sexta-feira, 22 de novembro de 2024

ZOOANTROPIA, THERIANTROPIA E LICANTROPIA: CONCEITOS, DEFINIÇÕES, IMPLICAÇÕES E OS IMPACTOS NA SAÚDE MENTAL

 

INTRODUÇÃO

A relação entre o ser humano e os animais sempre ocupou um espaço central na mitologia, na cultura e na psique, manifestando-se por meio de narrativas que exploram transformações físicas ou espirituais entre humanos e animais.

Zooantropia, theriantropia e licantropia são conceitos que emergem desse imaginário, abrangendo tanto fenômenos simbólicos quanto possíveis manifestações clínicas.

Enquanto a theriantropia se refere genericamente à crença ou identificação com a transformação em qualquer animal, a zooantropia amplia essa perspectiva para contextos culturais e psicológicos, e a licantropia se foca especificamente na transformação em lobo.

Essas experiências podem ser interpretadas sob diferentes prismas, como o mitológico, o psicológico e o neurocientífico, revelando dimensões profundas da identidade humana, bem como seus potenciais desafios sociais e clínicos.

ZOOANTROPIA

Etimologia

Também deriva do grego, onde zōion (ζῷον) significa "animal" e anthrōpos (ἄνθρωπος), "ser humano".

Definição:

A zooantropia é um conceito mais amplo que a licantropia, abrangendo a crença ou experiência de transformação humana em qualquer tipo de animal, não limitada a lobos.

Uso no contexto clínico e psicológico

Assim como a licantropia, a zooantropia pode ser usada para descrever transtornos mentais nos quais o indivíduo acredita ter se transformado em um animal, como um gato, ave ou urso.

Esse fenômeno pode aparecer em culturas com tradições animistas ou espirituais e em relatos contemporâneos de distúrbios dissociativos ou psicóticos.

Uso no contexto cultural e antropológico

A zooantropia está presente em rituais e mitologias, como em contos africanos de pessoas que se transformam em leões ou hienas.

THERIANTROPIA

Etimologia:

Deriva do grego antigo thērion (θηρίον), que significa "animal selvagem" ou "besta", e anthrōpos (ἄνθρωπος), que significa "ser humano".

Definição

A theriantropia refere-se à capacidade ou crença de que um ser humano pode se transformar em um animal ou assumir características de animais.

Este conceito é amplo e inclui tanto contextos mitológicos quanto antropológicos e psicológicos.

Uso no contexto mitológico e cultural

A theriantropia aparece em mitologias de diversas culturas, como na crença de xamãs que se transformam em animais para realizar rituais.

Exemplos incluem divindades egípcias como Anúbis (com cabeça de chacal) e a prática xamânica siberiana.

Uso no contexto psicológico

Em contextos modernos, a theriantropia é usada para descrever experiências em que indivíduos se identificam como ou acreditam se transformar em animais.

Em comunidades online, os "therians" se identificam espiritualmente ou psicologicamente com animais específicos, sem necessariamente crer em transformações físicas.

LICANTROPIA

Etimologia

Vem do grego antigo lykos (λύκος), "lobo", e anthrōpos (ἄνθρωπος), "ser humano".

Definição

É um subtipo específico de theriantropia que envolve a crença ou transformação (real ou imaginária) de um ser humano em um lobo.

Uso no contexto mitológico e folclórico:

A licantropia é famosa na cultura ocidental através do mito dos lobisomens, criaturas que se transformam em lobos, geralmente durante a lua cheia.

Em lendas, a transformação pode ser voluntária (por rituais ou maldições) ou involuntária (resultado de uma maldição ou mordida de outro lobisomem).

Uso no contexto médico e psicológico

Na psiquiatria, a licantropia clínica é um raro distúrbio psicológico no qual o paciente acredita sinceramente ter se transformado em um lobo ou exibe comportamentos lupinos.

Este fenômeno é frequentemente associado a transtornos psicóticos, como esquizofrenia, ou a estados dissociativos.

Esses conceitos são exemplos de como as fronteiras entre humano e animal são exploradas em mitos, psicologia e antropologia, refletindo aspectos profundos da natureza humana, como a relação com o instinto, a espiritualidade e o imaginário coletivo.

COMO A PSIQUIATRIA, PSICOLOGIA, PSIQUIATRIA E NEUROCIÊNCIA VEEM ZOOANTROPIA, THERIANTROPIA E LICANTROPIA

A compreensão de zooantropia, theriantropia e licantropia varia entre as abordagens da Psiquiatria, Psicologia, Psicanálise e Neurociência. Cada área traz perspectivas específicas sobre como esses fenômenos são interpretados, desde aspectos clínicos até simbólicos e neurobiológicos.

PSIQUIATRIA

Na psiquiatria, essas condições são analisadas como possíveis manifestações de distúrbios mentais. A ênfase está nos aspectos clínicos, diagnósticos e terapêuticos.

Zooantropia e Theriantropia

São vistas como formas raras de delírio de transformação (delírios somáticos ou identitários), frequentemente associadas a transtornos psicóticos, como a esquizofrenia, transtorno esquizoafetivo ou episódios maníacos severos.

Esses delírios podem envolver a crença de que o corpo mudou ou está mudando fisicamente para o de um animal, ou que a identidade da pessoa é essencialmente animal.

É comum que sejam acompanhados por alucinações visuais, auditivas ou táteis relacionadas.

Licantropia

Classificada como um subtipo específico de delírio somático, onde o paciente acredita ser ou estar se transformando em um lobo.

Casos documentados frequentemente apontam para quadros de esquizofrenia, transtornos afetivos graves ou condições como epilepsia do lobo temporal.

O tratamento inclui antipsicóticos, estabilizadores de humor e, em alguns casos, psicoterapia para abordar a interpretação do delírio.

PSICOLOGIA

A psicologia estuda esses fenômenos a partir de suas dimensões culturais, simbólicas e emocionais, investigando como se relacionam com traumas, crenças ou identidade.

Zooantropia e Theriantropia

Podem ser compreendidas como mecanismos de defesa ou manifestações de estados dissociativos.

A identificação com animais pode estar ligada a experiências de alienação, desamparo ou necessidade de escapar de uma realidade percebida como insuportável.

É comum que surjam em contextos de sofrimento psíquico intenso, como abuso, luto ou isolamento social.

Licantropia

Pode representar uma projeção de impulsos inconscientes, frequentemente associados a agressividade, libido ou desejo de poder (relação simbólica com o arquétipo do lobo).

Em contextos culturais, a crença na transformação em lobos pode ser estudada sob a ótica da psicologia social, como um fenômeno de conformidade a mitos locais ou crenças religiosas.

PSICANÁLISE

A Psicanálise enxerga essas manifestações como símbolos de conflitos inconscientes, trabalhando com a interpretação dos significados latentes por trás dessas experiências.

Zooantropia e Theriantropia

Para a psicanálise, a identificação com animais pode ser analisada como uma regressão a um estado primitivo ou arcaico da psique, onde os instintos básicos predominam.

A transformação em animal pode simbolizar uma tentativa de retornar a um estado de "não eu", escapando da angústia da subjetividade humana e das pressões do superego.

Freud poderia associar essas manifestações ao conceito de retorno do reprimido, em que conteúdos inconscientes relacionados a instintos primitivos emergem de forma simbólica.

Licantropia

Especificamente, o arquétipo do lobo pode ser interpretado como uma representação dos impulsos destrutivos e sexuais, conectados à sombra (segundo Jung) ou ao id (segundo Freud).

No contexto da licantropia, o delírio pode ser uma tentativa do ego de lidar com sentimentos reprimidos de culpa, agressividade ou sexualidade, materializando-os como uma transformação externa.

Neurociência

A neurociência explora os correlatos cerebrais e neurobiológicos desses fenômenos, analisando os circuitos envolvidos em alterações perceptuais e identitárias.

Zooantropia e Theriantropia

Podem estar relacionadas à disfunção nos circuitos que governam a autopercepção e a consciência corporal.

Áreas como o córtex parietal e o córtex pré-frontal desempenham papéis cruciais na construção da sensação de identidade corporal.

Estudos com neuroimagem funcional sugerem que distúrbios na rede de integração multissensorial (que combina sinais visuais, táteis e proprioceptivos) podem contribuir para delírios somáticos de transformação.

Licantropia:

Há evidências de que pacientes com licantropia apresentam anormalidades na atividade do lobo temporal, uma região envolvida na percepção do self e da realidade.

Em casos relacionados à epilepsia, crises no lobo temporal podem induzir experiências intensamente vívidas e visões delirantes, incluindo a sensação de transformação em um animal.

Essas manifestações são vistas, ao mesmo tempo, como patologias, simbolismos e desafios à compreensão do que significa ser humano.

A abordagem ideal é interdisciplinar, integrando aspectos culturais, emocionais e biológicos.

AS IMPLICAÇÕES PSÍQUICAS E SOCIAIS QUE SE IDENTIFICAM COM ZOOANTROPIA, THERIANTROPIA E LICANTROPIA

As implicações psíquicas e sociais de pessoas que alegam se identificar com zooantropia, theriantropia, e licantropia e dependem de diversos fatores, como o contexto cultural, a profundidade dessa identificação e o impacto sobre o funcionamento pessoal e social.

Essas manifestações podem trazer desafios emocionais, psicológicos e de interação social, mas também podem funcionar como formas de expressão ou busca de significado.

IMPLICAÇÕES PSÍQUICAS

As implicações psíquicas estão relacionadas aos efeitos internos que essa identificação tem sobre a pessoa, considerando seu bem-estar emocional, identidade e saúde mental.

Construção e Crise de Identidade

A identificação com um animal pode surgir como uma tentativa de afirmação de identidade em contextos onde o indivíduo sente dificuldade em se reconhecer como parte de um grupo ou de sua própria realidade.

Pode refletir crises existenciais, em que a identificação com o animal serve como um símbolo de instintos reprimidos ou um desejo de escapar da humanidade percebida como opressora ou desconfortável.

Estratégias de Enfrentamento Psíquico

Em alguns casos, essas experiências podem ser uma forma de lidar com traumas ou situações de estresse extremo, permitindo ao indivíduo um "refúgio" psíquico em uma identidade alternativa menos vulnerável.

A dissociação ou a sensação de ser "outro" podem ser sintomas de transtornos dissociativos ou de traumas de infância, como abuso ou negligência.

Potencial Psicopatológico

Quando a identificação se torna intensa e impacta negativamente o funcionamento diário, pode estar associada a condições como:

ü  Esquizofrenia (delírios e alucinações envolvendo transformação);

ü  Transtorno de identidade dissociativa (identidade fragmentada, com personas animalizadas);

ü  Transtornos de ansiedade ou depressão, onde a identificação com o animal é uma expressão de sentimentos de desamparo, inadequação ou isolamento.

Sentido Positivo

Para algumas pessoas, identificar-se com um animal pode ser uma expressão criativa ou espiritual.

Em comunidades como as de "therians", isso é visto como parte de uma jornada de autoconhecimento e integração emocional.

IMPLICAÇÕES SOCIAIS

As implicações sociais referem-se ao impacto dessa identificação sobre as relações interpessoais e a posição do indivíduo na sociedade.

Estigma e Marginalização

A identificação com animais pode levar ao estigma social, especialmente em culturas que valorizam a racionalidade e desconsideram expressões consideradas "não convencionais".

Pessoas que alegam essas identificações frequentemente enfrentam discriminação, ridicularização ou exclusão social, o que pode aumentar sentimentos de solidão e alienação.

Comunidades de Apoio

O surgimento de comunidades online, como os therians, proporciona um espaço para troca de experiências e validação da identidade, promovendo apoio emocional e senso de pertencimento.

Essas comunidades permitem que as pessoas expressem sua identificação sem medo de julgamento, o que pode ser psicologicamente benéfico.

Conflito Familiar e Relacional

Pode haver conflitos familiares ou interpessoais se parentes ou amigos interpretarem essa identificação como algo perturbador ou irracional.

Em contextos conservadores ou religiosos, a identificação pode ser percebida como um desvio moral ou espiritual, gerando tensões adicionais.

Impacto no Ambiente Profissional

Se a identificação com um animal é abertamente discutida ou manifestada no ambiente de trabalho, pode causar preconceito ou discriminação no local, afetando as oportunidades de emprego e as relações com colegas.

Integração Cultural

Em algumas culturas ou subculturas, essa identificação pode ser aceita e até mesmo valorizada.

Por exemplo:

Perspectiva espiritual ou religiosa:

Em culturas com tradições animistas ou xamânicas, identificar-se com animais é considerado um dom espiritual.

Movimentos alternativos:

Subculturas modernas, como o movimento furry ou therian, normalizam essas identidades como parte de uma expressão diversificada da experiência humana.

As implicações de zooantropia, theriantropia e licantropia e variam amplamente e dependem do contexto psicológico, cultural e social.

Esses fenômenos podem ser adaptativos, ajudando o indivíduo a encontrar significado, expressão e pertencimento, ou em alguns casos, desadaptativos, quando levam ao sofrimento psíquico, isolamento social ou dificuldades no funcionamento diário.

A abordagem ideal deve respeitar as experiências individuais, promovendo uma compreensão integrada que leve em conta os aspectos simbólicos, psicológicos e sociais dessa identificação.

ABORDAGENS CLÍNICAS E TERAPÊUTICAS EM CASOS DE HAVER SOFRIMENTO OU PREJUÍZOS PARA QUEM SE QUEIXA DE ZOOANTROPIA, OU THERIANTROPIA, OU LICANTROPIA

Quando essas identificações causam sofrimento psíquico ou conflitos sociais, podem ser abordadas em contextos terapêuticos:

Terapia Psicodinâmica ou Psicanálise

Explora os significados inconscientes da identificação com o animal, relacionando-os a traumas, desejos reprimidos ou aspectos sombrios da personalidade.

Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

Trabalha com a reestruturação de crenças disfuncionais ou distorcidas relacionadas à identidade animal.

Ajuda o indivíduo a encontrar formas adaptativas de lidar com o estigma social.

Apoio Grupal

Participação em grupos de apoio (online ou presenciais) pode proporcionar validação e um espaço seguro para expressar e discutir experiências.

Intervenções Psiquiátricas

Nos casos em que a identificação está associada a delírios ou transtornos graves, o uso de antipsicóticos, estabilizadores de humor ou outras medicações pode ser necessário.

A abordagem ideal deve respeitar as experiências individuais, promovendo uma compreensão integrada que leve em conta os aspectos simbólicos, psicológicos e sociais dessa identificação.

A ZOOANTROPIA, THERIANTROPIA E LICANTROPIA SÃO TRANSTORNOS MENTAIS?

Como fenômenos clínicos, a zooantropia, a theriantropia e a licantropia podem ser classificados como manifestações de transtornos mentais sob certas circunstâncias.

No entanto, elas não são condições específicas ou diagnósticos formais no CID-11 (Classificação Internacional de Doenças, 11ª edição) nem no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição).

Quando aparecem, geralmente são descritas dentro de categorias diagnósticas mais amplas.

A ZOOANTROPIA, THERIANTROPIA E LICANTROPIA E CLASSIFICAÇÃO QUE RECEBEM NO CID-11 E O DSM-5

CLASSIFICAÇÃO NO CID-11

No CID-11, essas manifestações podem ser compreendidas dentro das seguintes categorias:

Transtornos psicóticos (6A20-6A2Z)

Quando a pessoa acredita estar se transformando fisicamente em um animal (como na licantropia clínica) ou se identifica de maneira delirante com um animal, pode ser classificada como parte de um transtorno psicótico, como:

Esquizofrenia (6A20)

Delírios bizarros de transformação em animal podem ocorrer como parte de um quadro esquizofrênico.

Transtorno delirante persistente (6A24)

Identificação com um animal pode ser parte de um delírio fixo e não compartilhado.

Transtornos dissociativos (6B40-6B4Z)

Experiências de transformação em animal ou identificação com animais podem ser vistas como parte de um transtorno dissociativo, especialmente se ocorrerem após trauma ou estresse significativo, aqui temos:

Transtorno dissociativo de identidade (6B64)

Se a pessoa apresenta estados dissociativos que incluem uma "identidade animal".

Transtorno de despersonalização/derealização (6B66)

Sensações de desconexão com o corpo humano podem levar a experiências simbólicas ou alucinatórias de "ser outro" (neste caso, um animal).

Transtornos de crenças culturais específicas

Em algumas culturas, a crença em transformação animal pode ser classificada como um transtorno culturalmente influenciado.

No entanto, esses casos geralmente não são vistos como patológicos dentro do contexto cultural em que ocorrem.

CLASSIFICAÇÃO NO DSM-5

No DSM-5, as manifestações de zooantropia, theriantropia e licantropia também não são descritas como diagnósticos autônomos.

Elas se enquadram em categorias mais amplas, dependendo do contexto clínico, a saber:

Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos (F20-29 no CID-10 correspondente)

Delírios de transformação ou crenças firmes de ser um animal podem ser parte de:

Esquizofrenia (Critérios A)

 Delírios, alucinações e comportamentos desorganizados.

Transtorno delirante

 Se a crença não é acompanhada de outros sintomas psicóticos significativos.

Transtornos dissociativos

Como no CID-11, essas experiências podem ser entendidas como sintomas de dissociação, a saber:

Transtorno dissociativo de identidade (TDI)

 A "personalidade animal" pode ser uma das identidades dissociativas.

Transtorno de despersonalização/derealização

A sensação de transformação pode surgir como uma forma de despersonalização extrema.

Transtorno de personalidade ou transtornos somatoformes

Se a identificação com animais surge como parte de um padrão duradouro de comportamento, pode estar associada a transtornos de personalidade ou somatoformes, a saber:

Transtorno de personalidade esquizotípica

 Inclui crenças ou percepções incomuns que podem incluir uma identificação com animais.

Transtorno somático com sintomas somáticos:

Se a pessoa sente fisicamente que está se transformando.

Transtornos culturais ou religiosos

No DSM-5, existe um reconhecimento de que crenças de transformação animal podem ser normativas em certas culturas ou sistemas religiosos e, nesses casos, não são classificadas como patológicas.

Diferenciação entre Normalidade e Patologia

Nem todas as pessoas que alegam se identificar com zooantropia, theriantropia e licantropia ou devem ser vistas como portadoras de transtornos mentais.

A classificação como um transtorno depende de três critérios principais, a saber:

Sofrimento significativo

A experiência causa sofrimento emocional ou psicológico à pessoa.

Prejuízo funcional

A crença ou comportamento interfere significativamente no funcionamento social, ocupacional ou pessoal.

Fora do contexto cultural

As crenças ou experiências são consideradas anormais no contexto cultural da pessoa.

Exemplos Clínicos

Caso 1: Zooantropia dissociativa

Após um trauma, um indivíduo relata "sentir-se um gato" como forma de lidar com o estresse. Pode ser classificado como transtorno dissociativo de identidade.

Caso 2: Theriantropia culturalmente aceita

Em uma comunidade animista, um xamã que afirma se transformar em um animal durante rituais. Essa crença, dentro do contexto cultural, não seria considerada patológica.

Caso 3: Licantropia clínica

Um paciente acredita firmemente que é um lobo e age como tal, uivando e evitando interações humanas. Isso pode ser classificado como parte de um transtorno psicótico (esquizofrenia ou transtorno delirante).

Em uma comunidade animista, um xamã afirma que se transformar em um animal durante os rituais. Essa crença, dentro do contexto cultural, não seria considerada patológica.

Embora zooantropia, theriantropia e licantropia não sejam diagnósticos formais, elas podem ser manifestações de outros transtornos mentais, dependendo do contexto.

O CID-11 e o DSM-5 classificam esses fenômenos sob categorias mais amplas, como transtornos psicóticos, dissociativos ou delirantes, considerando o impacto funcional e cultural para determinar sua relevância clínica.

CONCLUSÃO

Os fenômenos de zooantropia, theriantropia e licantropia representam mais do que simples curiosidades culturais ou clínicas; eles oferecem uma janela para a complexidade da psique humana e sua interação com o ambiente sociocultural.

Em um nível simbólico, essas experiências podem revelar desejos, medos e conflitos internos, conectados ao inconsciente e às narrativas mitológicas compartilhadas.

Em um contexto clínico, elas podem indicar estados de sofrimento psíquico que demandam compreensão empática e abordagem interdisciplinar.

Reconhecer as nuances dessas manifestações, sem reduzi-las a patologias ou superstições, é essencial para compreender como o ser humano lida com sua animalidade e sua subjetividade, muitas vezes em busca de significado em um mundo de constante transformação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5-TR. Texto revisado. Porto Alegre: Artmed, 2022. Tradução de Maria Inês Corrêa Nascimento.

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PAIVA, Júnior. Lobisomem Existe! Um Livro-Reportagem, Nada de Ficção. São Paulo: Independente, 2013.

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