segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O STRESS E SUA FISIOLOGIA

 
A realidade do stress
“No Stress”. Não há quem nunca tenha ouvido, dito ou mesmo lido em algum lugar essa expressão em inglês; que se popularizou no Brasil e até virou jargão.
 
Quem já viajou pelo nordeste, com certeza já viu camisetas, adesivos e todos os tipos de artigos para turistas com essa estampa, que traduzida para o português quer dizer “Sem Estresse”.
 
O lado bom e o lado ruim do stress
Mas, para o espanto de muitos, o temido estresse pode ser um fator positivo e necessário na vida de qualquer um.
 
Como assim? Segundo especialistas, a vida seria muito monótona sem estresse.
 
Um pouco dele traz certa dose de emoção, de desafio, necessários para que as pessoas sintam-se mais estimuladas a vencer os obstáculos do cotidiano.
 
A ansiedade pode ser um fator de crescimento, não só de destruição. Se você não tem angústias, desafios a serem vencidos não têm estímulo para produzir.
 
A ansiedade em fazer um bom trabalho, por exemplo, pode ser algo positivo, dentro dessa colocação, esclarece o presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília, doutor Antônio Geraldo da Silva.

É claro que os limites para o “estresse positivo” devem ser controlados.
 
Quando o stress começa a ser prejudicial
Quando um indivíduo começa a sofrer muita pressão no dia-a-dia, o resultado é exatamente o contrário; ao invés de estímulo, o estresse provoca uma queda de produção no trabalho, mal estar físico e muitos outros fatores nocivos.
 
Por isso, é sempre bom monitorar os níveis de estresse para que não cheguem a ser prejudiciais. “Um grande desafio neste estressante mundo atual é fazer o estresse na vida trabalhar a seu favor e não contra você”, destaca o doutor Antônio Silva.

Cada um tem o seu limite para o estresse. A mesma situação pode causar reações diferentes, dependendo das particularidades de cada pessoa.
 
Se você for um executivo que gosta de se manter ocupado o tempo todo,” ficar ocioso” na praia, em um lindo dia, pode fazê-lo sentir-se extremamente frustrado, não-produtivo e chateado”, explica o doutor.

Portanto, antes de tudo, é preciso detectar as situações que desencadeiam um alto nível de estresse, evitando-a.
 
Reconhecer os primeiros sinais de tensão e então fazer algo a respeito pode significar uma importante diferença na qualidade de vida.

Um dos primeiros cientistas a demonstrar experimentalmente a ligação do estresse com o enfraquecimento do sistema imunológico foi Louis Pasteur (1822-1895). Em estudo pioneiro no final do século 19, ele observou que galinhas expostas a condições estressantes eram mais suscetíveis a infecções bacterianas que galinhas não estressadas.
 
Doenças que podem ser causadas pelo stress
Desde então, o estresse é tido como um fator de risco para inúmeras patologias que afligem as sociedades humanas, como patologias cardiovasculares (arteriosclerose, derrame), metabólicas (diabetes insulino-resistente ou tipo 2), gastrointestinais (úlceras, colite), distúrbios do crescimento (nanismo psicogênico, aumento do risco de osteoporose), reprodutivas (impotência, amenorréia, aborto espontâneo), infecciosas (herpes labial, gripes e resfriados), reumáticas (lupus, artrite reumatóide), câncer e depressão.
 
Incidência de stress no mundo atualmente
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o estresse afeta mais de 90% da população mundial e é considerado uma epidemia global. Na verdade, sequer é uma doença em si: é uma forma de adaptação e proteção do corpo contra agentes externos ou internos. 
 
Tipos de estressores
Primeiro tipo
Estressores sensoriais ou físicos envolvem um contato direto com o organismo. Estaria incluídos, nesse caso, subir escadas, correr uma maratona, sofrer mudanças de temperatura (calor ou frio em excesso), fazer vôo livre ou bungee jumping etc.
 
Segundo tipo
Já o estresse psicológico acontece quando o sistema nervoso central é ativado através de mecanismos puramente cognitivos, como brigar com o cônjuge, falar em público, vivenciar luto, mudar de residência, fazer exames na escola ou de vestibular, cuidar de parentes com doenças degenerativas (como mal de Alzheimer, que causa demência) e outros.
 
Terceiro tipo
Um terceiro tipo de estressor pode ainda ser considerado: as infecções. Vírus, bactérias, fungos ou parasitas que infectam o ser humano induzem a liberação de citocinas (proteínas com ação regulatória) pelos macrófagos, glóbulos brancos especializados na destruição por fagocitose de qualquer invasor do organismo.  As citocinas, por sua vez, ativam um importante mecanismo endócrino de controle do sistema imunológico.
 
Os estágios do stress no organismo humano
A reação do organismo aos agentes estressores pode ser dividida em três estágios, a saber:
 
Primeiro estágio
No primeiro estágio (alarme), o corpo reconhece o estressor e ativa o sistema neuroendócrino.
Inicialmente há envolvimento do hipotálamo, que ativa o sistema nervoso autônomo, em sua porção simpática.
 
O hipotálamo também secreta alguns neurotransmissores, como dopamina, noradrenalina e fator liberador de corticotrofina. Esse último estimula a liberação de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) pela hipófise, que também aumenta a produção de outros hormônios, tais como ADH, prolactina, hormônio somatotrófico (STH ou GH - hormônio de crescimento), hormônio tireotrófico (TSH).

O ACTH estimula as glândulas supra-renais a secretarem corticóides e adrenalina (catecolamina).
 
As glândulas adrenais passam  então a produzir e liberar os hormônios do estresse (adrenalina e cortisol), que aceleram o batimento cardíaco, dilatam as pupilas, aumentam a sudorese e os níveis de açúcar no sangue, reduzem a digestão (e ainda o crescimento e o interesse pelo sexo), contraem o baço (que expulsa mais hemácias para a circulação sangüínea, o que amplia a oxigenação dos tecidos) e causa imunodepressão (redução das defesas do organismo).
 
A função dessa resposta fisiológica é preparar o organismo para a ação, que pode ser de “luta” ou “fuga”.
 
Nessa fase também pode ocorrer tento uma inibição quanto um aumento desmedido de hormônios gonadotróficos.
 
Segundo estagio
No segundo estágio, (adaptação), o organismo repara os danos causados pela reação de alarme, reduzindo os níveis hormonais.
 
Terceiro estágio
No entanto, se o agente ou estímulo estressor continua, o terceiro estágio (exaustão) começa e pode provocar o surgimento de uma doença associada à condição estressante, pois nesse estágio começam a falhar os mecanismos de adaptação e ocorre déficit das reservas de energia.
 
As modificações biológicas que aparecem nessa fase assemelham-se àquelas da reação de alarme, mas o organismo já não é capaz de equilibrar-se por si só.

O estresse agudo, repetido inúmeras vezes pode, por essa razão, trazer conseqüências desagradáveis, incluindo disfunção das defesas imunológicas.

O estresse pode provocar também mudança nos receptores pós-sinápticos normais de GABA (principal neurotransmissor inibidor do SNC), levando a superestimulação de neurônios e resultando em irritabilidade do sistema límbico.
 
A presença de GABA diminui a excitabilidade elétrica dos neurônios ao permitir um fluxo maior de íons cloro. A perda de uma das sub-unidades-chave do receptor GABA prejudica sua capacidade de moderar a atividade neuronal.


De modo geral, pode-se afirmar que o organismo humano está muito bem adaptado para lidar com estresse agudo, se ele não ocorre com muita freqüência. Mas quando essa condição se torna repetitiva ou crônica, seus efeitos se multiplicam em cascata, desgastando seriamente o organismo.

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