INTRODUÇÃO
O córtex do cíngulo anterior (CCA) tem sido objeto de atenção crescente na neurociência e na psicologia clínica contemporâneas.
Esta região cerebral, situada na parte medial dos hemisférios cerebrais, destaca-se por sua função integradora entre processos cognitivos e afetivos.
Ao conectar estruturas envolvidas com o controle executivo, a memória emocional e a tomada de decisões, o CCA atua como uma ponte funcional entre o mundo interno e as exigências do ambiente externo.
Dada sua plasticidade e sensibilidade às experiências emocionais, torna-se um ponto de interesse na compreensão da dor, do luto e da eficácia das intervenções psicoterápicas.
DEFINIÇÃO
E CARACTERIZAÇÃO
O
córtex do cíngulo anterior é uma sub-região do córtex cingulado, responsável
pela intermediação entre funções emocionais, cognitivas e comportamentais. Ele
exerce um papel determinante na resposta aos estímulos sociais, no
gerenciamento da atenção, na regulação emocional e na modulação da dor, sendo
considerado uma estrutura chave no circuito límbico.
Conforme destacam estudos neurocientíficos, essa região é ativada tanto por estímulos positivos quanto negativos, participando do julgamento da valência emocional das experiências vividas (VOGT, 2016).
LOCALIZAÇÃO ANATÔMICA
O
CCA abrange principalmente as áreas de Brodmann 24, 25, 32 e 33. Ele se
organiza em sub-regiões com funções distintas:
Perigenual (pACC):
Voltado ao processamento emocional e à regulação autonômica e endócrina;
Dorsal
(dACC):
Envolvido no controle cognitivo, particularmente na tomada de decisões e detecção de erros;
Áreas
motoras do cíngulo (CMA):
Responsáveis por traduzir estados emocionais em respostas motoras adaptativas.
Anatomicamente, o CCA se conecta com o córtex pré-frontal, a amígdala, o hipocampo, e outras áreas subcorticais por meio do feixe de substância branca denominado cíngulo, que constitui uma via crítica para a integração entre emoção, memória e comportamento (VOGT; GABRIEL, 2003).
FISIOLOGIA
A
atividade eletrofisiológica do CCA demonstra uma participação ativa em
múltiplos domínios funcionais:
ü
Aproximadamente
25% dos neurônios do CCA codificam expectativas de recompensa;
ü
Outros
25% codificam intenções motoras;
ü E cerca de 11% realizam ambas as funções simultaneamente (KENNERLEY et al., 2006).
Esses dados ilustram o papel do CCA como um centro de convergência entre motivação, ação e consequência, regulando a adaptação comportamental com base na experiência prévia e nas contingências futuras.
PRINCIPAIS
FUNÇÃO E FUNÇÕES GERAIS
Uma das principais funções do giro cingulado é a regulação das emoções, sendo responsável por processar informações relacionadas a sentimentos, como a resposta ao medo, tristeza e estresse.
Além disso, ele também está envolvido na regulação da empatia e da tomada de decisões.
Em relação às funções cognitivas, o giro cingulado está associado à atenção, memória de trabalho e controle motor. Ele desempenha um papel importante na capacidade de direcionar a atenção para tarefas específicas, manter informações relevantes na memória de curto prazo e coordenar movimentos do corpo.
Os giros cerebrais, incluindo o giro cingulado, são essenciais para o funcionamento adequado do cérebro e influenciam diretamente nossas capacidades cognitivas e emocionais
Portanto, é fundamental compreender a anatomia e as funções dessas estruturas para entender melhor o funcionamento do nosso cérebro e como ele afeta nosso comportamento.
O
CCA participa da:
ü
Alocação
de atenção;
ü
Detecção
de conflito cognitivo;
ü
Monitoramento
de desempenho e erro;
ü
Regulação
da motivação social;
ü Tomada de decisão sob condições de incerteza.
Na cognição social, por exemplo, o CCA é ativado quando se avalia a motivação ou intenção de outras pessoas, sendo assim uma estrutura essencial para a empatia e a interação interpessoal (LOCKWOOD et al., 2015).
REGULAÇÃO
EMOCIONAL, DA DOR E DO LUTO
O CCA é uma das principais estruturas responsáveis pela regulação das emoções. Ele integra informações emocionais vindas do córtex orbitofrontal e da amígdala, sendo capaz de modular respostas viscerais frente a experiências internas.
Sua função na dor é notável, tanto na percepção sensorial quanto na resposta afetiva. Pacientes com disfunções nessa área apresentam maior sensibilidade à dor crônica e alterações no limiar emocional.
Em relação ao luto, há evidências de que o CCA subgenual (área 25) esteja hiperativo em estados de sofrimento prolongado, como na depressão maior associada à perda (MAYBERG et al., 2005).
UTILIDADE
NA PSICOTERAPIA
A
relevância clínica do CCA é expressiva:
Preditor de Resposta Terapêutica: Atividades basais no CCA subgenual podem prever melhor resposta à Terapia Cognitivo-Comportamental em pacientes com depressão e transtornos ansiosos (FREEDMAN et al., 2021).
Alvo
de Intervenções:
Técnicas como mindfulness, neurofeedback e reestruturação cognitiva podem ativar e modular o CCA, promovendo autorregulação emocional.
Neurocirurgia
Funcional:
Em casos de transtornos graves e refratários, como o transtorno obsessivo-compulsivo resistente, realiza-se a cingulotomia, uma intervenção que lesiona áreas do CCA para atenuar sintomas.
Dessa forma, o CCA se configura como um importante biomarcador de sofrimento psíquico e um alvo potencial para abordagens terapêuticas personalizadas
CONCLUSÃO
O córtex do cíngulo anterior constitui uma estrutura neurofuncional central para o entendimento da complexa interação entre emoção, cognição e comportamento.
A participação do córtex do cíngulo anterior em processos como regulação emocional, dor, luto e resposta à psicoterapia o coloca como uma peça-chave tanto na pesquisa neurocientífica quanto na prática clínica.
Conhecê-lo em profundidade oferece ao profissional de saúde mental subsídios para intervenções mais eficazes e humanizadas, reconhecendo o papel da neurobiologia na construção subjetiva da experiência.
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M. Neurobiology of Cingulate Cortex and Limbic Thalamus: A Comprehensive
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