domingo, 24 de agosto de 2025

PREVENÇÃO AO SUICÍDIO: O PLANO DE SEGURANÇA NA PREVENÇÃO


INTRODUÇÃO

Plano de Segurança (Safety Plan) é uma ferramenta clínica estruturada, utilizada principalmente por profissionais da área de saúde mental, com o objetivo de ajudar pessoas em risco de suicídio a lidar com momentos de crise, reduzir a impulsividade e ampliar o senso de controle pessoal.

Ele consiste em um guia prático, individualizado e colaborativo, elaborado junto ao paciente, para que este tenha estratégias concretas a recorrer quando experimentar pensamentos autodestrutivos.

Diferente de um contrato de não suicídio (que se mostrou pouco eficaz), o Plano de Segurança é proativo, centrado em recursos internos e externos, favorecendo a autonomia e o cuidado imediato.

ESTRUTURA DO PLANO DE SEGURANÇA

Embora possa ser adaptado conforme cada caso, a versão mais difundida segue os passos propostos por Stanley e Brown (2008):

1.     Identificação de sinais de alerta.

o   Reconhecimento de pensamentos, sentimentos, situações ou comportamentos que indicam o início de uma crise.

o   Ex.: insônia repentina, isolamento, pensamentos recorrentes de morte.

2.     Estratégias internas de enfrentamento.

o   Atividades que a própria pessoa pode realizar para reduzir a angústia sem precisar de contato imediato com outros.

o   Ex.: exercícios de respiração, escrever, ouvir música, oração, caminhar.

3.     Rede de apoio interpessoal.

o   Pessoas significativas que o paciente pode contatar para conversar ou buscar apoio em momentos difíceis.

o   Ex.: familiares, amigos, líderes espirituais.

4.     Contatos profissionais e serviços de emergência.

o   Telefones de psicólogos, psiquiatras, CAPS, hospitais e linhas de apoio (no Brasil, como o CVV – 188).

5.     Meios letais e ambiente seguro

o   Identificação e restrição de acesso a instrumentos que poderiam ser usados em uma tentativa (como armas, medicamentos ou locais de risco).

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Reduz risco imediato: auxilia o paciente a agir antes que a crise se torne incontrolável.

Promove autonomia: coloca a pessoa como protagonista do processo, fortalecendo sua responsabilidade pelo autocuidado.

Facilita vínculo terapêutico: a construção colaborativa aumenta a confiança entre paciente e profissional.

Instrumento dinâmico: deve ser revisado e atualizado conforme evolução clínica e mudanças no contexto de vida.

COMPROVAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO USO DO PLANO DE SEGURANÇA NA PREVENÇÃO DO SUICÍDIO

Sobre a eficiência, em termos percentuais, do uso do Plano de Segurança na prevenção do suicídio.

O que a literatura científica atual revela, de forma clara e embasada, não são números isolados para essa intervenção específica, mas resultados robustos que demonstram sua eficácia no reduzir comportamentos suicidas

Vejamos os achados mais relevantes: 

EVIDÊNCIAS SOBRE INTERVENÇÃO COM VETERANOS

intervenção Stanley–Brown, amplamente utilizada, mostrou resultados significativos em uma amostra de 1.640 pacientes em hospitais do sistema de Veteranos dos EUA. Houve uma redução de 45% nos comportamentos suicidas após o uso do Plano de Segurança. 

EVIDÊNCIAS SOBRE REDUZIR COMPORTAMENTOS SUICIDAS

Uma meta-análise conduzida por Nuij et al. (2021) incluiu seis estudos envolvendo um total de 3.536 participantes.

risco relativo de comportamentos suicidas após a aplicação de intervenções do tipo "safety planning" foi reduzido para 0,570 (95 % CI: 0,408–0,795), o que corresponde a uma redução de cerca de 43 % no risco de comportamento suicida, em comparação com grupos controle.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

Essas evidências são consistentes quanto à eficácia na prevenção de tentativas ou comportamentos suicidas, mas não demonstram eficácia significativa na redução da ideação suicida (pensamentos suicidas), conforme a meta-análise de Nuij et al. 

A qualidade das intervenções varia, com diferentes formas de aplicação — presencial, eletrônica, como parte de programas mais amplos, o que também pode afetar os resultados. 

AS CONCLUSÕES EM TERMOS PERCENTUAIS

Redução de cerca de 43% dos comportamentos suicidas em meta-análise de intervenções “safety planning” como estratégia isolada.

Redução de 45% nos comportamentos suicidas em contexto clínico com o Plano de Segurança Stanley–Brown, aplicado em hospitais de veteranos.

Este percentual expressivo (entre 40% e 45%) ressalta a importância clínica do Plano de Segurança como uma ferramenta eficaz e comprovada para mitigar comportamentos suicidas.

No entanto, para lidar com a ideação suicida, é recomendável integrá-la a outras abordagens terapêuticas que possam atuar mais eficazmente nesse domínio.

CONSIDERAÇÕES ÉTICAS E HUMANIZADAS

O Plano de Segurança deve ser construído em linguagem clara, prática e acolhedora, respeitando a singularidade do paciente. Não é um documento burocrático, mas um recurso vivo que dá esperança e sentido em momentos de desespero.

O profissional precisa manter postura empática, validando o sofrimento e transmitindo que a crise é transitória e que ajuda está disponível.

CONCLUSÃO

Plano de Segurança na prevenção do suicídio constitui-se como um recurso clínico essencial para profissionais da psicologia e da psiquiatria, pois oferece um instrumento estruturado, prático e individualizado de enfrentamento em situações de crise.

Ao contrário de medidas meramente preventivas ou restritivas, ele atua de forma proativa, estimulando no paciente o reconhecimento de seus sinais de alerta, a utilização de estratégias internas de regulação emocional e o fortalecimento de uma rede de apoio interpessoal e profissional.

Sua eficácia reside no caráter colaborativo e humanizado, pois o plano não é imposto, mas construído junto ao paciente, respeitando sua história de vida, seus valores e suas particularidades em cada etapa do desenvolvimento humano,  ou seja no adolescente, no jovem, no adulto ou no idoso.

Além disso, ao contemplar tanto ações imediatas quanto a restrição de meios letais, o Plano de Segurança cumpre um papel vital no cuidado integral, reduzindo a impulsividade suicida e oferecendo caminhos de esperança.

Assim, mais do que uma técnica, o Plano de Segurança deve ser compreendido como uma aliança terapêutica: um lembrete de que o sofrimento, ainda que intenso, é transitório, e que sempre há alternativas possíveis.

Dessa forma, ele não apenas salva vidas, mas também reafirma o valor do ser humano e sua capacidade de reconstrução diante da dor.

REFERÊNCIAS

1.      BRASIL. Ministério da Saúde. Prevenção do suicídio: manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental. Brasília: Ministério da Saúde, 2018.

2.      ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Prevenção do suicídio: um manual para profissionais da saúde em atenção primária. Genebra: OMS, 2000.

3.     STANLEY, Barbara; BROWN, Gregory K. Safety Planning Intervention: A Brief Intervention to Mitigate Suicide Risk. Cognitive and Behavioral Practice, v. 19, n. 2, p. 256-264, 2012.

4.    WERLANG, Blanca Susana Guevara; BOTTEGA, Neury José. Prevenção do Suicídio. Porto 





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