quarta-feira, 9 de outubro de 2024

O EFEITO DUNNING-KRUGER: ORIGEM E SEUS IMPACTOS PARA A PESSOA E SOCIEDADE

 

Introdução

O Efeito Dunning-Kruger é um fenômeno cognitivo identificado por David Dunning e Justin Kruger em um estudo de 1999, no qual eles descreveram como pessoas com baixo nível de competência em uma determinada área tendem a superestimar suas próprias habilidades.

Este efeito se baseia na incapacidade de indivíduos com pouco conhecimento reconhecerem sua própria incompetência, o que leva a uma falsa sensação de superioridade.

Ao mesmo tempo, pessoas altamente competentes tendem a subestimar suas habilidades, acreditando que aquilo que sabem é facilmente compreendido por outros.

Origem e História

A pesquisa que deu origem ao termo foi publicada em 1999 no artigo "Unskilled and Unaware of It: How Difficulties in Recognizing One's Own Incompetence Lead to Inflated Self-Assessments" na revista Journal of Personality and Social Psychology.

Dunning e Kruger foram inspirados por uma série de estudos psicológicos que sugeriam que indivíduos menos habilidosos frequentemente julgavam suas habilidades como acima da média.

O caso que motivou o estudo foi o de McArthur Wheeler, um ladrão que, em 1995, tentou roubar dois bancos com o rosto coberto de suco de limão, acreditando que isso o tornaria invisível para as câmeras, por causa de seu conhecimento errôneo sobre propriedades químicas.

O incidente citado ilustrou a lacuna entre o que uma pessoa sabe e o que ela pensa que sabe.

Características do Efeito Dunning-Kruger

Incompetência e superestimação de habilidades:

Pessoas com baixo nível de habilidade ou conhecimento em uma área tendem a superestimar drasticamente sua competência.

Elas não têm a base cognitiva necessária para avaliar corretamente o que sabem e, portanto, acabam acreditando que são mais capazes do que realmente são.

Dificuldade de reconhecer a própria incompetência:

Aqueles que estão no extremo inferior da curva de competência muitas vezes não têm o conhecimento necessário para reconhecer suas limitações.

A incapacidade de reconhecer erros ou lacunas de conhecimento os leva a pensar que estão desempenhando de forma satisfatória.

Subestimação por parte dos especialistas:

Por outro lado, pessoas altamente competentes frequentemente subestimam suas habilidades, acreditando que aquilo que sabem ou realizam é algo simples e que outras pessoas também são capazes de fazer o mesmo. Isso pode resultar em uma percepção incorreta de que elas não são tão talentosas quanto realmente são.

Reconhecimento gradual com o aprendizado:

À medida que as pessoas adquirem mais conhecimento e experiência, elas se tornam mais conscientes de suas limitações, e sua autoavaliação tende a ser mais precisa. Esse processo de conscientização leva a uma redução no Efeito Dunning-Kruger, pois o conhecimento acumulado permite uma melhor autoavaliação.

Impactos do Efeito Dunning-Kruger

Em Nível Individual

O Efeito Dunning-Kruger pode impactar diretamente o desenvolvimento pessoal e profissional.

Pessoas que superestimam suas habilidades tendem a evitar o aprendizado contínuo, acreditando que já dominam determinado assunto.

Isso pode resultar em decisões equivocadas, fracassos profissionais e até em uma falsa autoconfiança que leva a erros graves. Indivíduos que subestimam suas capacidades podem sofrer de síndrome do impostor, onde suas realizações são desvalorizadas, levando à insegurança e ansiedade, mesmo quando são de fato competentes.

Em Nível Social

Em nível social, o Efeito Dunning-Kruger tem implicações significativas.

Em ambientes de trabalho, ele pode resultar em incompetência gerencial, com pessoas que não possuem as habilidades adequadas assumindo cargos de liderança e tomando decisões mal-informadas.

No ambiente político, o fenômeno pode levar a uma polarização ainda maior, uma vez que indivíduos com pouco conhecimento sobre questões complexas acreditam que suas visões são corretas, desconsiderando argumentos fundamentados.

Além disso, o Efeito Dunning-Kruger também afeta a disseminação de desinformação.

Pessoas com conhecimento limitado, mas com confiança excessiva, podem compartilhar informações erradas, acreditando que são especialistas no assunto.

Isso é exacerbado nas redes sociais, onde a visibilidade de ideias mal fundamentadas pode ter consequências significativas na opinião pública.

Aplicações e Exemplo Clássico

Um exemplo clássico do Efeito Dunning-Kruger pode ser observado em programas de talentos, como concursos musicais ou de performance.

Candidatos com pouca habilidade acreditam estar prontos para o estrelato, demonstrando total confiança em suas apresentações, mesmo quando o resultado é visivelmente abaixo da média. Esses indivíduos falham em reconhecer seus defeitos, e muitas vezes só percebem a realidade depois de receber críticas construtivas.

Na política, o efeito pode ser visto em líderes ou eleitores que, com base em conhecimento superficial, adotam posições rígidas sobre questões complexas, sem reconhecer as nuances ou a necessidade de especialistas.

O excesso de confiança torna difícil o diálogo produtivo, e o resultado é uma maior polarização social.

Conclusão

O Efeito Dunning-Kruger é um fenômeno importante no campo da psicologia cognitiva, pois nos ajuda a entender por que algumas pessoas superestimam suas habilidades e se tornam excessivamente confiantes, enquanto outras, altamente capacitadas, subestimam suas capacidades.

Ele tem implicações amplas, tanto no nível individual quanto no social, impactando áreas como educação, gestão, política e comunicação.

Para mitigar seus efeitos, é essencial promover a humildade intelectual, o aprendizado contínuo e a autoavaliação honesta. 

Reconhecer que o aprendizado é um processo contínuo e que nossas percepções podem ser falhas é um primeiro passo importante para superar as armadilhas do Efeito Dunning-Kruger.

Referências bibliográficas

1. ARIELY, Dan. Previsivelmente Irracional: As Forças Ocultas que Formam Nossas Decisões. Tradução de Marcela Filizola. Rio de Janeiro: Campus Elsevier, 2012.

2.  KAHNEMAN, Daniel. Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar. Tradução de Cássio de Arantes Leite. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

3.     MARMION, Jean-François (Org.). A Psicologia da Estupidez. Lisboa: Desassossego, 2019.


Nenhum comentário: