domingo, 6 de outubro de 2024

A TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS E SEUS IMPACTOS NA VIDA DAS PESSOAS


Introdução 

A Teoria das Janelas Quebradas foi desenvolvida pelos criminologistas James Q. Wilson e George L. Kelling em um artigo publicado em 1982. 

A ideia central da teoria é que a desordem e a negligência em um ambiente urbano podem levar a um aumento do crime e do comportamento antissocial. 

A metáfora da “janela quebrada” sugere que, se uma janela em um prédio estiver quebrada e não for consertada, outras janelas logo serão quebradas, gerando uma sensação de caos e permissividade.

Aqui está uma explicação detalhada da teoria e seus impactos:

Conceito da Teoria

A Teoria das Janelas Quebradas sugere que pequenos sinais de desordem, como grafites, lixo espalhado, vandalismo ou janelas quebradas, podem criar um ambiente que indica falta de controle social. Essas situações sinalizam aos habitantes e visitantes da área que o comportamento desrespeitoso às regras sociais é tolerado, o que pode encorajar atos mais graves de incivilidade, culminando em crimes mais sérios. 

A desordem física, segundo essa lógica, contribui para a desordem social.

A principal premissa é que pequenas infrações, se ignoradas, levam a infrações maiores, e a ausência de medidas para coibir a degradação ambiental pode ter um efeito multiplicador no crime.

 Assim, consertar rapidamente janelas quebradas, remover grafites ou limpar áreas deterioradas são vistos como formas de prevenir a escalada de problemas.

Impactos Psicológicos e Sociais

1. Efeito psicológico nas pessoas

Sensação de insegurança: 

Quando uma área apresenta sinais visíveis de abandono ou vandalismo, os indivíduos podem se sentir mais vulneráveis. 

A presença de desordem sugere que não há autoridade ou controle, o que gera medo de crimes mais graves. 

Mesmo quem não sofreu diretamente com crimes pode começar a evitar certas áreas, levando a uma queda na percepção de segurança.

Comportamento imitativo: 

A desordem visível pode normalizar comportamentos incivilizados. 

Pessoas tendem a imitar o comportamento que veem ao seu redor. Se observam lixo no chão, podem achar que jogar mais lixo é aceitável. Esse fenômeno é chamado de contágio social.

Redução do sentimento de pertencimento: 

Áreas negligenciadas e desorganizadas podem fazer com que as pessoas se sintam menos conectadas à sua comunidade. Elas podem acreditar que sua presença ou ação individual tem pouca importância, levando a um desengajamento social e à deterioração das relações comunitárias.

2. Impacto na criminalidade

Crimes de oportunidade: 

A desordem física indica que há menos vigilância ou aplicação de normas na área. Isso pode atrair criminosos de oportunidade que veem a área como um local propício para a prática de crimes. 

O ambiente, assim, pode facilitar a ocorrência de delitos como assaltos, arrombamentos e tráfico de drogas.

Escalada de crimes: 
A teoria sugere que, se pequenos crimes ou incivilidades não forem reprimidos, isso pode levar à ocorrência de crimes mais sérios. Pequenas desordens podem criar um ciclo de retroalimentação em que o crime e a deterioração social se intensificam mutuamente, criando uma espiral de declínio urbano.

3. Efeitos sobre as políticas públicas

Políticas de tolerância zero: 

Em várias cidades ao redor do mundo, como Nova York na década de 1990, a Teoria das Janelas Quebradas influenciou a adoção de políticas de tolerância zero. Essas políticas se concentraram em reprimir rigorosamente delitos menores (como pichação, evasão de tarifas de transporte, e pequenos furtos), na esperança de impedir crimes maiores.

Manutenção do espaço público: 

A teoria também influenciou programas de revitalização urbana, onde a atenção à manutenção do espaço público, à limpeza e à segurança se tornou prioridade. 

Manter ruas e parques limpos, reparar rapidamente infraestruturas danificadas e criar uma vigilância comunitária ativa têm sido abordagens práticas baseadas nessa teoria.

Críticas à Teoria das Janelas Quebradas

Apesar de sua popularidade, a Teoria das Janelas Quebradas também recebeu críticas:

Superficialidade da relação entre desordem e crime: 

Alguns críticos afirmam que o foco exclusivo nos sinais visíveis de desordem pode desconsiderar as causas subjacentes do crime, como desigualdade econômica, discriminação e falta de oportunidades sociais. 

Ou seja, consertar janelas e limpar ruas pode mascarar problemas mais profundos, sem resolver as raízes estruturais da criminalidade.

Tolerância zero e injustiça social: 

As políticas de tolerância zero, muitas vezes derivadas dessa teoria, foram criticadas por punirem desproporcionalmente comunidades pobres e minorias raciais, resultando em taxas mais altas de prisões por pequenos delitos. 

Isso gerou um debate sobre a equidade da aplicação da lei, com acusações de que essas práticas podem agravar a marginalização de certas populações.

Eficácia questionável: 

Alguns estudos sugerem que a redução do crime em cidades como Nova York nos anos 1990 não foi exclusivamente resultado das políticas baseadas na Teoria das Janelas Quebradas, mas sim de múltiplos fatores, como melhorias na economia, programas sociais e mudanças demográficas.

Conclusão

A Teoria das Janelas Quebradas trouxe à tona uma importante reflexão sobre o impacto do ambiente urbano na conduta social e no crime. 

Ao sugerir que a desordem visível pode promover comportamentos delituosos, a teoria influenciou políticas públicas de segurança e revitalização urbana. 

No entanto, é essencial abordá-la com um olhar crítico, considerando tanto seus benefícios quanto suas limitações, especialmente no que se refere às implicações sociais e econômicas de políticas baseadas na repressão de delitos menores.

Fontes bibliográficas

KELLING, George L.; WILSON, James Q. Broken Windows: The Police and Neighborhood Safety. Atlantic Monthly, v. 249, n. 3, p. 29-38, 1982.

WILSON, James Q.; KELLING, George L. A fixação de normas sociais e o controle da criminalidade: A teoria das janelas quebradas. In: HINTON, Mary (org.). Problemas contemporâneos em criminologia. São Paulo: Atlas, 1996. p. 119-129.

ZIMRING, Franklin E. The City that Became Safe: New York's Lessons for Urban Crime and Its Control. Nova York: Oxford University Press, 2012.

SAMSON, Robert J.; RAUDENBUSH, Stephen W.; EARLS, Felton. Neighborhoods and Violent Crime: A Multilevel Study of Collective Efficacy. Science, v. 277, n. 5328, p. 918-924, 1997.

SKOGAN, Wesley G. Disorder and Decline: Crime and the Spiral of Decay in American Cities. Berkeley: University of California Press, 1990.

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