quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

LEI DE BRANDOLINI, OS VIESES COGNITIVOS E AS AGENDAS MIDIÁTICAS: MANIPULAÇÃO DA INFORMAÇÃO E COMO A MÍDIA E NOSSO CÉREBRO INFLUENCIAM A PERCEPÇÃO DA REALIDADE

 

INTRODUÇÃO

Vivemos em uma era de excesso informacional, onde a velocidade com que as notícias circulam pode ser tão impactante quanto o conteúdo em si.

Diante desse cenário, compreender como nossa mente processa as informações e como a mídia direciona nossa atenção é essencial para evitar distorções na percepção da realidade.

Conceitos como a Lei de Brandolini, os vieses cognitivos e as teorias das agendas midiáticas ajudam a entender os mecanismos que influenciam nossas crenças, opiniões e decisões.

A forma como interpretamos o mundo não é apenas resultado de fatos objetivos, mas também da maneira como eles nos são apresentados.

Seja por meio dos vieses inconscientes do nosso cérebro ou das estratégias midiáticas que definem quais temas ganham mais destaque, nossa percepção é constantemente moldada sem que muitas vezes percebamos.

A INFLUÊNCIA DA INFORMAÇÃO E DOS VIESES COGNITIVOS NA FORMAÇÃO DE OPINIÃO

No mundo contemporâneo, onde a quantidade de informações disponíveis cresce exponencialmente, a forma como essas informações são processadas e interpretadas torna-se um fator decisivo para a construção do conhecimento e da opinião pública.

Dentro desse contexto, diversos conceitos ajudam a entender como a desinformação se propaga, como nossa cognição é influenciada e como a mídia direciona nossa percepção da realidade.

A IMPORTÂNCIA DE ESTUDAR OS CONCEITOS

A falta de consciência sobre esses mecanismos pode nos tornar mais vulneráveis à desinformação, à manipulação midiática e às bolhas de pensamento que reforçam crenças pré-existentes sem questionamento crítico.

Entender os viéses cognitivos permite identificar quando estamos tomando decisões baseadas em atalhos mentais falhos, enquanto compreender as estratégias da mídia nos ajuda a avaliar as informações de forma mais equilibrada e crítica.

Em tempos de fake news, polarização política e algoritmos que moldam nossa visão de mundo, a educação midiática e o desenvolvimento do pensamento crítico são habilidades fundamentais para qualquer cidadão.

Aprofundar-se nesses conceitos nos dá mais autonomia para interpretar o que nos é apresentado e tomar decisões mais informadas e menos influenciadas por fatores externos.

CONCEITOS, DEFINIÇÕES E EXEMPLOS

LEI DE BRANDOLINI: A ASSIMETRIA DA DESINFORMAÇÃO

A Lei de Brandolini, também conhecida como o Princípio da Assimetria da Bobagem, afirma que "a quantidade de energia necessária para refutar uma bobagem é uma ordem de magnitude maior do que a necessária para produzi-la".

Ou seja, é muito mais fácil espalhar desinformação do que combatê-la. Esse princípio é crucial na era digital, onde notícias falsas e discursos manipulativos se disseminam rapidamente, exigindo um esforço significativo para serem desmentidos.

Exemplo específico da Lei de Brandolini:

Imagine que alguém compartilhe nas redes sociais a seguinte afirmação falsa:

"Beber água com limão em jejum cura o câncer!"

Essa informação se espalha rapidamente porque é simples, apelativa e reforça crenças populares sobre remédios naturais.

Influenciadores e páginas de saúde alternativa replicam a afirmação sem verificar sua veracidade, e, em pouco tempo, milhões de pessoas passam a acreditar nela.

Agora, imagine o trabalho necessário para refutar essa desinformação.

ü  Um especialista precisa:

ü  Explicar como o câncer funciona e por que não há evidências científicas que sustentem essa alegação.

ü  Mostrar estudos científicos reais sobre tratamentos oncológicos eficazes.

ü  Enfrentar a resistência psicológica de quem já acreditou na fake news e desconfia da ciência.

ü  Competir contra a viralização de informações falsas, que se espalham mais rápido porque são simples e emocionalmente envolventes. 

Ou seja, enquanto uma mentira pode ser criada e disseminada em segundos, desmenti-la exige tempo, conhecimento técnico e uma enorme dedicação para reverter seu impacto. Esse é o princípio da Lei de Brandolini: refutar uma desinformação demanda muito mais esforço do que criá-la e espalhá-la.

COMO MINIMIZAR E EVITAR OS EFEITOS DA LEI BRANDOLINI

Para minimizar os impactos desse fenômeno e evitar a disseminação de desinformação, algumas estratégias podem ser adotadas:

Prevenção

Antes de compartilhar, verifique.

Cheque a fonte

Sempre verifique a credibilidade do veículo ou da pessoa que compartilhou a informação. Sites jornalísticos reconhecidos, institutos de pesquisa e fontes científicas são mais confiáveis.

Busque fontes primárias

Informações distorcidas geralmente vêm de interpretações erradas ou sensacionalistas. Sempre tente encontrar o documento original, seja um artigo científico, uma entrevista completa ou dados governamentais.

Desconfie de títulos alarmistas

Manchetes exageradas e sensacionalistas são um sinal de alerta para desinformação.

Compare com outras fontes

Se uma informação relevante só aparece em um único site ou grupo de WhatsApp, há uma grande chance de ser falsa ou enviesada.

Estratégias para Lidar com Fake News e Desinformação

Não alimente a desinformação

Compartilhar algo falso “só para alertar” pode acabar reforçando o engano. Se houver dúvida, não compartilhe até confirmar.

Corrija de forma estratégica

Em vez de simplesmente dizer que algo é falso, tente fornecer informações corretas de maneira objetiva e respeitosa.

Pessoas tendem a rejeitar correções agressivas.

Use linguagem acessível

Informações verdadeiras devem ser tão simples e fáceis de entender quanto as falsas.

Textos muito técnicos podem ser rejeitados por quem já acredita na desinformação.

Aposte em materiais visuais

Infográficos, vídeos curtos e ilustrações são mais eficazes para combater desinformação do que longos textos explicativos.

Pensamento Crítico e Educação Midiática

Promova o pensamento crítico

Ensinar crianças, adolescentes e adultos a questionar fontes, analisar viéses e entender como a mídia opera é uma das melhores formas de combater a desinformação.

Conheça os vieses cognitivos

Muitos acreditam em fake news porque seus viéses de confirmação os fazem aceitar apenas informações que reforçam suas crenças prévias.

Ter consciência desses viéses ajuda a reduzir sua influência.

Entenda o papel dos algoritmos

Redes sociais mostram conteúdos que reforçam nossas opiniões e emoções. Isso pode criar bolhas informacionais que alimentam a desinformação.

Diversificar fontes de informação reduz esse efeito.

A Lei de Brandolini mostra que combater a desinformação não é tarefa fácil, pois desmentir boatos exige tempo e esforço.

No entanto, podemos reduzir sua disseminação por meio de verificação de informações, comunicação estratégica e educação midiática.

Quanto mais pessoas desenvolverem um olhar crítico sobre o que consomem na internet e na mídia, menor será o impacto da desinformação na sociedade.

DIFERENÇA ENTRE VIÉS COGNITIVO E AGENDA MIDIÁTICA

Os viéses cognitivos e a agenda midiática são conceitos distintos, mas ambos influenciam como processamos informações, tomamos decisões e construímos percepções da realidade.

A principal diferença está na origem e no mecanismo de atuação de cada um:

VIÉS COGNITIVO

Processos mentais inconscientes que distorcem a interpretação da realidade.

AGENDAS MIDIÁTICAS

Estratégias da mídia para definir quais temas são mais discutidos na sociedade.

Abaixo, detalhamos as diferenças entre esses conceitos e como eles interagem na formação da opinião pública.

VIÉS COGNITIVO:

Como Nosso Cérebro Interpreta a Informação.

O que é?

Os viéses cognitivos são atalhos mentais que o cérebro usa para tomar decisões rapidamente, baseando-se em experiências anteriores e emoções.

Embora esses atalhos sejam úteis, eles frequentemente levam a erros de julgamento e interpretações distorcidas da realidade.

Principais características:

ü  São inconscientes e automáticos.

ü  Fazem parte do funcionamento natural do cérebro.

ü  Podem levar a julgamentos irracionais ou decisões precipitadas.

ü  Influenciam a maneira como interpretamos informações e tomamos decisões.

Exemplo de Viés Cognitivo:

Viés de Confirmação:

Tendência de buscar e acreditar apenas em informações que reforçam nossas crenças prévias.

Viés de Disponibilidade:

Julgar a frequência de um evento com base em exemplos que vêm à mente rapidamente (por exemplo, após ver várias reportagens sobre assaltos, uma pessoa pode superestimar a criminalidade).

Exemplo na prática:

Um eleitor que acredita que um político é corrupto tende a focar apenas em notícias que confirmam essa visão, ignorando informações neutras ou positivas.

AGENDAS MIDIÁTICAS:

Como a Mídia Define o Debate Público.

O que é?

A agenda midiática refere-se à maneira como os meios de comunicação selecionam, enfatizam e priorizam determinados temas para o público. Essa estratégia influência sobre o que as pessoas falam e pensam, sem necessariamente ditar suas opiniões.

Principais características:

ü  É um processo deliberado, controlado por jornalistas, empresas de mídia e influenciadores.

ü  Define quais temas ganham visibilidade e quais são ignorados.

ü  Pode ser usada para influenciar políticas públicas e decisões eleitorais.

ü  Não diz o que pensar, mas sim sobre o que pensar.


Exemplo de Agenda Midiática:

Agenda-Setting:

A mídia destaca repetidamente um tema (exemplo: aumento da violência), fazendo com que o público perceba esse problema como uma das maiores preocupações do país.

Framing (Enquadramento):

Um jornal pode descrever um protesto como "manifestação pacífica" ou como "onda de vandalismo", dependendo do viés editorial.

Exemplo na prática:

Durante um período eleitoral, a mídia pode destacar escândalos de um candidato específico enquanto minimiza os de outro, influenciando a percepção do eleitorado.

COMO VIÉS COGNITIVO E AGENDA MIDIÁTICA INTERAGEM

Embora sejam conceitos diferentes, os viéses cognitivos e a agenda midiática se reforçam mutuamente.

A mídia pode explorar e amplificar os viéses cognitivos para direcionar a opinião pública.

Exemplos de Interação:

Viés de Disponibilidade + Agenda-Setting

A mídia cobre intensamente casos de violência, e as pessoas passam a acreditar que a criminalidade está piorando, mesmo que os dados mostrem o contrário.

Viés de Confirmação + Framing

Um jornal progressista usa um enquadramento favorável a um determinado candidato, e seus leitores, já inclinados a apoiar esse político, aceitam a narrativa sem questionar.

Viés da Prova Social + Priming

Um grupo de influenciadores repete um discurso sobre "fraude eleitoral" sem apresentar provas. Como muitas pessoas compartilham a ideia, ela se torna socialmente aceita e internalizada sem questionamento crítico.

Viéses cognitivos e agenda midiática são fenômenos distintos, mas interligados.

Os vieses cognitivos moldam nossa percepção individual, influenciando como interpretamos informações.

A agenda midiática direciona o debate público, determinando quais temas serão discutidos e quais serão ignorados.

A mídia pode explorar os viéses cognitivos para moldar narrativas e influenciar a opinião pública.

Para evitar manipulações, é essencial desenvolver pensamento crítico, diversificar fontes de informação e estar atento aos próprios viéses cognitivos.

No contexto digital, onde algoritmos reforçam bolhas informacionais e fake news são amplificadas rapidamente, o entendimento desses conceitos é crucial para uma sociedade mais informada e consciente.

VIESES COGNITIVOS

VIÉS COGNITIVO: O ATALHO MENTAL QUE PODE LEVAR AO ERRO

Os viéses cognitivos são padrões sistemáticos de pensamento que desviam a racionalidade na tomada de decisões.

Eles surgem como um mecanismo de economia cognitiva, permitindo que tomemos decisões rápidas sem avaliar todas as informações disponíveis.

No entanto, esses atalhos muitas vezes levam a erros de julgamento e interpretação.

Um exemplo clássico é o viés de confirmação, no qual as pessoas tendem a buscar e interpretar informações de maneira a reforçar suas crenças pré-existentes, ignorando evidências contrárias.

Exemplo específico do viés cognitivo:

Imagine que João está assistindo ao noticiário e vê diversas reportagens sobre assaltos ocorrendo em sua cidade.

Nos últimos dias, o jornal tem destacado crimes violentos em bairros próximos ao seu, mostrando imagens de câmeras de segurança e depoimentos de vítimas.

Mesmo sem verificar estatísticas oficiais, João conclui que a criminalidade aumentou drasticamente e decide evitar sair de casa à noite.

No entanto, ao consultar os dados da Secretaria de Segurança Pública, descobre que, na verdade, os índices de violência estão em queda há meses.

O que aconteceu?

João foi influenciado pelo viés de disponibilidade, um tipo de viés cognitivo no qual julgamos a frequência ou probabilidade de um evento com base na facilidade com que conseguimos lembrar de exemplos recentes.

Como ele viu muitas notícias sobre crimes em um curto período, passou a acreditar que a criminalidade está piorando, mesmo que os dados mostrem o contrário.

Esse viés é comum e pode afetar decisões cotidianas, como investir em seguros por medo de desastres recentes ou evitar viagens para lugares considerados perigosos com base apenas em manchetes sensacionalistas.

OS PRINCIPAIS VIESES COGNITIVOS E SUAS DEFINIÇÕES

Os viéses cognitivos são atalhos mentais que facilitam a tomada de decisões, mas podem levar a erros de julgamento.

Abaixo estão alguns dos principais viéses, com uma breve explicação de cada um:

VIÉS DE CONFIRMAÇÃO

Definição:

Tendência a buscar, interpretar e lembrar informações que confirmam nossas crenças pré-existentes, ignorando ou desvalorizando dados contrários.

Exemplo:

Uma pessoa que acredita em teorias da conspiração só consome conteúdos que reforçam sua visão, rejeitando fontes confiáveis.

VIÉS DE DISPONIBILIDADE

Definição:

Julgamos a frequência ou probabilidade de algo com base na facilidade com que conseguimos lembrar de exemplos.

Exemplo:

Após ver muitas notícias sobre assaltos, alguém pode acreditar que a criminalidade está aumentando, mesmo que as estatísticas mostrem o contrário.

VIÉS DE ENQUADRAMENTO (FRAMING)

Definição:

A forma como uma informação é apresentada influencia a forma como ela é percebida.

Exemplo:

Um tratamento descrito como tendo "90% de sucesso" parecerá mais seguro do que outro descrito como "10% de falha", mesmo que sejam a mesma coisa.

VIÉS DE AÇÃO

Definição:

Preferência por agir rapidamente em vez de refletir antes de tomar uma decisão, mesmo quando a melhor escolha seria esperar.

Exemplo:

Um investidor vende suas ações desesperadamente durante uma queda do mercado sem analisar os dados com calma.

VIÉS DE ANCORAGEM

Definição:

Tendência a confiar excessivamente na primeira informação recebida (âncora) ao tomar decisões.

Exemplo:

Se um produto está com um desconto de "50% de R$ 500 para R$ 250", a pessoa pode sentir que está economizando muito, mesmo que R$ 250 ainda seja caro.

VIÉS DO OTIMISMO

Definição:

Tendência a superestimar a probabilidade de eventos positivos e subestimar os negativos.

Exemplo:

Alguém pode ignorar os riscos de um acidente de carro ao dirigir sem cinto porque acredita que “isso nunca acontecerá comigo”.

7. VIÉS DA AVERSÃO À PERDA

Definição:

As pessoas sentem mais intensamente a dor de uma perda do que a alegria de um ganho equivalente.

Exemplo:

Alguém prefere não perder R$ 100 do que ganhar R$ 100, mesmo que matematicamente sejam valores iguais.

VIÉS DE AUTORIDADE

Definição:

Maior tendência a aceitar informações ou ordens quando vêm de figuras de autoridade, independentemente da lógica ou da verdade.

Exemplo:

Alguém segue um conselho de um médico famoso na TV sem questionar se há evidências científicas para o que foi dito.

VIÉS DA FALÁCIA DO CUSTO IRRECUPERÁVEL

Definição:

Manter um investimento de tempo, dinheiro ou esforço em algo apenas porque já se investiu muito, mesmo quando não faz mais sentido continuar.

Exemplo: Alguém permanece em um relacionamento infeliz porque já passou anos nele, mesmo sabendo que não há mais futuro.

VIÉS DA REPRESENTATIVIDADE

Definição:

Julgar a probabilidade de algo com base em estereótipos, em vez de considerar dados estatísticos reais.

Exemplo:

Assumir que uma pessoa que gosta de xadrez e matemática é mais propensa a ser um cientista do que um vendedor, mesmo sem dados que sustentem isso.

VIÉS DO EFEITO HALO

Definição:

Quando uma característica positiva de uma pessoa ou marca influencia nossa percepção geral sobre ela.

Exemplo:

Achar que alguém é inteligente apenas porque é bonito e bem vestido.

VIÉS DA ILUSÃO DE CONTROLE

Definição:

Superestimar nossa capacidade de influenciar eventos aleatórios.

Exemplo: Jogadores de loteria acreditam que escolher os próprios números aumenta suas chances de ganhar.

VIÉS DA ILUSÃO DA VERDADE

Definição:

Quanto mais ouvimos uma informação repetidamente, mais tendemos a acreditar que é verdadeira.

Exemplo:

Fake news repetidas diversas vezes parecem verdadeiras para muitas pessoas.

VIÉS DA PROVA SOCIAL

Definição:

Tendência de considerar algo correto apenas porque muitas pessoas acreditam ou fazem o mesmo.

Exemplo:

Alguém escolhe um restaurante apenas porque ele está lotado, sem avaliar a qualidade da comida.

VIÉS DO RETROVISOR (HINDSIGHT BIAS)

Definição:

Depois que algo acontece, acreditamos que sempre soubemos que aquilo ocorreria.

Exemplo:

Após uma crise financeira, muitas pessoas dizem que "já sabiam que isso iria acontecer", mesmo que não tenham previsto antes.

Os viéses cognitivos afetam nossas decisões diárias e podem levar a julgamentos errôneos.

Reconhecê-los é o primeiro passo para evitá-los e tomar decisões mais racionais e equilibradas.

COMO MINIMIZAR E EVITAR OS EFEITOS DOS VIESES COGNITIVOS?

Os viéses cognitivos são atalhos mentais que nosso cérebro utiliza para tomar decisões rapidamente, mas que frequentemente levam a erros de julgamento.

Embora sejam parte natural da cognição humana, seus efeitos podem ser reduzidos com estratégias de pensamento crítico e tomada de decisão consciente.

Pratique o pensamento crítico

Questione suas primeiras impressões

Sempre que tomar uma decisão rápida ou sentir uma forte certeza sobre algo, pergunte-se: "Estou considerando todas as evidências?"

Busque informações diversas

Não confie apenas em uma única fonte.

Compare diferentes perspectivas para evitar bolhas de pensamento e viés de confirmação.

Considere pontos de vista opostos

Para reduzir o viés de confirmação, tente entender os argumentos contrários ao seu ponto de vista antes de formar uma opinião definitiva.

Use Estratégias para Tomada de Decisão Consciente

Tome decisões baseadas em dados, não em emoções.

Pergunte-se:

"Estou decidindo com base em fatos concretos ou porque algo 'parece certo'?" Sempre que possível, baseie decisões em estatísticas e evidências verificáveis.

Dê um tempo antes de decidir

O pensamento intuitivo pode ser enganoso.

Quando possível, adie decisões importantes para refletir melhor e evitar impulsividade.

Use listas de prós e contras

Escrever os benefícios e desvantagens de uma escolha pode ajudar a visualizar melhor os fatores envolvidos e reduzir o impacto de viéses emocionais.

Conheça e Identifique os Principais Viéses Cognitivos

Viés de Confirmação

Tendência a buscar e acreditar em informações que reforcem nossas crenças prévias.

Dica: Leia opiniões contrárias às suas para ampliar sua visão.

Viés de Enquadramento

A forma como uma informação é apresentada influencia nossa interpretação.

Dica: Sempre reformule as informações em termos diferentes para avaliar o impacto real.

Viés de Disponibilidade

Julgamos a frequência de algo com base em exemplos fáceis de lembrar.

Dica: Consulte dados concretos em vez de confiar apenas na memória.

Viés de Ação

Tendência a agir impulsivamente, acreditando que qualquer ação é melhor do que nenhuma.

Dica: Em situações críticas, faça pausas para analisar antes de decidir.

Desenvolva Habilidades de Autorreflexão e Metacognição

Pratique a metacognição

Pergunte-se:

"Por que estou pensando dessa forma?" e "Quais fatores podem estar influenciando minha percepção?"

Considere a possibilidade de erro

Reconhecer que ninguém é totalmente racional o tempo todo ajuda a reduzir a arrogância cognitiva e a melhorar a qualidade das decisões.

Aprenda continuamente sobre viéses

O conhecimento sobre viéses cognitivos é um passo essencial para minimizá-los. Livros, cursos e artigos sobre psicologia cognitiva ajudam a entender melhor como nossa mente funciona.

Os viéses cognitivos são inevitáveis, mas podem ser minimizados com estratégias de pensamento crítico, análise consciente e aprendizado contínuo.

Quanto mais atentos estivermos a nossas próprias tendências mentais, mais eficazes seremos na tomada de decisões e na interpretação da realidade de forma objetiva.

OS VIESES COGNITIVOS MAIS IMPORTANTES NA COMUNICAÇÃO

A comunicação, especialmente na era digital, é fortemente influenciada por diversos viéses cognitivos, que afetam a forma como interpretamos, compartilhamos e reagimos às informações.

Entre os mais relevantes atualmente, destacam-se:

VIÉS DE CONFIRMAÇÃO

O que é?

A tendência de buscar e acreditar apenas em informações que reforçam nossas crenças pré-existentes, ignorando dados que as contradizem.

 Impacto na Comunicação:

Alavanca a polarização política e ideológica, pois as pessoas consomem apenas conteúdos alinhados a suas visões.

Fortalece bolhas informacionais, nas quais diferentes grupos vivem realidades paralelas e não dialogam entre si.

Alimenta a disseminação de fake news, pois informações falsas muitas vezes confirmam crenças já estabelecidas.

Como minimizar?

Incentivar a busca por diferentes perspectivas antes de formar opiniões.

Estimular o pensamento crítico e a checagem de informações.

VIÉS DE DISPONIBILIDADE

O que é?

A tendência de avaliar a frequência ou gravidade de um evento com base nas informações mais facilmente acessíveis na memória.

Impacto na Comunicação:

Mídia sensacionalista amplifica medos ao enfatizar eventos violentos ou catastróficos, mesmo que sejam estatisticamente raros.

Redes sociais viralizam conteúdos emocionais e extremos, distorcendo a percepção da realidade.

A repetição de um tema (como criminalidade, crises ou doenças) faz com que pareça mais comum do que realmente é.

Como minimizar?

Comparar percepções com dados concretos antes de reagir emocionalmente.

Diversificar fontes de informação para evitar narrativas enviesadas. 

VIÉS DO ENQUADRAMENTO (FRAMING EFFECT)

O que é?

A forma como uma informação é apresentada pode influenciar drasticamente a interpretação do público. 

Impacto na Comunicação:

Políticos e jornalistas utilizam diferentes enquadramentos para moldar a percepção pública sobre um mesmo evento.

Títulos de manchetes podem enfatizar aspectos positivos ou negativos de um fato, manipulando emoções.

Notícias podem usar palavras mais neutras (“reformas”) ou mais carregadas (“cortes”) para influenciar a opinião pública.

Como minimizar?

Sempre reformular informações em diferentes perspectivas antes de aceitá-las.

Perguntar-se:

"Se esta notícia fosse apresentada de outra forma, eu ainda pensaria do mesmo jeito?"

VIÉS DA ILUSÃO DA VERDADE

O que é?

A repetição de uma informação, mesmo que falsa, faz com que pareça mais verdadeira.

Impacto na Comunicação:

Fake news e desinformação se tornam "verdades" pelo simples fato de serem repetidas muitas vezes.

Narrativas falsas são reforçadas por bolhas digitais, onde grupos repetem as mesmas ideias sem contestação.

Celebridades e influenciadores podem validar ideias erradas apenas por repetirem insistentemente algo.

Como minimizar?

Priorizar fontes confiáveis e verificar fatos antes de compartilhar.

Questionar sempre:

 "A veracidade disso vem de provas concretas ou apenas da repetição?"

VIÉS DA PROVA SOCIAL

O que é?

A tendência de acreditar que algo é verdadeiro ou correto porque muitas pessoas acreditam ou fazem o mesmo.

Impacto na Comunicação:

Fake news se espalham rapidamente porque muitas pessoas compartilham sem verificar a veracidade.

Influenciadores e celebridades moldam comportamentos e crenças, independentemente da veracidade das informações.

Opiniões populares em redes sociais podem ser tomadas como fatos apenas porque recebem muitos likes e comentários.

Como minimizar?

Perguntar-se:

"Esse argumento é forte por si só ou apenas porque muitas pessoas acreditam nele? 

Analisar fontes primárias em vez de seguir apenas tendências populares.

VIÉS DA ANCORAGEM

O que é?

A primeira informação recebida sobre um assunto serve como referência (âncora) para todas as outras interpretações. 

Impacto na Comunicação:

Manchetes de notícias podem definir a forma como todo um evento será interpretado, mesmo que o conteúdo completo diga algo diferente. 

Primeiro contato com um assunto pode criar um viés inicial difícil de mudar. 

Discussões online frequentemente são moldadas pelo primeiro comentário ou tweet sobre um tema.

Como minimizar?

Sempre buscar outras fontes antes de formar uma opinião definitiva.

Evitar tirar conclusões com base apenas em manchetes ou primeiras impressões. 

VIÉS DA AVERSÃO À PERDA

O que é?

As pessoas tendem a reagir mais fortemente a perdas do que a ganhos de igual valor.

Impacto na Comunicação:

Políticos e campanhas de marketing exploram o medo da perda ("Se você não votar em X, perderemos direitos!"). 

Notícias enfatizam crises e colapsos para atrair mais audiência, já que o medo gera engajamento.

Consumidores compram produtos rapidamente ao ver mensagens como "Últimas unidades!" ou "Promoção por tempo limitado!". 

Como minimizar?

Questionar:

"Estou tomando essa decisão porque faz sentido ou porque estou sendo manipulado pelo medo?"

Avaliar riscos e benefícios de forma equilibrada antes de agir. 

Na comunicação atual, os viéses cognitivos desempenham um papel crucial na forma como consumimos e interpretamos informações.

Plataformas digitais, redes sociais e meios de comunicação utilizam esses mecanismos para direcionar a atenção do público, influenciar opiniões e moldar comportamentos.

Para evitar manipulações e tomar decisões mais racionais, é fundamental:

ü  Buscar informações de múltiplas fontes.

ü  Analisar dados concretos antes de formar uma opinião.

ü  Questionar títulos, manchetes e enquadramentos.

ü  Refletir sobre os próprios viéses antes de compartilhar algo. 

O pensamento crítico e a alfabetização midiática são essenciais para reduzir a influência desses viéses e garantir uma comunicação mais saudável e equilibrada.

TEORIAS DAS AGENDAS MIDIÁTICAS

A agenda midiática refere-se ao processo pelo qual os meios de comunicação selecionam e destacam determinados temas, influenciando a percepção do público sobre a importância dessas questões.

O estudo desse fenômeno resultou em diversas teorias da agenda midiática, que explicam como a mídia molda a opinião pública, define prioridades e influencia o comportamento social e político. 

A seguir, apresentamos as principais teorias da agenda midiática, suas características e exemplos.

TEORIA DO AGENDA-SETTING

O que é?

A Teoria do Agenda-Setting foi proposta por Maxwell McCombs e Donald Shaw (1972) e sugere que a mídia não diz ao público o que pensar, mas sim sobre o que pensar.

Principais características:

ü  Os meios de comunicação determinam quais temas serão priorizados na esfera pública.

ü  A repetição e a ênfase de certos assuntos geram a percepção de relevância na sociedade.

ü  Políticos e empresas podem influenciar a mídia para estabelecer temas favoráveis à sua imagem.

Exemplo:

Durante as eleições, a mídia pode dar mais cobertura a temas como corrupção ou segurança pública, fazendo com que esses assuntos se tornem prioridades para os eleitores.

Em períodos de crise, a imprensa pode enfatizar a economia e o desemprego, moldando a percepção pública sobre a necessidade de mudanças políticas.

TEORIA DO PRIMING

O que é?

A Teoria do Priming (pré-ativação) sugere que a exposição repetida a certos temas faz com que o público os use como referência para avaliar outras questões.

Principais características:

ü  A mídia cria “filtros” mentais que influenciam como as pessoas julgam políticos, marcas e eventos.

ü  Assuntos amplamente debatidos na mídia tornam-se padrões de avaliação na sociedade.

ü  Funciona como um “efeito psicológico” que influencia julgamentos futuros.

Exemplo:

Se a mídia enfatiza repetidamente a corrupção política, os eleitores podem passar a avaliar candidatos apenas com base nesse critério, ignorando suas propostas econômicas ou sociais.

Após uma sequência de reportagens sobre violência urbana, o público pode considerar a segurança pública como o maior problema do país 

TEORIA DO FRAMING (ENQUADRAMENTO MIDIÁTICO)

O que é?

A Teoria do Framing (Enquadramento) analisa como a mídia constrói a interpretação de um evento, influenciando a forma como ele será compreendido pelo público 

Principais características:

ü  A mídia escolhe palavras, imagens e narrativas que moldam a percepção sobre um tema.

ü  O enquadramento pode ser positivo ou negativo, dependendo da intenção editorial.

ü  Diferentes veículos de comunicação podem enquadrar o mesmo fato de formas distintas. 

Exemplo:

Um protesto pode ser descrito como "manifestação pacífica" em um jornal progressista, enquanto outro veículo pode chamá-lo de "onda de vandalismo", influenciando a opinião pública de forma diferente.

O mesmo aumento nos impostos pode ser enquadrado como "necessário para o equilíbrio fiscal" ou como "um peso extra para os cidadãos", dependendo da perspectiva do meio de comunicação.

TEORIA DO GATEKEEPING (CONTROLE DE INFORMAÇÃO)

O que é?

A Teoria do Gatekeeping (Controle de Informação) argumenta que os jornalistas, editores e donos de veículos de mídia decidem quais informações serão publicadas ou suprimidas.

Principais características:

ü  A mídia atua como um filtro, determinando quais fatos serão divulgados e quais serão ignorados.

ü  O processo de “seleção” pode ser influenciado por interesses políticos, econômicos ou ideológicos.

ü  Grandes empresas de mídia podem manter determinados temas fora do debate público.

Exemplo:

Um grande jornal pode evitar cobrir escândalos que envolvam empresas que são suas anunciantes.

Reportagens sobre desastres ambientais causados por grandes corporações podem ser minimizadas para evitar conflitos com patrocinadores.

TEORIA DO AGENDA-BUILDING

O que é?

A Teoria do Agenda-Building sugere que a construção da agenda midiática não é feita apenas pela mídia, mas também por outros atores sociais, como políticos, empresas e organizações 

Principais características:

ü  Governos, partidos políticos e grupos econômicos influenciam a mídia para colocar certos temas em destaque.

ü  Grandes corporações podem impulsionar determinadas pautas por meio de publicidade e lobby.

ü  A sociedade civil e movimentos sociais também podem influenciar a agenda midiática ao viralizar temas nas redes sociais.

Exemplo:

Uma empresa petrolífera pode financiar campanhas publicitárias para moldar a percepção pública sobre energias renováveis.

Políticos usam assessorias de comunicação para pautar determinados assuntos na mídia e desviar a atenção de escândalos. 

As teorias da agenda midiática demonstram como a mídia molda o debate público, define prioridades sociais e influencia a opinião das pessoas.

Seja através do Agenda-Setting, do Framing, do Priming ou do Gatekeeping, os meios de comunicação exercem um papel crucial na forma como a sociedade percebe os eventos e toma decisões 

Com o crescimento das redes sociais, a disseminação de informações se tornou mais descentralizada, permitindo que novos agentes influenciem a agenda pública. 

No entanto, grandes conglomerados de mídia e empresas de tecnologia ainda exercem um forte controle sobre a informação, tornando fundamental o desenvolvimento do pensamento crítico e da alfabetização midiática.

PRINCIPAIS TEORIAS DAS AGENDAS MIDIÁTICAS QUE INFLUENCIAM A COMUNICAÇÃO ATUALMENTE: AGENDAS SETTING, PRIMING E FARMIN 

AGENDA SETTING: O QUE IMPORTA PARA A SOCIEDADE?

A teoria da agenda setting sugere que a mídia não diz às pessoas o que pensar, mas sim sobre o que pensar.

Ao destacar determinados assuntos e ignorar outros, os meios de comunicação determinam quais temas ganham relevância no debate público.

Por exemplo, se a mídia dedica ampla cobertura a crimes violentos, a sociedade pode passar a percebê-los como um problema mais grave do que indicariam os dados estatísticos.

Exemplo específico de Agenda Setting: O Que Importa Para a Sociedade?

Imagine que dois grandes problemas afetam um país ao mesmo tempo:

A crise na educação, com baixos índices de alfabetização e escolas sem infraestrutura adequada.

Um escândalo político envolvendo um deputado que desviou verbas públicas.

Se os principais jornais, redes de televisão e portais de notícias passarem semanas focando apenas no escândalo político, trazendo manchetes diárias sobre o caso, entrevistas e análises de especialistas, a população pode começar a acreditar que a corrupção política é o problema mais urgente do país, mesmo que a crise na educação afete muito mais pessoas e tenha consequências de longo prazo. 

Esse fenômeno ocorre porque os meios de comunicação não dizem às pessoas o que pensar, mas sim sobre o que pensar.

Ao destacar certos temas e ignorar outros, a mídia influencia a percepção pública sobre quais assuntos são mais importantes.

Outros exemplos de Agenda Setting:

Eleições:

Se a imprensa dá mais visibilidade a um candidato e ignora os demais, a população pode acreditar que ele é a opção mais viável, mesmo sem analisar suas propostas.

Segurança Pública:

Se um noticiário enfatiza crimes violentos diariamente, as pessoas podem sentir que a criminalidade está fora de controle, mesmo que os dados mostrem uma queda nos índices. 

Saúde Pública:

Durante a pandemia de COVID-19, os meios de comunicação mantiveram o tema em destaque por meses, fazendo com que a sociedade priorizasse medidas de saúde, como vacinação e isolamento social.

A teoria do Agenda Setting mostra como a mídia molda as preocupações do público, influenciando não apenas o debate social, mas também as políticas públicas e as decisões políticas. 

AGENDA PRIMING: A PREPARAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA

A agenda priming refere-se ao impacto que a exposição a determinados temas pode ter na avaliação das pessoas sobre outros assuntos. 

Se a mídia enfatiza a corrupção política por um longo período, por exemplo, os eleitores podem priorizar esse critério na hora de escolher candidatos, mesmo que outras questões, como economia ou saúde, sejam mais relevantes em termos objetivos.

Exemplo de Agenda Priming: A Preparação da Opinião Pública

Imagine que uma eleição presidencial está se aproximando e os principais jornais, portais de notícias e programas de TV passam meses enfatizando a crise econômica do país.

Diariamente, são divulgadas manchetes como:

"Inflação dispara e preços dos alimentos sobem 20% em um ano!"

"Desemprego atinge o maior nível da década!"

"Empresas fecham as portas diante da recessão!"

Esse foco constante nos problemas econômicos faz com que a população priorize a economia como o principal critério na hora de escolher um candidato, mesmo que existam outros temas importantes, como saúde, educação ou segurança pública.

Quando os eleitores forem votar, eles estarão mais inclinados a escolher um candidato que tenha um discurso forte sobre crescimento econômico, geração de empregos e controle da inflação, porque esse tema foi preparado em suas mentes ao longo do tempo.

Esse é um exemplo clássico de Agenda Priming, que ocorre quando a mídia destaca certos assuntos antes de um evento importante, influenciando a maneira como o público avalia pessoas, políticos ou situações. 

Outros exemplos de Agenda Priming:

Pandemia e Saúde Pública:

Se a mídia enfatiza constantemente os impactos da COVID-19 antes de uma eleição, os eleitores podem priorizar candidatos que defendem o fortalecimento do sistema de saúde.

Segurança e Criminalidade:

Se, antes de um plebiscito sobre leis mais rígidas, os jornais passam meses falando sobre aumento da violência, a população pode votar a favor de medidas punitivas mais severas 

Copa do Mundo e Nacionalismo:

Se, antes de uma grande competição esportiva, a mídia exalta o orgulho nacional e a importância da seleção, as pessoas podem se sentir mais patrióticas e engajadas no evento.

A teoria do Agenda Priming mostra como a mídia prepara a opinião pública para que certos temas sejam considerados mais relevantes do que outros no momento de tomar decisões.

AGENDA FARMING: A CONSTRUÇÃO DO SENTIDO

Por fim, a agenda farming diz respeito à forma como a mídia não apenas define os temas de debate (agenda setting), mas também influencia a maneira como eles são interpretados. Isso ocorre por meio da escolha das palavras, das imagens e do tom da cobertura.

Um exemplo seria a forma como protestos podem ser descritos como "manifestações pacíficas" ou "atos de vandalismo", dependendo da intenção de quem narra os eventos 

Exemplo de Agenda Farming: A Construção do Sentido

Imagine que um grande protesto ocorre em uma cidade, com milhares de pessoas indo às ruas para reivindicar melhores condições de trabalho e aumento do salário mínimo 

Diferentes veículos de comunicação cobrem o evento, mas com enquadramentos distintos, criando narrativas que moldam a percepção do público sobre o que aconteceu:

ü  Jornal A (enquadramento positivo):

"Trabalhadores se unem em uma manifestação pacífica para exigir direitos e melhores condições de vida."

ü  Jornal B (enquadramento negativo):

"Ato de vandalismo causa caos na cidade; manifestantes bloqueiam ruas e prejudicam a economia local."

Ambos os jornais estão falando sobre o mesmo evento, mas a escolha das palavras e o tom da cobertura influenciam como o público interpretará a manifestação.

Enquanto um enfatiza a luta por direitos, o outro cria uma visão de desordem e prejuízo. 

Esse fenômeno é conhecido como Agenda Farming, que não apenas define os temas de debate (como o Agenda Setting) ou prepara o público para avaliá-los de determinada forma (como o Agenda Priming), mas também constrói ativamente o significado do evento, influenciando como as pessoas percebem e reagem a ele. 

Outros exemplos de Agenda Farming:

Guerra e Conflitos:

Dependendo do interesse político, um conflito pode ser descrito como uma "missão de paz" ou uma "invasão militar".

Criminalidade:

Um jovem de periferia que comete um crime pode ser chamado de "bandido perigoso", enquanto um empresário envolvido em corrupção pode ser tratado como "réu investigado".

Política:

Um político que muda de partido pode ser apresentado como "alinhando-se a novos ideais" ou como "traindo seus eleitores", dependendo da intenção do veículo de comunicação.

A Agenda Farming mostra como a mídia molda não apenas o que pensamos, mas como pensamos sobre determinado tema, influenciando crenças, emoções e decisões da sociedade.

CONCLUSÃO

Os vieses cognitivos e as estratégias de manipulação da informação exercem um papel crucial na maneira como interpretamos o mundo e tomamos decisões 

A conscientização sobre esses mecanismos permite um olhar mais crítico diante das notícias e das narrativas que nos cercam, tornando-nos menos suscetíveis à desinformação e à manipulação midiática.

No atual cenário de excesso informacional, desenvolver o pensamento crítico e buscar fontes diversificadas são atitudes essenciais para uma compreensão mais equilibrada da realidade.

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