INTRODUÇÃO
A ansiedade é uma
resposta complexa do nosso corpo e cérebro a situações percebidas como
ameaçadoras ou estressantes. Esse fenômeno, ao mesmo tempo que é uma
experiência universal, pode se tornar debilitante quando desregulado.
Para compreender o
processo neurofisiológico da ansiedade, é essencial analisar o papel de quatro
componentes chave do cérebro: a amígdala, o Sistema Nervoso Simpático (SNS), a
ínsula e o córtex pré-frontal.
Entender o processo
neurofisiológico da ansiedade através destas quatro estruturas cerebrais
fornece insights valiosos sobre como a ansiedade se desenvolve, como ela afeta
nosso corpo e mente, e como podemos gerenciá-la efetivamente.
Este conhecimento é vital
tanto para profissionais de saúde mental quanto para indivíduos que buscam
compreender e lidar com a própria ansiedade.
AMIGDALAS
Localizada profundamente no cérebro, a
amígdala atua como um centro de processamento de emoções, especialmente medo e
ansiedade.
Ela é responsável por detectar ameaças e
acionar respostas emocionais e fisiológicas correspondentes.
A amígdala é uma pequena
estrutura no cérebro que tem um papel crucial em regular nossas emoções,
especialmente aquelas relacionadas à sobrevivência, como medo e prazer.
Imagine a amígdala como
um alarme ou um sistema de alerta do seu cérebro.
Quando você se depara com
algo que seu cérebro percebe como uma ameaça (como um cachorro bravo), a
amígdala é ativada. Ela ajuda a preparar o seu corpo para responder a essa
ameaça, seja fugindo, lutando ou se congelando no lugar. Esse processo é parte
do que chamamos de "resposta de luta ou fuga".
Além do medo, a amígdala
também está envolvida no processamento de outras emoções e em ajudar a
armazenar memórias emocionais.
Por exemplo, se você teve
uma experiência assustadora com um cachorro quando era criança, sua amígdala
ajuda a lembrar dessa emoção se você encontrar um cachorro novamente.
Portanto, a amígdala é
como um centro de controle emocional no seu cérebro, ajudando você a reagir
rapidamente a situações perigosas ou estressantes e a lembrar dessas
experiências para o futuro.
SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO
– SNC
Este sistema é parte do
sistema nervoso autônomo e desempenha um papel fundamental na resposta de
"luta ou fuga", preparando o corpo para a ação rápida em face do
perigo percebido.
Quando ativado, o SNS
aumenta a frequência cardíaca, a pressão arterial e libera hormônios do
estresse, como adrenalina e cortisol.
O Sistema Nervoso
Simpático (SNS) é uma parte do sistema nervoso autônomo do nosso corpo, que
cuida das funções automáticas, como a batida do coração e a respiração.
Pense nele como o sistema
que coloca seu corpo em "modo de ação" quando você precisa reagir
rapidamente a alguma coisa.
Imagine que você está
caminhando e de repente vê algo assustador, como um cachorro correndo em sua
direção. Nesse momento, o SNS entra em ação. Ele faz seu coração bater mais
rápido, aumenta sua respiração, faz suas pupilas dilatarem e prepara seus músculos
para responder - seja correndo, lutando ou se protegendo. Essa é a famosa
"resposta de luta ou fuga".
O SNS é como um
acelerador no carro.
Quando você precisa de
energia e ação rápida, ele 'acelera' o corpo. Ele é responsável por preparar o
corpo para a ação rápida e intensa, ajudando você a lidar com situações de
estresse ou perigo.
É aqui que a pessoa com
ajuda do psicoterapeuta deve agir, usando métodos, técnicas e ferramentas para
desacelerar a ativação do SNS.
Quando o Sistema Nervosos
Simpático predomina sobre o Sistema Nervosos Parassimpático acontece um
desequilíbrio, causando alguns transtornos como Ansiedade, Ataque de Pânico ou
Síndrome do Pânico.
ÍNSULA
Uma estrutura complexa
envolvida no processamento de emoções, a ínsula ajuda a regular a resposta do
corpo ao estresse e a ansiedade. Ela está envolvida na consciência
interoceptiva, o que significa que ela ajuda na percepção das sensações
internas do corpo, um aspecto crucial na experiência da ansiedade.
A ínsula é uma parte do
cérebro localizada bem fundo nas dobras laterais do cérebro, escondida sob as
regiões conhecidas como lobos frontais e temporais.
Embora seja pequena, a
ínsula tem um papel muito importante.
Imagine a ínsula como um
centro de controle que ajuda a gerenciar várias funções do seu corpo e suas
emoções.
Aqui estão algumas de
suas principais funções:
Processamento de Emoções:
A ínsula ajuda você a
entender e sentir emoções. Ela é especialmente importante para emoções
complexas, como a empatia (a capacidade de entender os sentimentos dos outros)
e a compaixão.
Percepção Corporal:
Ela ajuda no que chamamos
de "consciência interoceptiva", que é a percepção das sensações
internas do seu corpo. Isso inclui coisas como sentir seu coração batendo,
reconhecer quando você está com fome ou com sede, ou sentir dor.
Tomada de Decisão:
A ínsula também está
envolvida no processo de tomar decisões, especialmente aquelas que envolvem
riscos e incertezas.
Consciência Social:
Ela ajuda no entendimento
das normas sociais e na regulação da forma como você interage socialmente.
Portanto, a ínsula é como
um centro multifuncional no seu cérebro que desempenha um papel vital no
processamento das suas emoções, na percepção do seu corpo e na forma como você
toma decisões e interage com os outros.
CÓRTEX PRÉ-FRONTAL
Córtex Pré-frontal: Este
é o centro de controle executivo do cérebro, desempenhando um papel crucial na
regulação das respostas emocionais e na modulação do medo.
O córtex pré-frontal
ajuda a avaliar as ameaças percebidas e a determinar respostas apropriadas,
podendo inibir ou moderar a atividade da amígdala.
O córtex pré-frontal é
uma região do cérebro localizada bem na frente, logo atrás da testa. Ele é como
o "diretor executivo" do cérebro, responsável por muitas das funções
que nos tornam humanos e nos permitem pensar, planejar e agir de forma complexa.
Aqui estão algumas das
principais funções do córtex pré-frontal:
Tomada de Decisões:
Ele ajuda você a tomar
decisões, ponderando diferentes opções e consequências.
Controle de Impulsos:
O córtex pré-frontal
ajuda a controlar impulsos, o que significa que ele impede você de agir de
maneira precipitada e ajuda a pensar antes de agir.
Planejamento e
Organização:
Ele é crucial para
planejar o futuro, organizar suas atividades e estabelecer metas.
Resolução de Problemas:
Esta área do cérebro
ajuda a resolver problemas complexos e a pensar de forma criativa.
Regulação Emocional:
O córtex pré-frontal
também tem um papel importante na maneira como você controla e entende suas
emoções.
Memória de Trabalho:
Ele está envolvido na
memória de curto prazo e na capacidade de manter e manipular informações na
mente.
Consciência Social:
Ajuda na compreensão das
normas sociais e na adaptação do comportamento em diferentes contextos sociais.
Em resumo, o córtex
pré-frontal é uma parte vital do cérebro que nos permite ter um pensamento
complexo, controlar nossas ações e emoções, e interagir com o mundo de uma
maneira sofisticada.
O Córtex pré-frontal é
essencial para as funções que consideramos ser aspectos fundamentais da
inteligência e do comportamento humano.
COMO ESTIMULAR O SNS A
PROMOVER UM ESTADO DE CALMA E RELAXAMENTO
Estimular o Sistema
Nervoso Parassimpático, que é responsável por promover um estado de calma e
relaxamento.
Aqui estão algumas
técnicas para isso:
Respiração Profunda:
Praticar respiração
profunda e controlada pode ajudar a ativar o Sistema Nervoso Parassimpático.
Experimente a técnica de
respiração 4-7-8: inspire contando até 4, segure a respiração por 7 segundos e
expire lentamente contando até 8.
Meditação e Mindfulness:
A prática regular de
meditação ou mindfulness pode reduzir o estresse e promover uma sensação de
calma, ajudando a ativar o Sistema Nervoso Parassimpático.
Exercício Físico Leve:
Embora o exercício
intenso possa estimular o SNS, atividades leves como caminhada, yoga ou
alongamento podem promover relaxamento e ativar a resposta parassimpática.
Técnicas de Relaxamento
Muscular Progressivo:
Consiste em tensionar e
relaxar diferentes grupos musculares do corpo, o que pode ajudar a reduzir a
tensão física e mental.
Exposição à Natureza:
Passar tempo ao ar livre,
especialmente em ambientes naturais tranquilos, pode diminuir o estresse e
promover o relaxamento.
Música Relaxante:
Ouvir música calma ou
sons da natureza pode ajudar a acalmar a mente e o corpo.
Técnicas de Visualização:
Imaginar-se em um lugar
calmo e sereno pode ajudar a reduzir a ansiedade e promover a calma.
Práticas de Atenção Plena
(Mindfulness):
Focar no momento presente
e aceitar pensamentos e sensações sem julgamento pode ajudar a reduzir a
ansiedade.
Lembre-se de que é
importante encontrar técnicas que funcionem para você, pois diferentes pessoas
podem responder de maneira diferente a cada abordagem.
Se a ansiedade for severa
ou debilitante, é aconselhável procurar o conselho de um profissional de saúde
mental.
SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO
E O SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO O PAPEL DE CADA UM DELES NA ANSIEDADE
O sistema nervoso
simpático e o sistema nervoso parassimpático são dois componentes do sistema
nervoso autônomo, que regulam as funções involuntárias do corpo. Eles atuam de
maneira complementar, muitas vezes em oposição, para manter a homeostase
(equilíbrio interno) do corpo. Vamos explorar suas diferenças e papéis na
ansiedade:
SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO
Função Principal:
Prepara o corpo para
ações rápidas e de resposta ao estresse, frequentemente descrito como a
resposta de "lutar ou fugir".
Ações
Típicas:
ü Aumenta a
frequência cardíaca e a pressão arterial.
ü Dilata as pupilas.
ü Inibe a digestão.
ü Libera adrenalina
e noradrenalina.
ü Aumenta o fluxo
sanguíneo para os músculos.
Papel na Ansiedade:
O sistema simpático é
hiperativado em estados de ansiedade, levando a sintomas como taquicardia,
sudorese, tremores, e aumento da vigilância.
Esta ativação prepara o
corpo para enfrentar uma ameaça percebida, mesmo que tal ameaça não seja real
ou imediata.
SISTEMA NERVOSO
PARASSIMPÁTICO
Função
Principal:
Promove atividades de "descanso e digestão", ajudando o corpo a se recuperar e manter funções de longo prazo.
Ações
Típicas:
ü Diminui a
frequência cardíaca e a pressão arterial.
ü Estimula a
digestão e a absorção de nutrientes.
ü Contração da
pupila.
ü Promove a economia de energia e processos regenerativos.
Papel
na Ansiedade:
O sistema parassimpático ajuda a mitigar a resposta ao estresse e a restaurar a calma.
Em estados de ansiedade crônica ou distúrbios de ansiedade, pode haver um desequilíbrio entre os sistemas simpático e parassimpático, com uma predominância do simpático.
Equilíbrio
e Ansiedade
Equilíbrio
Ideal:
Em condições normais, os dois sistemas trabalham juntos para manter o corpo em um estado de equilíbrio dinâmico.
Ansiedade:
Durante a ansiedade, esse equilíbrio pode ser perturbado, com uma dominância do sistema simpático, causando os sintomas físicos associados à ansiedade.
Tratamentos
e Técnicas:
Técnicas de relaxamento, como a respiração profunda, meditação e exercícios físicos, podem ajudar a reequilibrar esses sistemas, diminuindo os sintomas de ansiedade.
Entender
como esses sistemas interagem é crucial para compreender a resposta do corpo à
ansiedade e para desenvolver estratégias eficazes de manejo.
CONCLUSÃO
A
compreensão da neurofisiologia da ansiedade nos oferece uma chave preciosa para
a articulação entre corpo e mente, emoção e razão.
O
estudo das estruturas cerebrais envolvidas — como a amígdala, a ínsula, o
sistema nervoso autônomo (simpático e parassimpático) e o córtex pré-frontal —
permite compreender não apenas a origem das respostas ansiosas, mas também os
caminhos terapêuticos possíveis.
A
ansiedade, quando desregulada, emerge como expressão de um desequilíbrio
neurofisiológico, mas também carrega aspectos psíquicos e simbólicos que não
podem ser ignorados.
Portanto,
a integração entre conhecimentos da neurociência, da psicologia clínica e das
práticas terapêuticas baseadas em evidências é essencial para oferecer
intervenções eficazes e humanizadas.
Estimular
o sistema parassimpático por meio de técnicas psicocorporais e fortalecer as
funções reguladoras do córtex pré-frontal não é apenas uma estratégia
terapêutica, mas também um resgate da autonomia subjetiva diante do sofrimento
mental.
O
cuidado com a saúde mental, à luz do saber neurocientífico, deve manter sempre
uma escuta sensível e ética da experiência humana.
REFERÊNCIAS
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