segunda-feira, 12 de maio de 2025

NEUROFISIOLOGIA DA ANSIEDADE


INTRODUÇÃO

A ansiedade é uma resposta complexa do nosso corpo e cérebro a situações percebidas como ameaçadoras ou estressantes. Esse fenômeno, ao mesmo tempo que é uma experiência universal, pode se tornar debilitante quando desregulado.

Para compreender o processo neurofisiológico da ansiedade, é essencial analisar o papel de quatro componentes chave do cérebro: a amígdala, o Sistema Nervoso Simpático (SNS), a ínsula e o córtex pré-frontal.

Entender o processo neurofisiológico da ansiedade através destas quatro estruturas cerebrais fornece insights valiosos sobre como a ansiedade se desenvolve, como ela afeta nosso corpo e mente, e como podemos gerenciá-la efetivamente.

Este conhecimento é vital tanto para profissionais de saúde mental quanto para indivíduos que buscam compreender e lidar com a própria ansiedade.

AMIGDALAS

Localizada profundamente no cérebro, a amígdala atua como um centro de processamento de emoções, especialmente medo e ansiedade.

Ela é responsável por detectar ameaças e acionar respostas emocionais e fisiológicas correspondentes.

A amígdala é uma pequena estrutura no cérebro que tem um papel crucial em regular nossas emoções, especialmente aquelas relacionadas à sobrevivência, como medo e prazer.

Imagine a amígdala como um alarme ou um sistema de alerta do seu cérebro.

Quando você se depara com algo que seu cérebro percebe como uma ameaça (como um cachorro bravo), a amígdala é ativada. Ela ajuda a preparar o seu corpo para responder a essa ameaça, seja fugindo, lutando ou se congelando no lugar. Esse processo é parte do que chamamos de "resposta de luta ou fuga".

Além do medo, a amígdala também está envolvida no processamento de outras emoções e em ajudar a armazenar memórias emocionais.

Por exemplo, se você teve uma experiência assustadora com um cachorro quando era criança, sua amígdala ajuda a lembrar dessa emoção se você encontrar um cachorro novamente.

Portanto, a amígdala é como um centro de controle emocional no seu cérebro, ajudando você a reagir rapidamente a situações perigosas ou estressantes e a lembrar dessas experiências para o futuro.

SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO – SNC

Este sistema é parte do sistema nervoso autônomo e desempenha um papel fundamental na resposta de "luta ou fuga", preparando o corpo para a ação rápida em face do perigo percebido.

Quando ativado, o SNS aumenta a frequência cardíaca, a pressão arterial e libera hormônios do estresse, como adrenalina e cortisol.

O Sistema Nervoso Simpático (SNS) é uma parte do sistema nervoso autônomo do nosso corpo, que cuida das funções automáticas, como a batida do coração e a respiração.

Pense nele como o sistema que coloca seu corpo em "modo de ação" quando você precisa reagir rapidamente a alguma coisa.

Imagine que você está caminhando e de repente vê algo assustador, como um cachorro correndo em sua direção. Nesse momento, o SNS entra em ação. Ele faz seu coração bater mais rápido, aumenta sua respiração, faz suas pupilas dilatarem e prepara seus músculos para responder - seja correndo, lutando ou se protegendo. Essa é a famosa "resposta de luta ou fuga".

O SNS é como um acelerador no carro.

Quando você precisa de energia e ação rápida, ele 'acelera' o corpo. Ele é responsável por preparar o corpo para a ação rápida e intensa, ajudando você a lidar com situações de estresse ou perigo.

É aqui que a pessoa com ajuda do psicoterapeuta deve agir, usando métodos, técnicas e ferramentas para desacelerar a ativação do SNS.

Quando o Sistema Nervosos Simpático predomina sobre o Sistema Nervosos Parassimpático acontece um desequilíbrio, causando alguns transtornos como Ansiedade, Ataque de Pânico ou Síndrome do Pânico.

ÍNSULA

Uma estrutura complexa envolvida no processamento de emoções, a ínsula ajuda a regular a resposta do corpo ao estresse e a ansiedade. Ela está envolvida na consciência interoceptiva, o que significa que ela ajuda na percepção das sensações internas do corpo, um aspecto crucial na experiência da ansiedade.

A ínsula é uma parte do cérebro localizada bem fundo nas dobras laterais do cérebro, escondida sob as regiões conhecidas como lobos frontais e temporais.

Embora seja pequena, a ínsula tem um papel muito importante.

Imagine a ínsula como um centro de controle que ajuda a gerenciar várias funções do seu corpo e suas emoções.

Aqui estão algumas de suas principais funções:

Processamento de Emoções:

A ínsula ajuda você a entender e sentir emoções. Ela é especialmente importante para emoções complexas, como a empatia (a capacidade de entender os sentimentos dos outros) e a compaixão.

Percepção Corporal:

Ela ajuda no que chamamos de "consciência interoceptiva", que é a percepção das sensações internas do seu corpo. Isso inclui coisas como sentir seu coração batendo, reconhecer quando você está com fome ou com sede, ou sentir dor.

Tomada de Decisão:

A ínsula também está envolvida no processo de tomar decisões, especialmente aquelas que envolvem riscos e incertezas.

Consciência Social:

Ela ajuda no entendimento das normas sociais e na regulação da forma como você interage socialmente.

Portanto, a ínsula é como um centro multifuncional no seu cérebro que desempenha um papel vital no processamento das suas emoções, na percepção do seu corpo e na forma como você toma decisões e interage com os outros.

CÓRTEX PRÉ-FRONTAL

Córtex Pré-frontal: Este é o centro de controle executivo do cérebro, desempenhando um papel crucial na regulação das respostas emocionais e na modulação do medo.

O córtex pré-frontal ajuda a avaliar as ameaças percebidas e a determinar respostas apropriadas, podendo inibir ou moderar a atividade da amígdala.

O córtex pré-frontal é uma região do cérebro localizada bem na frente, logo atrás da testa. Ele é como o "diretor executivo" do cérebro, responsável por muitas das funções que nos tornam humanos e nos permitem pensar, planejar e agir de forma complexa.

Aqui estão algumas das principais funções do córtex pré-frontal:

Tomada de Decisões:

Ele ajuda você a tomar decisões, ponderando diferentes opções e consequências.

Controle de Impulsos:

O córtex pré-frontal ajuda a controlar impulsos, o que significa que ele impede você de agir de maneira precipitada e ajuda a pensar antes de agir.

Planejamento e Organização:

Ele é crucial para planejar o futuro, organizar suas atividades e estabelecer metas.

Resolução de Problemas:

Esta área do cérebro ajuda a resolver problemas complexos e a pensar de forma criativa.

Regulação Emocional:

O córtex pré-frontal também tem um papel importante na maneira como você controla e entende suas emoções.

Memória de Trabalho:

Ele está envolvido na memória de curto prazo e na capacidade de manter e manipular informações na mente.

Consciência Social:

Ajuda na compreensão das normas sociais e na adaptação do comportamento em diferentes contextos sociais.

Em resumo, o córtex pré-frontal é uma parte vital do cérebro que nos permite ter um pensamento complexo, controlar nossas ações e emoções, e interagir com o mundo de uma maneira sofisticada.

O Córtex pré-frontal é essencial para as funções que consideramos ser aspectos fundamentais da inteligência e do comportamento humano.

COMO ESTIMULAR O SNS A PROMOVER UM ESTADO DE CALMA E RELAXAMENTO

Estimular o Sistema Nervoso Parassimpático, que é responsável por promover um estado de calma e relaxamento.

Aqui estão algumas técnicas para isso:

Respiração Profunda:

Praticar respiração profunda e controlada pode ajudar a ativar o Sistema Nervoso Parassimpático.

Experimente a técnica de respiração 4-7-8: inspire contando até 4, segure a respiração por 7 segundos e expire lentamente contando até 8.

Meditação e Mindfulness:

A prática regular de meditação ou mindfulness pode reduzir o estresse e promover uma sensação de calma, ajudando a ativar o Sistema Nervoso Parassimpático.

Exercício Físico Leve:

Embora o exercício intenso possa estimular o SNS, atividades leves como caminhada, yoga ou alongamento podem promover relaxamento e ativar a resposta parassimpática.

Técnicas de Relaxamento Muscular Progressivo:

Consiste em tensionar e relaxar diferentes grupos musculares do corpo, o que pode ajudar a reduzir a tensão física e mental.

Exposição à Natureza:

Passar tempo ao ar livre, especialmente em ambientes naturais tranquilos, pode diminuir o estresse e promover o relaxamento.

Música Relaxante:

Ouvir música calma ou sons da natureza pode ajudar a acalmar a mente e o corpo.

Técnicas de Visualização:

Imaginar-se em um lugar calmo e sereno pode ajudar a reduzir a ansiedade e promover a calma.

Práticas de Atenção Plena (Mindfulness):

Focar no momento presente e aceitar pensamentos e sensações sem julgamento pode ajudar a reduzir a ansiedade.

Lembre-se de que é importante encontrar técnicas que funcionem para você, pois diferentes pessoas podem responder de maneira diferente a cada abordagem.

Se a ansiedade for severa ou debilitante, é aconselhável procurar o conselho de um profissional de saúde mental.

SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO E O SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO O PAPEL DE CADA UM DELES NA ANSIEDADE

O sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático são dois componentes do sistema nervoso autônomo, que regulam as funções involuntárias do corpo. Eles atuam de maneira complementar, muitas vezes em oposição, para manter a homeostase (equilíbrio interno) do corpo. Vamos explorar suas diferenças e papéis na ansiedade:

SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO

Função Principal:

Prepara o corpo para ações rápidas e de resposta ao estresse, frequentemente descrito como a resposta de "lutar ou fugir".

Ações Típicas:

ü  Aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial.

ü  Dilata as pupilas.

ü  Inibe a digestão.

ü  Libera adrenalina e noradrenalina.

ü  Aumenta o fluxo sanguíneo para os músculos.

Papel na Ansiedade:

O sistema simpático é hiperativado em estados de ansiedade, levando a sintomas como taquicardia, sudorese, tremores, e aumento da vigilância.

Esta ativação prepara o corpo para enfrentar uma ameaça percebida, mesmo que tal ameaça não seja real ou imediata.

SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO

Função Principal:

Promove atividades de "descanso e digestão", ajudando o corpo a se recuperar e manter funções de longo prazo.

Ações Típicas:

ü  Diminui a frequência cardíaca e a pressão arterial.

ü  Estimula a digestão e a absorção de nutrientes.

ü  Contração da pupila.

ü  Promove a economia de energia e processos regenerativos. 

Papel na Ansiedade:

O sistema parassimpático ajuda a mitigar a resposta ao estresse e a restaurar a calma.

Em estados de ansiedade crônica ou distúrbios de ansiedade, pode haver um desequilíbrio entre os sistemas simpático e parassimpático, com uma predominância do simpático.

Equilíbrio e Ansiedade

Equilíbrio Ideal:

Em condições normais, os dois sistemas trabalham juntos para manter o corpo em um estado de equilíbrio dinâmico.

Ansiedade:

Durante a ansiedade, esse equilíbrio pode ser perturbado, com uma dominância do sistema simpático, causando os sintomas físicos associados à ansiedade.

Tratamentos e Técnicas:

Técnicas de relaxamento, como a respiração profunda, meditação e exercícios físicos, podem ajudar a reequilibrar esses sistemas, diminuindo os sintomas de ansiedade.

Entender como esses sistemas interagem é crucial para compreender a resposta do corpo à ansiedade e para desenvolver estratégias eficazes de manejo.

CONCLUSÃO

A compreensão da neurofisiologia da ansiedade nos oferece uma chave preciosa para a articulação entre corpo e mente, emoção e razão.

O estudo das estruturas cerebrais envolvidas — como a amígdala, a ínsula, o sistema nervoso autônomo (simpático e parassimpático) e o córtex pré-frontal — permite compreender não apenas a origem das respostas ansiosas, mas também os caminhos terapêuticos possíveis.

A ansiedade, quando desregulada, emerge como expressão de um desequilíbrio neurofisiológico, mas também carrega aspectos psíquicos e simbólicos que não podem ser ignorados.

Portanto, a integração entre conhecimentos da neurociência, da psicologia clínica e das práticas terapêuticas baseadas em evidências é essencial para oferecer intervenções eficazes e humanizadas.

Estimular o sistema parassimpático por meio de técnicas psicocorporais e fortalecer as funções reguladoras do córtex pré-frontal não é apenas uma estratégia terapêutica, mas também um resgate da autonomia subjetiva diante do sofrimento mental.

O cuidado com a saúde mental, à luz do saber neurocientífico, deve manter sempre uma escuta sensível e ética da experiência humana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DAMÁSIO, Antonio R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

LEDOUX, Joseph. O cérebro emocional: os misteriosos alicerces da vida emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

COZOLINO, Louis. Neurociência da psicoterapia: construindo e reconstruindo o cérebro social. Porto Alegre: Artmed, 2010.

BAARS, Bernard J.; GAGE, Nicole M. Cognição, cérebro e consciência: introdução à neurociência cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2010.

KANDEL, Eric R. A nova biologia da mente: como o estudo do cérebro está revolucionando a ciência da mente, a medicina e a sociedade. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.

VASCONCELOS, Marco Aurélio. Neuropsicologia: teoria e prática. São Paulo: Vetor, 2011.

PINHEIRO, Lúcia W. Ansiedade: compreendendo e enfrentando esse mal do século. Petrópolis: Vozes, 2015.

LURIA, Aleksandr R. O cérebro em ação. São Paulo: Icone, 2005.

GOLDBERG, Elkhonon. O cérebro executivo: lobos frontais e a mente civilizada. São Paulo: Valentina, 2014.

SINGER, Tania. A neurociência da empatia: como sentir com o outro pode mudar o mundo. São Paulo: Cultrix, 2019.


O CÓRTEX DO CÍNGULO ANTERIOR: UMA INTERFACE ENTRE EMOÇÃO, COGNIÇÃO E PSICOTERAPIA


INTRODUÇÃO

O córtex do cíngulo anterior (CCA) tem sido objeto de atenção crescente na neurociência e na psicologia clínica contemporâneas. 

Esta região cerebral, situada na parte medial dos hemisférios cerebrais, destaca-se por sua função integradora entre processos cognitivos e afetivos.

Ao conectar estruturas envolvidas com o controle executivo, a memória emocional e a tomada de decisões, o CCA atua como uma ponte funcional entre o mundo interno e as exigências do ambiente externo.

Dada sua plasticidade e sensibilidade às experiências emocionais, torna-se um ponto de interesse na compreensão da dor, do luto e da eficácia das intervenções psicoterápicas.

DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO

O córtex do cíngulo anterior é uma sub-região do córtex cingulado, responsável pela intermediação entre funções emocionais, cognitivas e comportamentais. Ele exerce um papel determinante na resposta aos estímulos sociais, no gerenciamento da atenção, na regulação emocional e na modulação da dor, sendo considerado uma estrutura chave no circuito límbico.

Conforme destacam estudos neurocientíficos, essa região é ativada tanto por estímulos positivos quanto negativos, participando do julgamento da valência emocional das experiências vividas (VOGT, 2016).

LOCALIZAÇÃO ANATÔMICA

O CCA abrange principalmente as áreas de Brodmann 24, 25, 32 e 33. Ele se organiza em sub-regiões com funções distintas:

Perigenual (pACC):

Voltado ao processamento emocional e à regulação autonômica e endócrina;

Dorsal (dACC):

Envolvido no controle cognitivo, particularmente na tomada de decisões e detecção de erros;

Áreas motoras do cíngulo (CMA):

Responsáveis por traduzir estados emocionais em respostas motoras adaptativas.

Anatomicamente, o CCA se conecta com o córtex pré-frontal, a amígdala, o hipocampo, e outras áreas subcorticais por meio do feixe de substância branca denominado cíngulo, que constitui uma via crítica para a integração entre emoção, memória e comportamento (VOGT; GABRIEL, 2003).

FISIOLOGIA

A atividade eletrofisiológica do CCA demonstra uma participação ativa em múltiplos domínios funcionais:

ü  Aproximadamente 25% dos neurônios do CCA codificam expectativas de recompensa;

ü  Outros 25% codificam intenções motoras;

ü  E cerca de 11% realizam ambas as funções simultaneamente (KENNERLEY et al., 2006).

Esses dados ilustram o papel do CCA como um centro de convergência entre motivação, ação e consequência, regulando a adaptação comportamental com base na experiência prévia e nas contingências futuras.

PRINCIPAIS FUNÇÃO E FUNÇÕES GERAIS

Uma das principais funções do giro cingulado é a regulação das emoções, sendo responsável por processar informações relacionadas a sentimentos, como a resposta ao medo, tristeza e estresse.

Além disso, ele também está envolvido na regulação da empatia e da tomada de decisões.

Em relação às funções cognitivas, o giro cingulado está associado à atenção, memória de trabalho e controle motor. Ele desempenha um papel importante na capacidade de direcionar a atenção para tarefas específicas, manter informações relevantes na memória de curto prazo e coordenar movimentos do corpo.

Os giros cerebrais, incluindo o giro cingulado, são essenciais para o funcionamento adequado do cérebro e influenciam diretamente nossas capacidades cognitivas e emocionais 

Portanto, é fundamental compreender a anatomia e as funções dessas estruturas para entender melhor o funcionamento do nosso cérebro e como ele afeta nosso comportamento. 

O CCA participa da:

ü  Alocação de atenção;

ü  Detecção de conflito cognitivo;

ü  Monitoramento de desempenho e erro;

ü  Regulação da motivação social;

ü  Tomada de decisão sob condições de incerteza.

Na cognição social, por exemplo, o CCA é ativado quando se avalia a motivação ou intenção de outras pessoas, sendo assim uma estrutura essencial para a empatia e a interação interpessoal (LOCKWOOD et al., 2015).

REGULAÇÃO EMOCIONAL, DA DOR E DO LUTO

O CCA é uma das principais estruturas responsáveis pela regulação das emoções. Ele integra informações emocionais vindas do córtex orbitofrontal e da amígdala, sendo capaz de modular respostas viscerais frente a experiências internas.

Sua função na dor é notável, tanto na percepção sensorial quanto na resposta afetiva. Pacientes com disfunções nessa área apresentam maior sensibilidade à dor crônica e alterações no limiar emocional.

Em relação ao luto, há evidências de que o CCA subgenual (área 25) esteja hiperativo em estados de sofrimento prolongado, como na depressão maior associada à perda (MAYBERG et al., 2005).

UTILIDADE NA PSICOTERAPIA

A relevância clínica do CCA é expressiva:

Preditor de Resposta Terapêutica: Atividades basais no CCA subgenual podem prever melhor resposta à Terapia Cognitivo-Comportamental em pacientes com depressão e transtornos ansiosos (FREEDMAN et al., 2021).

Alvo de Intervenções:

Técnicas como mindfulness, neurofeedback e reestruturação cognitiva podem ativar e modular o CCA, promovendo autorregulação emocional.

Neurocirurgia Funcional:

Em casos de transtornos graves e refratários, como o transtorno obsessivo-compulsivo resistente, realiza-se a cingulotomia, uma intervenção que lesiona áreas do CCA para atenuar sintomas.

Dessa forma, o CCA se configura como um importante biomarcador de sofrimento psíquico e um alvo potencial para abordagens terapêuticas personalizadas 

CONCLUSÃO

O córtex do cíngulo anterior constitui uma estrutura neurofuncional central para o entendimento da complexa interação entre emoção, cognição e comportamento.

A participação do córtex do cíngulo anterior em processos como regulação emocional, dor, luto e resposta à psicoterapia o coloca como uma peça-chave tanto na pesquisa neurocientífica quanto na prática clínica.

Conhecê-lo em profundidade oferece ao profissional de saúde mental subsídios para intervenções mais eficazes e humanizadas, reconhecendo o papel da neurobiologia na construção subjetiva da experiência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2021. 

DAMÁSIO, A. R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

FREEDMAN, R. E. et al. Anterior cingulate cortex activation during attentional control as a transdiagnostic marker of psychotherapy response. Frontiers in Psychiatry, v. 12, 2021. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC8556845/ Acesso em: 04 maio 2025.

KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSELL, T. M. Princípios de neurociência. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.

KENNERLEY, S. W. et al. Optimal decision making and the anterior cingulate cortex. Nature Neuroscience, 2006.

LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2010.

LOCKWOOD, P. L. et al. The anterior cingulate gyrus and social cognition: tracking the motivation of others. Social Cognitive and Affective Neuroscience, 2015. Disponível em: <https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC4885021/> Acesso em: 4 maio 2025.

MAESTROVIRTUALE. Giro cingulado (cérebro): anatomia e funções. Maestrovirtuale, 2020. Disponível em: <https://maestrovirtuale.com/giro-cingulado-cerebro-anatomia-e-funcoes/.> Acesso em: 4 maio 2025.

MAYBERG, H. S. et al. Deep brain stimulation for treatment-resistant depression. Neuron, v. 45, n. 5, 2005. 

PESSOA, L. O cérebro emocional: como as emoções influenciam nossa vida. São Paulo: Editora Contexto, 2017. 

SINGER, T.; LAMM, C. As bases neurais da empatia. In: LENT, R. (Org.). Neurociência da mente e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. p. 485–502.

SPITZ, R. A. O primeiro ano de vida: um estudo psicanalítico do desenvolvimento normal e anormal. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

VOGT, B. A. Cingulate Cortex in the Three Limbic Subdivisions. In: The Human Nervous System. 3. ed. Elsevier, 2016.

VOGT, B. A.; GABRIEL, M. Neurobiology of Cingulate Cortex and Limbic Thalamus: A Comprehensive Handbook. Springer, 2003.

sábado, 3 de maio de 2025

A INFLUÊNCIA DA PSICOTERAPIA NA NEUROPLASTICIDADE: DIÁLOGO ENTRE SUBJETIVIDADE E MATÉRIA

 

INTRODUÇÃO

A relação entre mente e cérebro tem sido, desde a Antiguidade, objeto de interrogações filosóficas e científicas.

Com os avanços das neurociências, sobretudo nas últimas décadas, consolidou-se o conceito de neuroplasticidade — a capacidade do cérebro de modificar sua estrutura e seu funcionamento em resposta a experiências, estímulos e aprendizagens.

Neste contexto, a psicoterapia emerge não apenas como uma prática discursiva ou simbólica, mas como um instrumento potente de transformação neurobiológica.

O presente texto tem como objetivo analisar, de maneira detalhada, a influência da psicoterapia na neuroplasticidade, articulando evidências empíricas, fundamentos teóricos e implicações clínicas à luz de uma visão integrada do ser humano.

1. NEUROPLASTICIDADE: FUNDAMENTO BIOLÓGICO DA MUDANÇA PSÍQUICA

A Neuroplasticidade refere-se à capacidade do sistema nervoso de adaptar-se a novas experiências por meio da criação, fortalecimento ou reorganização de conexões sinápticas.

Ainda que seja mais intensa durante o desenvolvimento infantil, essa plasticidade persiste ao longo da vida, inclusive na vida adulta e na velhice.

Tal princípio refuta a concepção determinista de um cérebro fixo ao demonstrar que as experiências emocionais, cognitivas e relacionais moldam a estrutura cerebral de maneira contínua (KOLB; WHISHAW, 2009). Essa descoberta sustenta a hipótese de que a escuta terapêutica pode atuar como um estímulo eficaz à reorganização do funcionamento cerebral.

2. A PSICOTERAPIA COMO ESTÍMULO PARA A REORGANIZAÇÃO CEREBRAL

A psicoterapia, seja de base cognitiva, psicodinâmica, fenomenológica ou integrativa, constitui-se como um campo privilegiado de aprendizagem emocional e relacional.

Diversos estudos utilizando neuroimagem funcional (fMRI, PET, EEG) demonstram que a psicoterapia é capaz de alterar circuitos neurais relacionados à regulação emocional, controle da ansiedade, elaboração da memória e organização do self.

2.1 Modificações Funcionais e Estruturais

Intervenções psicoterapêuticas bem conduzidas podem reduzir a hiperatividade da amígdala — estrutura cerebral relacionada ao medo e à ansiedade — e aumentar a conectividade entre o córtex pré-frontal e o sistema límbico, favorecendo maior autorregulação emocional (BREWER et al., 2011).

Isso demonstra que o exercício da fala reflexiva e o insight emocional operam como mecanismos de reprogramação do funcionamento cerebral, promovendo estados mentais mais equilibrados e adaptativos.

2.2 A PSICOTERAPIA PSICODINÂMICA E A RECONFIGURAÇÃO DA NARRATIVA DO SELF

A psicoterapia de orientação psicanalítica atua sobre a reconstrução da narrativa subjetiva.

Por meio do processo de rememoração, simbolização e elaboração dos afetos, o paciente ressignifica suas vivências, o que resulta em modificações em áreas cerebrais como o hipocampo e o córtex cingulado.

Isso sugere que a fala que cura não atua apenas no plano simbólico, mas incide diretamente sobre os circuitos neuronais da memória autobiográfica e da consciência de si (SOLMS; TURNBULL, 2002).

3. MECANISMOS NEUROBIOLÓGICOS ATIVADOS PELA PSICOTERAPIA

Do ponto de vista molecular e celular, a psicoterapia induz diversas alterações neurobiológicas. Estudos mostram que intervenções eficazes modulam a expressão de genes relacionados ao estresse, como os que regulam o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (DUMAN; MONTEGGIA, 2006).

 Além disso, observa-se o aumento de neurotrofinas como o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), essencial para a neurogênese, sinaptogênese e plasticidade sináptica.

O aumento da LTP (potencialização de longo prazo), mecanismo responsável pela consolidação da memória e aprendizado, também está implicado nos efeitos terapêuticos.

Assim, o vínculo emocional com o terapeuta, aliado ao exercício reflexivo e simbólico, transforma-se em gatilho para processos neurobiológicos de reorganização do funcionamento psíquico.

4. IMPLICAÇÕES CLÍNICAS: DO SINTOMA À REESTRUTURAÇÃO NEURONAL

As descobertas sobre a relação entre psicoterapia e neuroplasticidade têm profundo impacto na prática clínica. No tratamento de transtornos como depressão, ansiedade e traumas psíquicos, a psicoterapia produz efeitos mensuráveis tanto nos sintomas quanto na atividade cerebral.

Em casos mais complexos, como os transtornos de personalidade, observa-se uma reestruturação mais lenta, porém possível, de circuitos cerebrais associados à autoimagem, impulsividade e mentalização. Essas evidências consolidam a psicoterapia como uma intervenção estruturante e duradoura, capaz de oferecer ao sujeito novos caminhos de existência e novos modos de experimentar a realidade.

CONCLUSÃO

A psicoterapia não é apenas um espaço de escuta e expressão emocional; é uma experiência relacional e cognitiva suficientemente intensa para reconfigurar o próprio funcionamento cerebral.

Ao estimular a neuroplasticidade, ela transforma circuitos rígidos, reprograma respostas emocionais desadaptadas e promove a emergência de novas formas de ser.

Com base nos achados das neurociências, pode-se afirmar que a psicoterapia realiza uma verdadeira alquimia entre a subjetividade e a biologia, entre o simbólico e o concreto.

Tal constatação exige do profissional de saúde mental não apenas técnica e escuta, mas a consciência de que cada palavra escutada e cada silêncio acolhido podem ter ressonâncias nas entranhas do sistema nervoso do paciente. Assim, curar pelo discurso é, também, tocar o cérebro com palavras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRISQUETA-GOMEZ, Jacqueline. Reabilitação neuropsicológica: Abordagem interdisciplinar e modelos conceituais na prática clínica. São Paulo: Pearson, 2018.​
 
BEDESCHI, Cynthia. Os 10 pilares da neuroplasticidade: Cérebro em transformação. São Paulo: Independente, 2020.​
 
COSENZA, Ramon M.; GUERRA, Leonor B. Neurociência e educação: Como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.​
 
DOIDGE, Norman. O cérebro cura: As extraordinárias descobertas da neuroplasticidade e como estão a ser usadas terapeuticamente. Lisboa: Lua de Papel, 2016.​
 
DOIDGE, Norman. O cérebro que se transforma: Como a neurociência pode curar as pessoas. Rio de Janeiro: Record, 2015.
 
FONSECA, Vitor da. Cognição, neuropsicologia e aprendizagem: Abordagem neuropsicológica e psicopedagógica. São Paulo: Artes Médicas, 2014.​
 
LENT, Roberto. O cérebro aprendiz: Neuroplasticidade e educação. Rio de Janeiro: Atheneu, 2018.​
 
RIBEIRO, Sidarta. O oráculo da noite: A história e a ciência do sonho. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.​
 
RIBEIRO, Sidarta. Sonho manifesto: Dez exercícios urgentes de otimismo apocalíptico. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.​
 
SEABRA, Alessandra Gotuzo; DIAS, Natália Martins; CAPOVILLA, Fernando C. Avaliação neuropsicológica cognitiva: Atenção e funções executivas – Volume 1. São Paulo: Memnon, 2012.​


sexta-feira, 21 de março de 2025

AS FASES DA PSICOTERAPIA BASEADA NA ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA (ACP)


INTRODUÇÃO

A Psicoterapia Centrada na Pessoa (PCP), desenvolvida por Carl Rogers, representa um modelo terapêutico humanista que enfatiza a capacidade inerente do indivíduo para o crescimento pessoal e a autorrealização. 

O processo psicoterápico ocorre ao longo de sete fases, que refletem a evolução do cliente desde uma postura defensiva e rígida até um estado de maior abertura, autenticidade e autocompreensão. Essas fases não são necessariamente lineares e variam de acordo com o ritmo e a singularidade de cada cliente. 

As fases refletem a evolução do cliente desde uma postura defensiva e rígida até um estado de maior abertura, autenticidade e autocompreensão. 

O presente texto busca descrever essas etapas, oferecendo uma visão detalhada de cada uma delas e evidenciando sua importância no contexto psicoterapêutico. 

1. RESISTÊNCIA À MUDANÇA (FASE ESTÁTICA)

ü  O cliente tem pouca ou nenhuma consciência de suas dificuldades emocionais.

ü  Sua comunicação é superficial e defensiva.

ü  A mudança é vista como uma ameaça, e há pouca motivação para o autoconhecimento.

Essa resistência pode se manifestar na relação terapêutica de diversas formas, como dificuldades em confiar no terapeuta, relutância em explorar sentimentos mais profundos ou um discurso racionalizado que evita contato genuíno com as emoções.

O terapeuta pode lidar com essa resistência adotando uma postura empática e acolhedora, criando um ambiente seguro no qual o cliente se sinta confortável para expressar suas dificuldades sem medo de julgamento. 

Estratégias como a escuta ativa, reformulação empática e a validação das preocupações do cliente são fundamentais para facilitar a abertura ao processo terapêutico. 

2. RECONHECIMENTO INDIRETO DAS DIFICULDADES

ü  O cliente começa a reconhecer problemas, mas tende a externalizá-los (culpar os outros ou as circunstâncias).

ü  Suas emoções são expressas de maneira distante, sem envolvimento profundo.

ü  Ainda há forte resistência a mudanças internas. 

Essa externalização pode se manifestar de várias formas, como a atribuição de culpa a terceiros, justificativas constantes para seus comportamentos ou a minimização da gravidade de suas dificuldades. 

Por exemplo, um cliente pode afirmar que seu sofrimento emocional se deve exclusivamente ao comportamento de familiares ou colegas de trabalho, evitando refletir sobre seu próprio papel na situação. 

O terapeuta pode ajudar o cliente a assumir maior responsabilidade por suas dificuldades através de estratégias como perguntas reflexivas, reformulação empática e validação de sentimentos. Incentivar a autoexploração por meio de questões abertas, como "Como você se sente em relação a essa situação?" ou "O que você poderia fazer de diferente?", pode estimular o cliente a desenvolver maior consciência sobre sua participação nos desafios que enfrenta.

Dessa forma, gradualmente, ele começa a internalizar sua experiência e a perceber que tem poder sobre suas próprias mudanças.

O cliente começa a reconhecer problemas, mas tende a externalizá-los (culpar os outros ou as circunstâncias). 

Suas emoções são expressas de maneira distante, sem envolvimento profundo.

Ainda há forte resistência a mudanças internas. 

3. COMEÇO DA EXPLORAÇÃO INTERIOR

ü  O cliente reconhece que suas dificuldades são internas e não apenas externas.

ü  Começa a se abrir um pouco mais, mas ainda com cautela.

ü  A comunicação de emoções se torna mais fluida, embora existam contradições e bloqueios. 

Nesse estágio, o cliente pode enfrentar desafios significativos, como resistência emocional e ambivalência. 

Muitas vezes, há um conflito interno entre o desejo de mudança e o medo do desconhecido, o que pode levar a momentos de regressão no processo terapêutico.

O cliente pode oscilar entre a aceitação e a negação de suas dificuldades, experimentando insegurança sobre sua capacidade de lidar com suas emoções.

Para lidar com essas dificuldades, o terapeuta pode reforçar a aceitação incondicional e a empatia, criando um espaço seguro para que o cliente se sinta confortável ao explorar suas emoções mais profundas.

O uso de intervenções que promovam a reflexão e o autoconhecimento, como a reformulação empática e a valorização das pequenas mudanças, pode ser essencial para ajudar o cliente a superar sua ambivalência e avançar para um nível mais profundo de autocompreensão. 

4. EXPRESSÃO DE SENTIMENTOS INTENSOS

ü  O cliente passa a se expressar com mais liberdade e profundidade.

ü  Há maior contato com suas emoções e reconhecimento de sua subjetividade.

ü  As experiências são exploradas sem tanta necessidade de defesa.

Nesse estágio, é essencial que o terapeuta valide e acolha as emoções do cliente, criando um ambiente seguro para sua expressão. Isso pode ser feito por meio da escuta ativa, reformulação empática e reconhecimento genuíno dos sentimentos apresentados. 

Ao demonstrar aceitação incondicional, o terapeuta fortalece a relação terapêutica e incentiva o cliente a aprofundar ainda mais sua exploração emocional. Esse suporte é fundamental para que o cliente sinta que suas emoções são compreendidas e legitimadas, facilitando um processo de crescimento pessoal e autoconhecimento.

5. ABERTURA À EXPERIÊNCIA

ü  O cliente demonstra maior flexibilidade e menos rigidez em sua visão de si mesmo.

ü  Aceita melhor seus sentimentos, tanto positivos quanto negativos.

ü  Passa a integrar suas experiências de maneira mais genuína e menos fragmentada. 

Essa fase impacta significativamente o dia a dia do cliente, pois ele passa a reagir de maneira mais adaptativa às situações que antes lhe causavam desconforto.

A aceitação emocional permite uma comunicação mais autêntica em seus relacionamentos, favorecendo vínculos mais saudáveis e a redução de conflitos internos. 

Mudanças comportamentais podem incluir maior espontaneidade, capacidade de expressar emoções sem medo do julgamento e uma postura mais aberta ao aprendizado e às novas experiências. 

O cliente pode também demonstrar maior resiliência diante de desafios, sentindo-se mais confiante em sua capacidade de lidar com dificuldades de maneira equilibrada. 

6. ACEITAÇÃO E CONGRUÊNCIA

ü  O cliente experimenta um senso de autenticidade e autoaceitação.

ü As contradições internas diminuem e há maior alinhamento entre emoções, pensamentos e comportamentos.

ü  A mudança passa a ser vista como algo natural e desejável.

Essa aceitação influencia diretamente a autoimagem do cliente, que passa a se perceber de forma mais positiva e integrada. 

Ele desenvolve uma visão mais realista de si mesmo, reconhecendo tanto suas qualidades quanto suas limitações sem recorrer a autocríticas excessivas. Esse processo fortalece sua autoestima e permite que ele construa uma identidade mais sólida e coerente.

Além disso, essa mudança reflete em suas relações interpessoais, pois o cliente se torna mais genuíno em suas interações. 

Ele passa a estabelecer vínculos mais saudáveis, baseados na autenticidade e no respeito mútuo, diminuindo a necessidade de aprovação externa. 

Como resultado, há um aumento da qualidade de suas conexões sociais, promovendo um maior bem-estar emocional e relacional.

7. VIVÊNCIA PLENA (FUNCIONAMENTO PLENO)

O cliente alcança um estado de autoconfiança e espontaneidade e encontra soluções para seus desafios internos de maneira mais independente, demonstrando capacidade de viver de forma mais autêntica e alinhada com seus valores. 

A longo prazo, essa fase se reflete em um estilo de vida mais equilibrado e harmonioso, no qual o cliente mantém uma atitude aberta à experiência e à aprendizagem contínua.

No entanto, desafios podem surgir, como o risco de recaídas diante de adversidades ou mudanças significativas na vida. 

Para sustentar esse funcionamento pleno, é essencial que o cliente continue exercitando a autoexploração, o autoconhecimento e a aceitação de suas emoções. 

Além disso, manter conexões significativas e buscar apoio quando necessário pode fortalecer essa vivência plena.

Estratégias como a prática da autorreflexão, a manutenção de hábitos saudáveis e a participação em grupos de apoio ou terapia de acompanhamento podem auxiliar na preservação desse estado, garantindo um crescimento contínuo e uma adaptação flexível aos desafios da vida.

CONCLUSÃO

A Psicoterapia Centrada na Pessoa propõe um percurso transformador no qual o cliente, a partir da relação empática e acolhedora oferecida pelo terapeuta, pode desenvolver maior autenticidade, autoconhecimento e aceitação de si mesmo.

O modelo das sete fases possibilita uma compreensão do progresso terapêutico, evidenciando como, gradualmente, o indivíduo passa de um estado de resistência à mudança para uma vivência plena de sua identidade e emoções. 

Compreender essas etapas é fundamental para profissionais da psicologia, pois auxilia na adaptação do atendimento de acordo com as necessidades individuais de cada paciente, respeitando seu tempo e seu processo singular de crescimento pessoal. 

No entanto, é bom lembrar que sssa progressão não é linear, e cada pessoa pode passar por essas fases de maneira única, avançando e retrocedendo em diferentes momentos do processo terapêutico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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