domingo, 24 de agosto de 2025

PREVENÇÃO AO SUICÍDIO: O PLANO DE SEGURANÇA NA PREVENÇÃO


INTRODUÇÃO

Plano de Segurança (Safety Plan) é uma ferramenta clínica estruturada, utilizada principalmente por profissionais da área de saúde mental, com o objetivo de ajudar pessoas em risco de suicídio a lidar com momentos de crise, reduzir a impulsividade e ampliar o senso de controle pessoal.

Ele consiste em um guia prático, individualizado e colaborativo, elaborado junto ao paciente, para que este tenha estratégias concretas a recorrer quando experimentar pensamentos autodestrutivos.

Diferente de um contrato de não suicídio (que se mostrou pouco eficaz), o Plano de Segurança é proativo, centrado em recursos internos e externos, favorecendo a autonomia e o cuidado imediato.

ESTRUTURA DO PLANO DE SEGURANÇA

Embora possa ser adaptado conforme cada caso, a versão mais difundida segue os passos propostos por Stanley e Brown (2008):

1.     Identificação de sinais de alerta.

o   Reconhecimento de pensamentos, sentimentos, situações ou comportamentos que indicam o início de uma crise.

o   Ex.: insônia repentina, isolamento, pensamentos recorrentes de morte.

2.     Estratégias internas de enfrentamento.

o   Atividades que a própria pessoa pode realizar para reduzir a angústia sem precisar de contato imediato com outros.

o   Ex.: exercícios de respiração, escrever, ouvir música, oração, caminhar.

3.     Rede de apoio interpessoal.

o   Pessoas significativas que o paciente pode contatar para conversar ou buscar apoio em momentos difíceis.

o   Ex.: familiares, amigos, líderes espirituais.

4.     Contatos profissionais e serviços de emergência.

o   Telefones de psicólogos, psiquiatras, CAPS, hospitais e linhas de apoio (no Brasil, como o CVV – 188).

5.     Meios letais e ambiente seguro

o   Identificação e restrição de acesso a instrumentos que poderiam ser usados em uma tentativa (como armas, medicamentos ou locais de risco).

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Reduz risco imediato: auxilia o paciente a agir antes que a crise se torne incontrolável.

Promove autonomia: coloca a pessoa como protagonista do processo, fortalecendo sua responsabilidade pelo autocuidado.

Facilita vínculo terapêutico: a construção colaborativa aumenta a confiança entre paciente e profissional.

Instrumento dinâmico: deve ser revisado e atualizado conforme evolução clínica e mudanças no contexto de vida.

COMPROVAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO USO DO PLANO DE SEGURANÇA NA PREVENÇÃO DO SUICÍDIO

Sobre a eficiência, em termos percentuais, do uso do Plano de Segurança na prevenção do suicídio.

O que a literatura científica atual revela, de forma clara e embasada, não são números isolados para essa intervenção específica, mas resultados robustos que demonstram sua eficácia no reduzir comportamentos suicidas

Vejamos os achados mais relevantes: 

EVIDÊNCIAS SOBRE INTERVENÇÃO COM VETERANOS

intervenção Stanley–Brown, amplamente utilizada, mostrou resultados significativos em uma amostra de 1.640 pacientes em hospitais do sistema de Veteranos dos EUA. Houve uma redução de 45% nos comportamentos suicidas após o uso do Plano de Segurança. 

EVIDÊNCIAS SOBRE REDUZIR COMPORTAMENTOS SUICIDAS

Uma meta-análise conduzida por Nuij et al. (2021) incluiu seis estudos envolvendo um total de 3.536 participantes.

risco relativo de comportamentos suicidas após a aplicação de intervenções do tipo "safety planning" foi reduzido para 0,570 (95 % CI: 0,408–0,795), o que corresponde a uma redução de cerca de 43 % no risco de comportamento suicida, em comparação com grupos controle.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

Essas evidências são consistentes quanto à eficácia na prevenção de tentativas ou comportamentos suicidas, mas não demonstram eficácia significativa na redução da ideação suicida (pensamentos suicidas), conforme a meta-análise de Nuij et al. 

A qualidade das intervenções varia, com diferentes formas de aplicação — presencial, eletrônica, como parte de programas mais amplos, o que também pode afetar os resultados. 

AS CONCLUSÕES EM TERMOS PERCENTUAIS

Redução de cerca de 43% dos comportamentos suicidas em meta-análise de intervenções “safety planning” como estratégia isolada.

Redução de 45% nos comportamentos suicidas em contexto clínico com o Plano de Segurança Stanley–Brown, aplicado em hospitais de veteranos.

Este percentual expressivo (entre 40% e 45%) ressalta a importância clínica do Plano de Segurança como uma ferramenta eficaz e comprovada para mitigar comportamentos suicidas.

No entanto, para lidar com a ideação suicida, é recomendável integrá-la a outras abordagens terapêuticas que possam atuar mais eficazmente nesse domínio.

CONSIDERAÇÕES ÉTICAS E HUMANIZADAS

O Plano de Segurança deve ser construído em linguagem clara, prática e acolhedora, respeitando a singularidade do paciente. Não é um documento burocrático, mas um recurso vivo que dá esperança e sentido em momentos de desespero.

O profissional precisa manter postura empática, validando o sofrimento e transmitindo que a crise é transitória e que ajuda está disponível.

CONCLUSÃO

Plano de Segurança na prevenção do suicídio constitui-se como um recurso clínico essencial para profissionais da psicologia e da psiquiatria, pois oferece um instrumento estruturado, prático e individualizado de enfrentamento em situações de crise.

Ao contrário de medidas meramente preventivas ou restritivas, ele atua de forma proativa, estimulando no paciente o reconhecimento de seus sinais de alerta, a utilização de estratégias internas de regulação emocional e o fortalecimento de uma rede de apoio interpessoal e profissional.

Sua eficácia reside no caráter colaborativo e humanizado, pois o plano não é imposto, mas construído junto ao paciente, respeitando sua história de vida, seus valores e suas particularidades em cada etapa do desenvolvimento humano,  ou seja no adolescente, no jovem, no adulto ou no idoso.

Além disso, ao contemplar tanto ações imediatas quanto a restrição de meios letais, o Plano de Segurança cumpre um papel vital no cuidado integral, reduzindo a impulsividade suicida e oferecendo caminhos de esperança.

Assim, mais do que uma técnica, o Plano de Segurança deve ser compreendido como uma aliança terapêutica: um lembrete de que o sofrimento, ainda que intenso, é transitório, e que sempre há alternativas possíveis.

Dessa forma, ele não apenas salva vidas, mas também reafirma o valor do ser humano e sua capacidade de reconstrução diante da dor.

REFERÊNCIAS

1.      BRASIL. Ministério da Saúde. Prevenção do suicídio: manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental. Brasília: Ministério da Saúde, 2018.

2.      ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Prevenção do suicídio: um manual para profissionais da saúde em atenção primária. Genebra: OMS, 2000.

3.     STANLEY, Barbara; BROWN, Gregory K. Safety Planning Intervention: A Brief Intervention to Mitigate Suicide Risk. Cognitive and Behavioral Practice, v. 19, n. 2, p. 256-264, 2012.

4.    WERLANG, Blanca Susana Guevara; BOTTEGA, Neury José. Prevenção do Suicídio. Porto 





segunda-feira, 12 de maio de 2025

NEUROFISIOLOGIA DA ANSIEDADE


INTRODUÇÃO

A ansiedade é uma resposta complexa do nosso corpo e cérebro a situações percebidas como ameaçadoras ou estressantes. Esse fenômeno, ao mesmo tempo que é uma experiência universal, pode se tornar debilitante quando desregulado.

Para compreender o processo neurofisiológico da ansiedade, é essencial analisar o papel de quatro componentes chave do cérebro: a amígdala, o Sistema Nervoso Simpático (SNS), a ínsula e o córtex pré-frontal.

Entender o processo neurofisiológico da ansiedade através destas quatro estruturas cerebrais fornece insights valiosos sobre como a ansiedade se desenvolve, como ela afeta nosso corpo e mente, e como podemos gerenciá-la efetivamente.

Este conhecimento é vital tanto para profissionais de saúde mental quanto para indivíduos que buscam compreender e lidar com a própria ansiedade.

AMIGDALAS

Localizada profundamente no cérebro, a amígdala atua como um centro de processamento de emoções, especialmente medo e ansiedade.

Ela é responsável por detectar ameaças e acionar respostas emocionais e fisiológicas correspondentes.

A amígdala é uma pequena estrutura no cérebro que tem um papel crucial em regular nossas emoções, especialmente aquelas relacionadas à sobrevivência, como medo e prazer.

Imagine a amígdala como um alarme ou um sistema de alerta do seu cérebro.

Quando você se depara com algo que seu cérebro percebe como uma ameaça (como um cachorro bravo), a amígdala é ativada. Ela ajuda a preparar o seu corpo para responder a essa ameaça, seja fugindo, lutando ou se congelando no lugar. Esse processo é parte do que chamamos de "resposta de luta ou fuga".

Além do medo, a amígdala também está envolvida no processamento de outras emoções e em ajudar a armazenar memórias emocionais.

Por exemplo, se você teve uma experiência assustadora com um cachorro quando era criança, sua amígdala ajuda a lembrar dessa emoção se você encontrar um cachorro novamente.

Portanto, a amígdala é como um centro de controle emocional no seu cérebro, ajudando você a reagir rapidamente a situações perigosas ou estressantes e a lembrar dessas experiências para o futuro.

SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO – SNC

Este sistema é parte do sistema nervoso autônomo e desempenha um papel fundamental na resposta de "luta ou fuga", preparando o corpo para a ação rápida em face do perigo percebido.

Quando ativado, o SNS aumenta a frequência cardíaca, a pressão arterial e libera hormônios do estresse, como adrenalina e cortisol.

O Sistema Nervoso Simpático (SNS) é uma parte do sistema nervoso autônomo do nosso corpo, que cuida das funções automáticas, como a batida do coração e a respiração.

Pense nele como o sistema que coloca seu corpo em "modo de ação" quando você precisa reagir rapidamente a alguma coisa.

Imagine que você está caminhando e de repente vê algo assustador, como um cachorro correndo em sua direção. Nesse momento, o SNS entra em ação. Ele faz seu coração bater mais rápido, aumenta sua respiração, faz suas pupilas dilatarem e prepara seus músculos para responder - seja correndo, lutando ou se protegendo. Essa é a famosa "resposta de luta ou fuga".

O SNS é como um acelerador no carro.

Quando você precisa de energia e ação rápida, ele 'acelera' o corpo. Ele é responsável por preparar o corpo para a ação rápida e intensa, ajudando você a lidar com situações de estresse ou perigo.

É aqui que a pessoa com ajuda do psicoterapeuta deve agir, usando métodos, técnicas e ferramentas para desacelerar a ativação do SNS.

Quando o Sistema Nervosos Simpático predomina sobre o Sistema Nervosos Parassimpático acontece um desequilíbrio, causando alguns transtornos como Ansiedade, Ataque de Pânico ou Síndrome do Pânico.

ÍNSULA

Uma estrutura complexa envolvida no processamento de emoções, a ínsula ajuda a regular a resposta do corpo ao estresse e a ansiedade. Ela está envolvida na consciência interoceptiva, o que significa que ela ajuda na percepção das sensações internas do corpo, um aspecto crucial na experiência da ansiedade.

A ínsula é uma parte do cérebro localizada bem fundo nas dobras laterais do cérebro, escondida sob as regiões conhecidas como lobos frontais e temporais.

Embora seja pequena, a ínsula tem um papel muito importante.

Imagine a ínsula como um centro de controle que ajuda a gerenciar várias funções do seu corpo e suas emoções.

Aqui estão algumas de suas principais funções:

Processamento de Emoções:

A ínsula ajuda você a entender e sentir emoções. Ela é especialmente importante para emoções complexas, como a empatia (a capacidade de entender os sentimentos dos outros) e a compaixão.

Percepção Corporal:

Ela ajuda no que chamamos de "consciência interoceptiva", que é a percepção das sensações internas do seu corpo. Isso inclui coisas como sentir seu coração batendo, reconhecer quando você está com fome ou com sede, ou sentir dor.

Tomada de Decisão:

A ínsula também está envolvida no processo de tomar decisões, especialmente aquelas que envolvem riscos e incertezas.

Consciência Social:

Ela ajuda no entendimento das normas sociais e na regulação da forma como você interage socialmente.

Portanto, a ínsula é como um centro multifuncional no seu cérebro que desempenha um papel vital no processamento das suas emoções, na percepção do seu corpo e na forma como você toma decisões e interage com os outros.

CÓRTEX PRÉ-FRONTAL

Córtex Pré-frontal: Este é o centro de controle executivo do cérebro, desempenhando um papel crucial na regulação das respostas emocionais e na modulação do medo.

O córtex pré-frontal ajuda a avaliar as ameaças percebidas e a determinar respostas apropriadas, podendo inibir ou moderar a atividade da amígdala.

O córtex pré-frontal é uma região do cérebro localizada bem na frente, logo atrás da testa. Ele é como o "diretor executivo" do cérebro, responsável por muitas das funções que nos tornam humanos e nos permitem pensar, planejar e agir de forma complexa.

Aqui estão algumas das principais funções do córtex pré-frontal:

Tomada de Decisões:

Ele ajuda você a tomar decisões, ponderando diferentes opções e consequências.

Controle de Impulsos:

O córtex pré-frontal ajuda a controlar impulsos, o que significa que ele impede você de agir de maneira precipitada e ajuda a pensar antes de agir.

Planejamento e Organização:

Ele é crucial para planejar o futuro, organizar suas atividades e estabelecer metas.

Resolução de Problemas:

Esta área do cérebro ajuda a resolver problemas complexos e a pensar de forma criativa.

Regulação Emocional:

O córtex pré-frontal também tem um papel importante na maneira como você controla e entende suas emoções.

Memória de Trabalho:

Ele está envolvido na memória de curto prazo e na capacidade de manter e manipular informações na mente.

Consciência Social:

Ajuda na compreensão das normas sociais e na adaptação do comportamento em diferentes contextos sociais.

Em resumo, o córtex pré-frontal é uma parte vital do cérebro que nos permite ter um pensamento complexo, controlar nossas ações e emoções, e interagir com o mundo de uma maneira sofisticada.

O Córtex pré-frontal é essencial para as funções que consideramos ser aspectos fundamentais da inteligência e do comportamento humano.

COMO ESTIMULAR O SNS A PROMOVER UM ESTADO DE CALMA E RELAXAMENTO

Estimular o Sistema Nervoso Parassimpático, que é responsável por promover um estado de calma e relaxamento.

Aqui estão algumas técnicas para isso:

Respiração Profunda:

Praticar respiração profunda e controlada pode ajudar a ativar o Sistema Nervoso Parassimpático.

Experimente a técnica de respiração 4-7-8: inspire contando até 4, segure a respiração por 7 segundos e expire lentamente contando até 8.

Meditação e Mindfulness:

A prática regular de meditação ou mindfulness pode reduzir o estresse e promover uma sensação de calma, ajudando a ativar o Sistema Nervoso Parassimpático.

Exercício Físico Leve:

Embora o exercício intenso possa estimular o SNS, atividades leves como caminhada, yoga ou alongamento podem promover relaxamento e ativar a resposta parassimpática.

Técnicas de Relaxamento Muscular Progressivo:

Consiste em tensionar e relaxar diferentes grupos musculares do corpo, o que pode ajudar a reduzir a tensão física e mental.

Exposição à Natureza:

Passar tempo ao ar livre, especialmente em ambientes naturais tranquilos, pode diminuir o estresse e promover o relaxamento.

Música Relaxante:

Ouvir música calma ou sons da natureza pode ajudar a acalmar a mente e o corpo.

Técnicas de Visualização:

Imaginar-se em um lugar calmo e sereno pode ajudar a reduzir a ansiedade e promover a calma.

Práticas de Atenção Plena (Mindfulness):

Focar no momento presente e aceitar pensamentos e sensações sem julgamento pode ajudar a reduzir a ansiedade.

Lembre-se de que é importante encontrar técnicas que funcionem para você, pois diferentes pessoas podem responder de maneira diferente a cada abordagem.

Se a ansiedade for severa ou debilitante, é aconselhável procurar o conselho de um profissional de saúde mental.

SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO E O SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO O PAPEL DE CADA UM DELES NA ANSIEDADE

O sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático são dois componentes do sistema nervoso autônomo, que regulam as funções involuntárias do corpo. Eles atuam de maneira complementar, muitas vezes em oposição, para manter a homeostase (equilíbrio interno) do corpo. Vamos explorar suas diferenças e papéis na ansiedade:

SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO

Função Principal:

Prepara o corpo para ações rápidas e de resposta ao estresse, frequentemente descrito como a resposta de "lutar ou fugir".

Ações Típicas:

ü  Aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial.

ü  Dilata as pupilas.

ü  Inibe a digestão.

ü  Libera adrenalina e noradrenalina.

ü  Aumenta o fluxo sanguíneo para os músculos.

Papel na Ansiedade:

O sistema simpático é hiperativado em estados de ansiedade, levando a sintomas como taquicardia, sudorese, tremores, e aumento da vigilância.

Esta ativação prepara o corpo para enfrentar uma ameaça percebida, mesmo que tal ameaça não seja real ou imediata.

SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO

Função Principal:

Promove atividades de "descanso e digestão", ajudando o corpo a se recuperar e manter funções de longo prazo.

Ações Típicas:

ü  Diminui a frequência cardíaca e a pressão arterial.

ü  Estimula a digestão e a absorção de nutrientes.

ü  Contração da pupila.

ü  Promove a economia de energia e processos regenerativos. 

Papel na Ansiedade:

O sistema parassimpático ajuda a mitigar a resposta ao estresse e a restaurar a calma.

Em estados de ansiedade crônica ou distúrbios de ansiedade, pode haver um desequilíbrio entre os sistemas simpático e parassimpático, com uma predominância do simpático.

Equilíbrio e Ansiedade

Equilíbrio Ideal:

Em condições normais, os dois sistemas trabalham juntos para manter o corpo em um estado de equilíbrio dinâmico.

Ansiedade:

Durante a ansiedade, esse equilíbrio pode ser perturbado, com uma dominância do sistema simpático, causando os sintomas físicos associados à ansiedade.

Tratamentos e Técnicas:

Técnicas de relaxamento, como a respiração profunda, meditação e exercícios físicos, podem ajudar a reequilibrar esses sistemas, diminuindo os sintomas de ansiedade.

Entender como esses sistemas interagem é crucial para compreender a resposta do corpo à ansiedade e para desenvolver estratégias eficazes de manejo.

CONCLUSÃO

A compreensão da neurofisiologia da ansiedade nos oferece uma chave preciosa para a articulação entre corpo e mente, emoção e razão.

O estudo das estruturas cerebrais envolvidas — como a amígdala, a ínsula, o sistema nervoso autônomo (simpático e parassimpático) e o córtex pré-frontal — permite compreender não apenas a origem das respostas ansiosas, mas também os caminhos terapêuticos possíveis.

A ansiedade, quando desregulada, emerge como expressão de um desequilíbrio neurofisiológico, mas também carrega aspectos psíquicos e simbólicos que não podem ser ignorados.

Portanto, a integração entre conhecimentos da neurociência, da psicologia clínica e das práticas terapêuticas baseadas em evidências é essencial para oferecer intervenções eficazes e humanizadas.

Estimular o sistema parassimpático por meio de técnicas psicocorporais e fortalecer as funções reguladoras do córtex pré-frontal não é apenas uma estratégia terapêutica, mas também um resgate da autonomia subjetiva diante do sofrimento mental.

O cuidado com a saúde mental, à luz do saber neurocientífico, deve manter sempre uma escuta sensível e ética da experiência humana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DAMÁSIO, Antonio R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

LEDOUX, Joseph. O cérebro emocional: os misteriosos alicerces da vida emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

COZOLINO, Louis. Neurociência da psicoterapia: construindo e reconstruindo o cérebro social. Porto Alegre: Artmed, 2010.

BAARS, Bernard J.; GAGE, Nicole M. Cognição, cérebro e consciência: introdução à neurociência cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2010.

KANDEL, Eric R. A nova biologia da mente: como o estudo do cérebro está revolucionando a ciência da mente, a medicina e a sociedade. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.

VASCONCELOS, Marco Aurélio. Neuropsicologia: teoria e prática. São Paulo: Vetor, 2011.

PINHEIRO, Lúcia W. Ansiedade: compreendendo e enfrentando esse mal do século. Petrópolis: Vozes, 2015.

LURIA, Aleksandr R. O cérebro em ação. São Paulo: Icone, 2005.

GOLDBERG, Elkhonon. O cérebro executivo: lobos frontais e a mente civilizada. São Paulo: Valentina, 2014.

SINGER, Tania. A neurociência da empatia: como sentir com o outro pode mudar o mundo. São Paulo: Cultrix, 2019.


O CÓRTEX DO CÍNGULO ANTERIOR: UMA INTERFACE ENTRE EMOÇÃO, COGNIÇÃO E PSICOTERAPIA


INTRODUÇÃO

O córtex do cíngulo anterior (CCA) tem sido objeto de atenção crescente na neurociência e na psicologia clínica contemporâneas. 

Esta região cerebral, situada na parte medial dos hemisférios cerebrais, destaca-se por sua função integradora entre processos cognitivos e afetivos.

Ao conectar estruturas envolvidas com o controle executivo, a memória emocional e a tomada de decisões, o CCA atua como uma ponte funcional entre o mundo interno e as exigências do ambiente externo.

Dada sua plasticidade e sensibilidade às experiências emocionais, torna-se um ponto de interesse na compreensão da dor, do luto e da eficácia das intervenções psicoterápicas.

DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO

O córtex do cíngulo anterior é uma sub-região do córtex cingulado, responsável pela intermediação entre funções emocionais, cognitivas e comportamentais. Ele exerce um papel determinante na resposta aos estímulos sociais, no gerenciamento da atenção, na regulação emocional e na modulação da dor, sendo considerado uma estrutura chave no circuito límbico.

Conforme destacam estudos neurocientíficos, essa região é ativada tanto por estímulos positivos quanto negativos, participando do julgamento da valência emocional das experiências vividas (VOGT, 2016).

LOCALIZAÇÃO ANATÔMICA

O CCA abrange principalmente as áreas de Brodmann 24, 25, 32 e 33. Ele se organiza em sub-regiões com funções distintas:

Perigenual (pACC):

Voltado ao processamento emocional e à regulação autonômica e endócrina;

Dorsal (dACC):

Envolvido no controle cognitivo, particularmente na tomada de decisões e detecção de erros;

Áreas motoras do cíngulo (CMA):

Responsáveis por traduzir estados emocionais em respostas motoras adaptativas.

Anatomicamente, o CCA se conecta com o córtex pré-frontal, a amígdala, o hipocampo, e outras áreas subcorticais por meio do feixe de substância branca denominado cíngulo, que constitui uma via crítica para a integração entre emoção, memória e comportamento (VOGT; GABRIEL, 2003).

FISIOLOGIA

A atividade eletrofisiológica do CCA demonstra uma participação ativa em múltiplos domínios funcionais:

ü  Aproximadamente 25% dos neurônios do CCA codificam expectativas de recompensa;

ü  Outros 25% codificam intenções motoras;

ü  E cerca de 11% realizam ambas as funções simultaneamente (KENNERLEY et al., 2006).

Esses dados ilustram o papel do CCA como um centro de convergência entre motivação, ação e consequência, regulando a adaptação comportamental com base na experiência prévia e nas contingências futuras.

PRINCIPAIS FUNÇÃO E FUNÇÕES GERAIS

Uma das principais funções do giro cingulado é a regulação das emoções, sendo responsável por processar informações relacionadas a sentimentos, como a resposta ao medo, tristeza e estresse.

Além disso, ele também está envolvido na regulação da empatia e da tomada de decisões.

Em relação às funções cognitivas, o giro cingulado está associado à atenção, memória de trabalho e controle motor. Ele desempenha um papel importante na capacidade de direcionar a atenção para tarefas específicas, manter informações relevantes na memória de curto prazo e coordenar movimentos do corpo.

Os giros cerebrais, incluindo o giro cingulado, são essenciais para o funcionamento adequado do cérebro e influenciam diretamente nossas capacidades cognitivas e emocionais 

Portanto, é fundamental compreender a anatomia e as funções dessas estruturas para entender melhor o funcionamento do nosso cérebro e como ele afeta nosso comportamento. 

O CCA participa da:

ü  Alocação de atenção;

ü  Detecção de conflito cognitivo;

ü  Monitoramento de desempenho e erro;

ü  Regulação da motivação social;

ü  Tomada de decisão sob condições de incerteza.

Na cognição social, por exemplo, o CCA é ativado quando se avalia a motivação ou intenção de outras pessoas, sendo assim uma estrutura essencial para a empatia e a interação interpessoal (LOCKWOOD et al., 2015).

REGULAÇÃO EMOCIONAL, DA DOR E DO LUTO

O CCA é uma das principais estruturas responsáveis pela regulação das emoções. Ele integra informações emocionais vindas do córtex orbitofrontal e da amígdala, sendo capaz de modular respostas viscerais frente a experiências internas.

Sua função na dor é notável, tanto na percepção sensorial quanto na resposta afetiva. Pacientes com disfunções nessa área apresentam maior sensibilidade à dor crônica e alterações no limiar emocional.

Em relação ao luto, há evidências de que o CCA subgenual (área 25) esteja hiperativo em estados de sofrimento prolongado, como na depressão maior associada à perda (MAYBERG et al., 2005).

UTILIDADE NA PSICOTERAPIA

A relevância clínica do CCA é expressiva:

Preditor de Resposta Terapêutica: Atividades basais no CCA subgenual podem prever melhor resposta à Terapia Cognitivo-Comportamental em pacientes com depressão e transtornos ansiosos (FREEDMAN et al., 2021).

Alvo de Intervenções:

Técnicas como mindfulness, neurofeedback e reestruturação cognitiva podem ativar e modular o CCA, promovendo autorregulação emocional.

Neurocirurgia Funcional:

Em casos de transtornos graves e refratários, como o transtorno obsessivo-compulsivo resistente, realiza-se a cingulotomia, uma intervenção que lesiona áreas do CCA para atenuar sintomas.

Dessa forma, o CCA se configura como um importante biomarcador de sofrimento psíquico e um alvo potencial para abordagens terapêuticas personalizadas 

CONCLUSÃO

O córtex do cíngulo anterior constitui uma estrutura neurofuncional central para o entendimento da complexa interação entre emoção, cognição e comportamento.

A participação do córtex do cíngulo anterior em processos como regulação emocional, dor, luto e resposta à psicoterapia o coloca como uma peça-chave tanto na pesquisa neurocientífica quanto na prática clínica.

Conhecê-lo em profundidade oferece ao profissional de saúde mental subsídios para intervenções mais eficazes e humanizadas, reconhecendo o papel da neurobiologia na construção subjetiva da experiência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2021. 

DAMÁSIO, A. R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

FREEDMAN, R. E. et al. Anterior cingulate cortex activation during attentional control as a transdiagnostic marker of psychotherapy response. Frontiers in Psychiatry, v. 12, 2021. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC8556845/ Acesso em: 04 maio 2025.

KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSELL, T. M. Princípios de neurociência. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.

KENNERLEY, S. W. et al. Optimal decision making and the anterior cingulate cortex. Nature Neuroscience, 2006.

LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2010.

LOCKWOOD, P. L. et al. The anterior cingulate gyrus and social cognition: tracking the motivation of others. Social Cognitive and Affective Neuroscience, 2015. Disponível em: <https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC4885021/> Acesso em: 4 maio 2025.

MAESTROVIRTUALE. Giro cingulado (cérebro): anatomia e funções. Maestrovirtuale, 2020. Disponível em: <https://maestrovirtuale.com/giro-cingulado-cerebro-anatomia-e-funcoes/.> Acesso em: 4 maio 2025.

MAYBERG, H. S. et al. Deep brain stimulation for treatment-resistant depression. Neuron, v. 45, n. 5, 2005. 

PESSOA, L. O cérebro emocional: como as emoções influenciam nossa vida. São Paulo: Editora Contexto, 2017. 

SINGER, T.; LAMM, C. As bases neurais da empatia. In: LENT, R. (Org.). Neurociência da mente e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. p. 485–502.

SPITZ, R. A. O primeiro ano de vida: um estudo psicanalítico do desenvolvimento normal e anormal. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

VOGT, B. A. Cingulate Cortex in the Three Limbic Subdivisions. In: The Human Nervous System. 3. ed. Elsevier, 2016.

VOGT, B. A.; GABRIEL, M. Neurobiology of Cingulate Cortex and Limbic Thalamus: A Comprehensive Handbook. Springer, 2003.