quinta-feira, 25 de setembro de 2014

BORDERLINE & BIPOLARIDADE


Borderline é um transtorno de personalidade que traz sérias consequências para a pessoa, seus familiares e seus amigos próximos.

O termo "fronteiriço" se refere ao limite entre um estado normal e um quase psicótico, assim como às instabilidades de humor.

É transtorno que atinge mais as mulheres do que os homens.

1) Sintomas (claro que nem todas as Borderline tem todos estes sintomas):
• Medo de abandono: uma necessidade constante, agonizante de nunca se sentirem sozinhas, rejeitadas e sem apoio.

• Dificuldade de administrar emoções.

• Impulsividade.

• Instabilidade de humor.
  • As oscilações de humor do DAB ou TAB - Distúrbio ou Transtorno Afetivo Bipolar duram semanas ou meses, mas as Borderline têm oscilações de minutos, horas, dias. Essas oscilações de humor incluem depressões, ataques de ansiedade, irritabilidade, ciúme patológico, hetero - e auto-agressividade. Uma paciente marca a consulta informando que está super deprimida, querendo morrer. No dia seguinte chega à consulta bem humorada, bem vestida, maquiada, vaidosa.

• Comportamento auto-destrutivo (se machucar, se cortar, se queimar). As portadoras de Borderline dizem que se machucam para satisfazer uma necessidade irresistível de sentir dor. Ou porque a dor no corpo "é melhor que a dor na alma".

• Tentativas de suicídio, mais freqüentemente as de impulso do que as planejadas.

• Mudanças de planos profissionais, de círculos de amizade.

• Problemas de auto-estima. Borderlines se sentem desvalorizadas, incompreendidas, vazias. Não tem uma visão muito objetiva de si mesmos.

• Muito impulsivas: idealizam pessoas recém conhecidas, se apaixonam e desapaixonam de maneira fulminante.

• Desenvolvem admiração e desencanto por alguém muito rapidamente. Criam situações idealizadas sem que o parceiro objeto do afeto muitas vezes nem tenha idéia de que o relacionamento era tão profundo assim...

• Alta sensibilidade a qualquer sensação de rejeição. Pequenas rejeições provocam grandes tempestades emocionais. Uma pequena viagem de negócios do namorado ou marido pode desencadear uma tempestade emocional completamente desproporcional (acusações de rejeição, de abandono, de não se preocupar com as necessidades dela, de egoísmo, traição, etc.).

• A mistura de idealização por alguém e a extrema sensibilidade às pequenas rejeições que fazem parte de qualquer relacionamento são a receita ideal para relacionamentos conturbados e instáveis, para rompimentos e estabelecimento imediato de novos relacionamentos com as mesmas idealizações.

• Menos freqüente: episódios psicóticos (se sentirem observadas, perseguidas, assediadas, comentadas).

2) Risco aumentado para:
• Compras Compulsivas.

• Sexo de risco.

• Comer Compulsivo, Bulimia, Anorexia.

• Depressão.

• Distúrbios de Ansiedade.

• Abuso de substâncias.

• Transtorno Afetivo Bipolar.

• Outros Transtornos de Personalidade.

• Violência (não só sexual), abusos e abandono, por causa da impulsividade e da falta de crítica para escolher novos parceiros.

3) A causa provável é uma combinação de:
• Vivências traumáticas (reais ou imaginadas) na infância, por exemplo abuso psicológico, sexual, negligência, terror psicológico ou físico, separação dos pais, orfandade.

• Vulnerabilidade individual.

• Stress ambiental que desencadeia o aparecimento do comportamento Borderline.
  • Cuidado com conclusões precipitadas do tipo "você foi abusada" ou "você foi aterrorizada".

4) Evolução:
• Geralmente começa a se manifestar no final da adolescência e início da vida adulta.

• Com o passar dos anos existe uma diminuição do número de internações hospitalares e de tentativas de suicídio.

• Parece piada de mau gosto, mas é uma realidade estatística: a cada tentativa de suicídio que a Borderline sobrevive, diminui a chance de uma nova tentativa.

5) Fatores de bom prognóstico:
• Bons relacionamentos familiares, sociais, afetivos, profissionais.

• Participação em atividades comunitárias: igrejas, clubes, associações culturais, artísticas, etc.

• Baixa ou ausente frequência de auto-agressão.

• Baixa ou ausente frequência de tentativas de suicídio.

• Ser casada.

• Ter filhos.

• Não ser promíscua.

6) Tratamento.
A integração de tratamentos medicamentosos mais psicoterápico trouxe grandes progressos no tratamento do Transtorno Borderline.

• Medicação:
O tratamento medicamentoso inclui Estabilizadores de Humor (mesmo que não se trate de DAB) pois eles ajudam a conter a impulsividade e as oscilações de humor.
 
Antidepressivos e Tranquilizantes não tem a mesma eficácia que teriam em casos de depressões ou ansiedades "puras" mas certamente tem sua utilidade em Borderline.

Embora a medicação seja muito importante, ela é ator coadjuvante. O ator principal no tratamento é a Psicoterapia.

• Psicoterapia:
Não é uma terapia fácil. O que acontece "na vida real" acontece dentro do consultório: instabilidade, alternância de amor e ódio, idealização e desapontamento com o terapeuta, sedução, impulsividade, etc.

Geralmente no início do tratamento a Psicoterapia é mais Analítica, para que a paciente reconheça o problema, suas causas e as consequências na sua vida.

Mais tarde, quando as causas e consequências estiverem bem entendidas pela paciente, a Psicoterapia Cognitivo Comportamental (TCC) é mais útil, pois ela ensina a paciente a ter comportamentos alternativos mais saudáveis.

Isso quer dizer o seguinte: o tratamento exige paciência, persistência, disciplina e muito boa vontade.
Pacientes gratos hoje podem se mostrar ingratos amanhã.

Terapeutas que hoje são vistos como atenciosos e dedicados podem ser criticados e vistos como monstros amanhã.

7) Diferença entre transtorno borderline e bipolar
Comecemos pela impulsividade, sobretudo por gastos, que parece ser a mais importante clinicamente.

O borderline pode ter impulsividade por gastos, comida, ou seja lá o que for, para tentar preencher uma saciedade que ironicamente nunca é saciada.

Enquanto o bipolar usualmente faz gastos (quando é o caso) simplesmente por euforia, o borderline faz gastos para tentar preencher seu vazio interior.

Neste caso o borderline compra/adquire coisas sem valor real agregado em busca de tentar preencher seu vazio e sofrimento de uma forma imediata. Porém o resultado prático é geralmente o mesmo, embora as razões sejam diferentes em sua essência entre os dois transtornos.

Já outros borderlines podem se cortar. Aliás, uma grande parte se corta, segundo estatísticas médicas: cerca de 52,2% se cortam. Os motivos podem ser vários, incluindo a necessidade de talvez sentir alívio ao saberem que não estão de fato vazios literalmente, o que seria uma "semi-psicose"*.

Outros, borderlines, mais raramente, conseguem se encontrar de fato na vida, descobrirem um propósito de vida, um lugar no mundo, o que ameniza muito o transtorno como um todo.

A diferença básica entre um borderline e um bipolar provavelmente está aí!

Resumindo bastante, o borderline tem oscilações de humor por causa de sua falta de sincronia com o mundo, com a sociedade, então quando ele "se encontra" no mundo, encontra um papel a desempenhar no mundo, suas oscilações consequentemente diminuirão bastante.
 
O bipolar, nesse mesmo contexto, tem a origem de seu transtorno nas "pontas" e não na "raiz", como é o caso do borderline.

O bipolar tem oscilações de humor independente de seu papel no mundo, sendo algo mais bioquímico e menos existencial, enquanto que o borderline tem suas oscilações de pensamento/ideações/humor por causa de sua distorção intrínseca em relação ao mundo, sendo algo mais existencial, onde não podem ser descartadas a problemática genética e de desordem bioquímica cerebral, naturalmente, que no mínimo contribuem para que o transtorno seja desenvolvido em determinados grupos mais suscetíveis, posto que quase todos são submetidos a condições semelhantes, porém apenas uma minoria desenvolve o transtorno propriamente dito.
 
Diante disso, o bipolar não costuma melhorar com a idade, embora sua impulsividade possa diminuir com a idade, enquanto que o borderline comprovadamente melhora com a idade, sobretudo após os 35 anos, mas em contrapartida responde de maneira menos previsível às medicações. Posto que isso é óbvio: como há de se tratar uma personalidade através apenas de medicações? Isso é virtualmente impossível.

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