quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

SÍNTESE DA PSICANÁLISE FREUDIANA - PARTE 5: A TEORIA PSICANALÍTICA DOS TRANSTORNOS MENTAIS


A TEORIA PSICANALÍTICA DOS TRANSTORNOS MENTAIS

A melhor maneira de definir “distúrbio” é caracterizá-lo como deficiência psicológica com repercussão na área emocional e interpessoal. Este termo caracteriza uma faixa que vai desde formas neuróticas leves até a loucura, na plenitude do seu termo.

"Normal" seria aquela personalidade com capacidade de viver eficientemente, manter um relacionamento duradouro e emocionalmente satisfatório com outras pessoas, trabalhar produtivamente, repousar e divertir-se, ser capaz de julgar realisticamente suas falhas e qualidades, aceitando-as.

A falha de uma ou outra dessas características pode indicar a presença de uma deficiência psicológica ou “distúrbio” mental.

Classificam-se os distúrbios mentais em 3 grandes tipos básicos:

1º Tipo: Neuroses

É a existência de tensão excessiva e prolongada, de conflito persistente ou de uma necessidade longamente frustrada, é sinal de que na pessoa se instalou um estado neurótico.

A neurose determina uma modificação, mas não uma desestruturação da personalidade e muito menos de perda de valores da realidade.

Costuma-se catalogar os sintomas neuróticos em certas categorias, como:

a) Ansiedade: a pessoa é tomada por sentimentos generalizados e persistente de intensa angústia sem causa objetiva. Alguns sintomas são: palpitações do coração, tremores, falta de ar, suor, náuseas. Há uma exagerada e ansiosa preocupação por si mesmo.

b) Fobias: uma área da personalidade passa a ser possuída por respostas de medo e ansiedade. Na angústia o medo é difuso e quando vem à tona é sinal de que já existia, há longo tempo. Se apresenta envolta em muita tensão, preocupação, excitação e desorganização do comportamento. Na reação fóbica, o medo se restringe a uma classe limitada de estímulos. Verifica-se a associação do medo a certos objetos, animais ou situações.

c) Obsessiva-Compulsiva: A Obsessão é um termo que se refere a idéias que se impõem repetidamente à consciência. São por isto dificilmente controláveis. A compulsão refere-se a impulsos que levam à ação. Está intimamente ligada a uma desordem psicológia chamada transtorno obsessivo-compulsivo.

2º Tipo: Psicoses

O psicótico pode encontrar-se ora em estado de depressão, ora em estado de extrema euforia e agitação. Em dado momento age de um modo e em outro se comporta de maneira totalmente diferente. Houve uma desestruturação da sua personalidade. O dado clínico para se aferir à psicose é a alteração dos juízos da realidade.

O psicótico passa a perceber a realidade de maneira diferente. Por isso, faz afirmações e tem percepções não apoiadas nem justificadas pelos dados e situações reais.

Nas psicoses, além da alteração do comportamento, são comuns alucinações (ouvir vozes, ter visões e delírios). Pode ser possuído por intensas fantasias de grandeza ou perseguição. Pode sentir-se vítima de uma conspiração assim como se julgar milionário, um ser divino, etc. As Psicoses se manifestam como:

a) Esquizofrenia: apatia emocional, carência de ambições, desorganização geral da personalidade, perda de interesse pela vida nas realizações pessoais e sociais. pensamento desorganizado, afeto superficial e inapropriado,riso insólito, bobice, infantilidade, hipocondria, delírios e alucinações transitórias.

b) Maníaca-depressiva: caracteriza-se por perturbações psíquicas duradouras e intensas, decorrentes de uma perda ou de situações externas traumáticas. O estado maníaco pode ser leve ou agudo. É assinalado por atividade e excitamento. Os maníacos são cheios de energia, inquietos, barulhentos, falam alto e têm idéias bizarras, uma após outra.

O estado depressivo, ao contrário, caracteriza-se por inatividade e desalento. Seus sintomas são: pesar, tristeza, desânimo, falta de ação, crises de choro, perda de interesse pelo trabalho, por amigos e família, bem como por suas distrações habituais. Torna-se lento na fala, não dorme bem à noite, perde o apetite, pode ficar um tanto irritado e muito preocupado.

c) Paranóia: caracteriza-se sobretudo por ilusões fixas. É um sistema delirante. As ilusões de perseguição e de grandeza são mais duradouras do que na esquizofrenia paranoide. Os ressentimentos são profundos. É agressivo, egocêntrico e destruidor. Acredita que os fins justificam os meios e é incapaz de solicitar carinho. Não confia em ninguém

d) Psicose alcoólica:é habitualmente marcada por violenta intranqüilidade, acompanhada de alucinações de uma natureza aterradora.

e) Arteriosclerose Cerebral : evolui de um modo semelhante a demência senil. O endurecimento dos vasos cerebrais dá lugar a transtornos de irrigação sangüínea, as quais são causa de que partes isoladas do cérebro estejam mal abastecidas de sangue. Os sintomas são, formigamento nos braços e pernas, paralisias mais ou menos acentuadas, zumbidos no ouvido, transtorno de visão, perturbações da linguagem em forma de lentidão ou dificuldade da fala.

3º Tipo: Psicopatias

Os psicopatas não estruturam determinadas dimensões da personalidade, verificando-se uma espécie de falha na própria construção.

Os principais sintomas das psicopatias são: Diminuição ou ausência da consciência moral. O certo e o errado; o permitido e o proibido não fazem sentido para eles.

Desta maneira, simular, dissimular, enganar, roubar, assaltar, matar, não causam sentimentos de repulsa e remorso, em suas consciências.

O único valor para eles é seus interesses egoístas: Inexistência de alucinações; ausência de manifestações neuróticas; falta de confiança; Busca de estimulações fortes; Incapacidade de adiar satisfações; Não toleram um esforço rotineiro e não sabem lutar por um objetivo distante; Não aprendem com os próprios erros, pelo fato de não reconhecerem estes erros; Em geral, têm bom nível de inteligência e baixa capacidade afetiva; Parecem incapazes de se envolver emocionalmente.

E por fim, não entendem o que seja socialmente produtivo.

Avaliação e crítica da teoria

A teoria freudiana é a mais influente das teorias do desenvolvimento da personalidade e dos transtornos mentais. Ela influenciou grande parte do pensamento psicoterapêutico durante todo o século XX. Seus principais pontos fortes são:

1. A introdução de novos processos psíquicos, como o inconsciente, a sexualidade infantil, id, ego e superego, além de acentuar a importância dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento do indivíduo e

2. a ênfase no desenvolvimento emocional da criança, ao contrário de outras teorias que enfatizam somente o desenvolvimento cognitivo. A teoria freudiana procura explicar porque os seres humanos não se comportam sempre de maneira lógica e como o conteúdo do pensamento abranje mais do que a pesquisa cognitiva costuma estudar.

As principais críticas à teoria freudiana referem-se a:

1. O problemas metodológicos com relação à coleta dos dados:

O uso dos métodos próprios da psicanálise exige que o pesquisador seja ele mesmo um psicanalista.

A longa formação exigida para isso provoca, por um lado, problemas práticos (ex. custo) e também problemas com relação à imparcialidade da pesquisa, uma vez que após a longa formação psicanalítica um pesquisador dificilmente poderá ser imparcial;

2. as sessões psicoterapêuticas de Freud, com base nas quais suas teorias foram desenvolvidas, não foram gravadas, mas reconstruidas de memória, às vezes imediatamente depois das sessões, às vezes apenas horas mais tarde; dessa forma suas anotações podem ser vítimas das distorções típicas da memória (ex. se lembrar apenas de fatos que se enquadram na teoria);

3. Um problema similar se refere a basear teorias sobre a infância em lembranças de adultos.

2. Problemas metodológicos com relação à possibilidade de comprovação da teoria: os conceitos freudianos são de difícil definição e operacionalização. Isso quer dizer que um mesmo comportamento observável pode ser explicado por diferentes processos psíquicos e viceversa, o que dificulta a realização de um exame empírico de tais conceitos.

3. A ênfase excessiva da sexualidade infantil. Apesar de ter sido a primeira a chamar a atenção para essa face até então desconhecida do desenvolvimento humano, deixou de lado muitas outras faces, como a influência social.

Assim, Malinowski encontrou entre os povos de Papua-Nova Guiné por ele pesquisados poucos indícios do complexo de Édipo, tal como descrito por Freud.

Ligado a esse problema se encontra outro, ligado à estrutura tautológica com que a teoria freudiana muitas vezes se reveste: criticas à teoria são, por vezes, vistas como formas de repressão dos conteúdos inconscientes.

Assim, ou a pessoa concorda com a teoria ou ela está reprimindo algum conteúdo inconsciente, o que comprova a teoria.

Importante é observar que, apesar dos problemas e das críticas, a teoria freudiana abriu caminho a muitas e frutíferas linhas de pesquisa posterior.

Neurose

O termo neurose (do grego neuron (nervo) e osis (condição doente ou anormal)) foi criado pelo médico escocês William Cullen em 1787 para indicar "desordens de sentidos e movimento" causadas por "efeitos gerais do sistema nervoso".

Na psicologia moderna, é sinônimo de psiconeurose ou distúrbio neurótico e se refere a qualquer transtorno mental que, embora cause tensão, não interfere com o pensamento racional ou com a capacidade funcional da pessoa. Essa é uma diferença importante em relação à psicose, desordem mais severa.

Definição e utilização do termo

Neuroses são quadros patológicos psicogênicos (ou seja, de origem psíquica), muitas vezes ligados a situações externas na vida do indivíduo, os quais provocam transtornos na área mental, física e/ou da personalidade.

De acordo com a visão psicanalítica, as neuroses são fruto de tentativas ineficazes de lidar com conflitos e traumas inconscientes.

O que distingue a neurose da normalidade é assim (1) a intensidade do comportamento e (2) a incapacidade do doente de resolver os conflitos internos e externos de maneira satisfatória.

O conceito de neurose está assim intimamente ligado à teoria nosológica psicanalítica, ou seja, à maneira como a psicanálise explica a origem e o desenvolvimento dos transtornos mentais.

Por isso psicólogos oriundos de outras escolas, sobretudo da terapia cognitivo-comportamental, foram levados a criticar o termo: como tais psicoterapeutas não trabalham com os conceitos psicanalíticos, um diagnóstico de neurose não tem para eles nenhum sentido prático.

Essa crítica levou a uma modificação dos sistemas de classificação de doenças: os atuais sistemas de classificação dos transtornos mentais abandonaram uma abordagem nosológica e adotaram uma descritiva.

Isso significa que os transtornos não são mais classificados pela suposta origem do transtorno (por esta ser controversa), mas por seus sintomas observáveis (por estes serem unânimes).

Assim, na CID-9 havia uma categoria "Neuroses" de transtornos mentais própria, já com a publicação da CID-10 em 1994 o termo passou a ser usado apenas descritivamente (e não mais "neuroses", mas "transtorsnos neuróticos") e não para todas as categorias que ele tradicionalmente designava.

Segundo a CID-9, sob neurose entendem-se os seguintes grupos de transtornos mentais:
Transtornos fóbicos-ansiosos e outros transtornos de ansiedade;
• Transtorno obsessivo-compulsivo
• Transtornos dissociativos (de conversão)
• Transtornos somatoformes
• Distimia e determinados tipos de depressão
• Neurastenia


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