terça-feira, 13 de setembro de 2016

LUTO – COMO LIDAR COM A PERDA DE ALGUÉM QUERIDO


O assunto em questão faz parte da TANATOLOGIA. 

TANATOLOGIA é a ciência que estuda os processos emocionais e psicológicos que envolvem as reações à perda, o luto e a morte.

A morte está presente na vida de todos nós, para alguns mais cedo, para outros, de modo mais trágico, e para os privilegiados, de forma a corresponder com os grandes ciclos naturais da vida. 
Embora parte da vida, a morte é vista em nossa sociedade como algo a ser evitado, postergado, como se morrer fosse adversário do processo de viver.

ESSA VISÃO SE BASEIA EM TRÊS PRINCÍPIOS. 
A MORTE INTERROMPE UM PROCESSO
Primeiramente, quando se está na vida, é preciso encontrar forças para lutar por ela e a morte elimina qualquer possibilidade de continuidade dentro da mesma perspectiva de antes. 

Pode-se falar, é claro, da continuidade espiritual, da prevalência das memórias que mantêm viva uma pessoa que se foi.

Mas o fato é que a morte interrompe um processo, modificando as possibilidades e os rumos dos envolvidos. 

Por isso, a batalha entre pulsão de vida e pulsão de morte, coloca muitas vezes as duas em extremidades opostas, apesar de a morte estar contida na vida e esta naquela.

O PÓS-MORTE
O segundo ponto que nos faz temer a morte é o que vem depois dela. 

De todas as transformações, a morte é a mais definitiva e profunda, arrebatando nosso ser para uma realidade completamente desconhecida. 

Se há vida depois da morte, eis uma questão de foro íntimo, uma questão de fé e de percepção de vida. 

Da perspectiva da Terra, pura e simples, o que há na morte é a saudade e o encerramento de uma história. 
Se esse encerramento é uma passagem para um mundo diferente do nosso, nem todos conseguem se agarrar a essa esperança.

EVITAÇÃO DA DOR
E finalmente, o último elemento que nos faz ter repulsa à ideia da morte é a dor.

 Em qualquer língua, em qualquer época, em qualquer história, dor é dor, e requer muito treino, paciência e aceitação para se tornar construtiva em nossa trajetória. 

A dor é uma violência para a alma e nos tira do patamar de compreensão que tínhamos até então para nos lançar ao estado do limbo, no qual não se pertence a mundo nenhum, pois a conexão com a realidade fica frágil.

PROCESSO DE LUTO
O LUTO
O luto é um processo de angustia resultado de uma perda significativa em nossa vida e tende a fazer parte de todo fim que vivenciamos. 

Ao contrario do que muitos pensam e dizem o LUTO não é um transtorno ou uma doença, logo não é algo a ser curado ou evitado, mas sim COMPREENDIDO, ACOLHIDO e ELABORADO (no contexto daquela pessoa, daquele momento de vida e conforme grau da relação e impacto da perda) e às vezes um auxílio profissional, como psicanalítico e/ou psicológico, pode ser necessário.

Quando se perde alguém violentamente, de modo repentino ou inesperado, quem fica permanece nesse limbo por um tempo indeterminado. 

É comum pessoas em processo de luto por morte abrupta serem tomadas por um estado de catatonia, semelhante a um morto-vivo, ou a um robô, que passa a agir no "piloto-automático", sem domínio ou vontade de controlar suas ações. 

Uma parte continua vivendo, pois entende ser necessário, mas a outra não está lá. 

A alma fica dividida e constantemente, o enlutado sente que morreu também e que sua história nunca mais será a mesma.

De fato, nunca mais será, pois a morte marca a alma. 

Entretanto, estamos na vida para sermos transformados a partir das experiência que o acaso (será?) nos propõe. 

A superação só se dá a partir de um longo processo e ela não significa esquecer, fingir que não aconteceu ou ainda não sentir dor quando lembrar. 

Superar significa apenas aceitar e continuar.

PERGUNTAS SEM RESPOSTAS
No processo de luto algumas perguntas passam pela mente de qualquer pessoa; perguntas que nem sempre tem respostas, a saber:

Mas como aceitar algo que não faz sentido? 
Algo que não vem com avisos, que não parece ter um por que dentro da lógica do merecimento? 
Como aceitar a morte de alguém bom, que tinha uma vida enorme pela frente? 
E que o destino levou em segundos, sem nos ter orientado para aquele momento? 
Como continuar sem ter mais vontade de viver, sem ter um sentido que nos norteie?

AS VÁRIAS FASES PARA RESOLUÇÃO DO LUTO - DA DOR À ACEITAÇÃO
REAÇÃO INICIAL
Uma reação bastante comum inicial seria a de procurar culpados, alguém em quem se possa descarregar a dor. 

O fato é que isso, além de gerar novas dores, não traz a pessoa de volta.

Alguns dizem que buscar justiça traz alívio. 

Entretanto, no caso de acidentes e não de crimes intencionais, culpar alguém só agrava a situação.

REAÇÕES AO LUTO
Não há atitude padrão para estar de luto. 

Algumas pessoas se calam, se fecham em seus mundos, se afastam, enquanto outras se tornam ativas, querem falar, chorar abertamente, estar acompanhadas. 

Não devemos nos prender ou avaliar uma reação, por si só, afinal cada ser humano tem o direito de sentir e vivenciar em sua particularidade. 

Podemos notar que independente a reação, ambos os casos possuem em comum a necessidade de ter sua dor de perda acolhida e respeitada.

Os primeiros dias tendem a ser terríveis, sendo mais comum os choros descontrolados, atitudes agressivas ou intensas, falta de apetite e de sono.

Com o passar do tempo, (e este tempo é particular para cada ser humano), estas reações tendem a ganhar uma estabilidade, não falo ainda em desaparecer, mas sim devem ocorrer de forma mais organizada. 

E assim a tendência é que o luto se encaixe na vida da pessoa e fique presente por algum tempo, podendo ser meses ou anos, oscilando as intensidades e as formas de expressões.

QUANDO O LUTO NECESSITA DE CUIDADO ESPECIAL
Geralmente, só devemos nos alertar para uma preocupação, quando o quadro de luto gerar sintomas que sugerem exagero no sofrimento e prejuízo na vida como: abandonar emprego, escola, namoro ou casamento, não conseguir se preocupar com seus filhos ou com suas contas, emagrecer ou engordar significativamente, assim como reações sintomáticas frequentes e intensas, como desmaios, taquicardias, dores diversas.

O sinal do exagero e da intensidade desestruturada sugere o não saudável e portanto é merecedora de atenção e talvez de acompanhamento psicológico. 

E o acompanhamento de um profissional pode ser muito bem vindo, por propiciar a pessoa uma possibilidade de reconhecer seus sintomas de sofrimento, de entender suas reações e para expressar sua dor e assim ir aliviando sua angustia.

Uma angustia não negada e bem acolhida tende a gerar a possibilidade de se refazer na vida, com a pessoa saindo mais fortalecida para continuar sua história.

AS FASES DE RESOLUÇÃO DO LUTO
Há fases no processo de aceitação de morte. 

A estudiosa Elizabeth Kluber-Ross, autora de vários livros sobre o tema, alerta que em geral, diante da morte qualquer ser humano passa por cinco estágios: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. 

Esses estágios não necessariamente são subsequentes, podendo estar misturados e serem vividos ao mesmo tempo.

NEGAR
Negar é não poder ver e usar recursos para afastar a realidade que dói. 

Entre esses recursos temos uma infinidade de ações: acreditar que o morto ainda voltará manter todos os objetos dele intactos, como se estivessem à espera do falecido, ou ainda negar a dor da situação, indo se divertir de modo desproporcional ao que o momento pediria, ou entregando-se a algum vício.

RAIVA
Ter raiva é querer culpar alguém. É procurar um responsável pela dor. Ter raiva é pensar que poderia ter sido diferente se o fulano não tivesse errado nisso, se o médico tivesse tentado aquilo, se a pessoa que ficou tivesse chegado minutos antes.

A raiva não permite encarar o processo como algo que fugiu do controle, querendo devolver aos mortais o domínio do destino. 

A raiva é necessária para descarregar, mas é um esforço quase vão que nos liga ao passado.

BARGANHAR
Barganhar é tentar negociar com o destino. Fazer magia, fazer promessa, buscar psicografia. 

Esses recursos são importantes, mas ainda demonstram uma ligação com um passado que não se quer deixar ir. 

Ouvir uma palavra psicografada não deve ser um recurso proveniente de uma busca desesperada por contato, mas sim, algo que espontaneamente surge, se for essa a crença de quem fica.

DEPRESSÃO
A depressão é o último estágio antes da aceitação e não é por acaso. 

Quem se deprime está mais perto de ver as coisas como elas são e ver a devastação que a morte causou. O perigo desse estágio é o tempo de permanência. 

A depressão é a maior ladra da vida e por isso deve ser combatida quando o tempo é superior a seis meses e a intensidade tira o enlutado das atividades que o ligam à vida (trabalho, convívio familiar, convívio social, saúde, fé no futuro).

ACEITAÇÃO
Finalmente, a aceitação é o processo que nos torna capazes de ver, tocar, falar sobre a morte e ao mesmo tempo, deixá-la ir para onde tiver que ir, longe de nossos domínios, de nosso controle racional. 

Deixar ir não significa esquecer, tampouco não sofrer nunca mais. Deixar ir é fazer as pazes com o tempo, com novas chances para quem ficou, com a única certeza de que absolutamente tudo muda e que é preciso se transformar junto com a vida e com a morte.

COMO AGIR DIANTE DE UM ENLUTADO?
Vale um alerta para aquelas pessoas que costumam dizer, e normalmente por não saberem o que dizer nestas situações de perdas, as seguintes frases: “Não chore, não sofra, ele(a) não quer te ver triste...”

Sabemos ou imaginamos que na maioria dos casos estas falas possuem boas intenções, é realmente muito difícil ver alguém sofrer e não poder gerar este alívio. 

Mas chamo aqui a atenção para que compreendam que estes dizeres sugerem um grande disfarce ou até mesmo uma proposta de negação do luto, logo da perda. E neste momento delicado e fragilizado isto é tudo que não deve acontecer. Pois o fim já está instalado e ele dói.

O luto não é algo ruim, na verdade ele é necessário. É uma etapa que precisamos encarar compreender, vivenciar para continuarmos vivendo de forma equilibrada e saudável.

 Assim nestas situações talvez tudo que nos caiba seja de fato um bom abraço, uma oferta de colo, de ajuda com questões burocráticas ou mesmo a nossa presença ao lado. 

Mostrando que a tristeza atinge a todos, mas que estão ali unidos para chorarem e se ajudarem nesta fase difícil de vida.

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