIDERAÇÕES ÉTICAS E HUMANIZADAS
O Plano de Segurança deve ser construído em linguagem clara, prática e acolhedora, respeitando a singularidade do paciente. Não é um documento burocrático, mas um recurso vivo que dá esperança e sentido em momentos de desespero.
O profissional precisa manter postura empática, validando o sofrimento e transmitindo que a crise é transitória e que ajuda está disponível.
CONCLUSÃO
O Plano de Segurança na prevenção do suicídio constitui-se como um recurso clínico essencial para profissionais da psicologia e da psiquiatria, pois oferece um instrumento estruturado, prático e individualizado de enfrentamento em situações de crise.
Ao contrário de medidas meramente preventivas ou restritivas, ele atua de forma proativa, estimulando no paciente o reconhecimento de seus sinais de alerta, a utilização de estratégias internas de regulação emocional e o fortalecimento de uma rede de apoio interpessoal e profissional.
Sua eficácia reside no caráter colaborativo e humanizado, pois o plano não é imposto, mas construído junto ao paciente, respeitando sua história de vida, seus valores e suas particularidades em cada etapa do desenvolvimento humano, ou seja no adolescente, no jovem, no adulto ou no idoso.
Além disso, ao contemplar tanto ações imediatas quanto a restrição de meios letais, o Plano de Segurança cumpre um papel vital no cuidado integral, reduzindo a impulsividade suicida e oferecendo caminhos de esperança.
Assim, mais do que uma técnica, o Plano de Segurança deve ser compreendido como uma aliança terapêutica: um lembrete de que o sofrimento, ainda que intenso, é transitório, e que sempre há alternativas possíveis.
Dessa forma, ele não apenas salva vidas, mas também reafirma o valor do ser humano e sua capacidade de reconstrução diante da dor.
REFERÊNCIAS
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Prevenção do suicídio: manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental. Brasília: Ministério da Saúde, 2018.
2. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Prevenção do suicídio: um manual para profissionais da saúde em atenção primária. Genebra: OMS, 2000.
3. STANLEY, Barbara; BROWN, Gregory K. Safety Planning Intervention: A Brief Intervention to Mitigate Suicide Risk. Cognitive and Behavioral Practice, v. 19, n. 2, p. 256-264, 2012.
4. WERLANG, Blanca Susana Guevara; BOTTEGA, Neury José. Prevenção do Suicídio. Porto
Nenhum comentário:
Postar um comentário