sábado, 1 de fevereiro de 2025

OS SETE SISTEMAS DE BUSCA DE AFETOS DE PANKSEPP E SUAS IMPLICAÇÕES NA PSICOTERAPIA


INTRODUÇÃO

Jaak Panksepp, neurocientista e psicobiologista, desenvolveu uma teoria sobre os sistemas emocionais primordiais, que estão enraizados em estruturas subcorticais do cérebro e regulam comportamentos afetivos.

Os sete sistemas de busca constituem a base da experiência emocional humana e são essenciais para a compreensão da psique.

O estudo desses sistemas tem impacto significativo na psicoterapia, pois permite compreender padrões emocionais e promover a regulação emocional.

Neste texto, exploraremos os sete sistemas de busca de afetos descritos por Panksepp, sua aplicação clínica e como podem ser trabalhados terapeuticamente.

DEFINIÇÃO DOS SETE SISTEMAS DE BUSCA DE AFETOS

Panksepp identificou sete sistemas afetivos primários, baseados em estruturas cerebrais profundas e mecanismos neuroquímicos, que servem como fundamentos da experiência emocional. Esses sistemas são universais entre mamíferos e influenciam diretamente o comportamento humano.

OS SETE SISTEMAS DE BUSCA DE AFETOS

SEEKING (Busca/Exploração):

Relacionado à curiosidade, motivação e desejo de explorar o ambiente.

Exemplo: o entusiasmo ao iniciar um novo projeto ou hobby.

Base neuroquímica:

Dopamina, associada à antecipação de recompensas.

RAGE (RAIVA/IRRITAÇÃO):

Ligado a reações de frustração e agressividade.

Exemplo: quando nos sentimos injustiçados e temos impulsos de confrontar alguém ou algo. 

Base neuroquímica:

Ativação do sistema nervoso simpático e amígdala.

FEAR (MEDO/ANSIEDADE):

Ativado em situações de perigo ou ameaça.

Exemplo: uma reação instintiva de sobressalto ao nos depararmos com um animal perigoso ou com um cenário de risco.

Base neuroquímica:

Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal.

LUST (DESEJO SEXUAL):

Relacionado à reprodução e ao prazer sexual.

Exemplo: a atração por um parceiro romântico ou o impulso sexual em um encontro afetivo.

Base neuroquímica:

Testosterona (machos) e oxitocina (fêmeas).

CARE (CUIDADO/APEGO):

Responsável por sentimentos de proteção e carinho, como o amor parental. 

Exemplo: o vínculo entre mãe/pai e filho, com manifestações de afeto e zelo.

Base neuroquímica:

Opioides endógenos e oxitocina.

PANIC/GRIEF (PÂNICO/LUTO):

Associado aos sentimentos de perda e separação. 

Exemplo: a angústia profunda ao perder um ente querido ou sentir-se abandonado. 

Base neuroquímica:

Redução de opióides e aumento de cortisol. 

PLAY (BRINCADEIRA/JOGO):

Envolvido na interação social e no aprendizado.

Exemplo: crianças brincando juntas desenvolvem habilidades sociais e cognitivo-emocionais importantes.

Base neuroquímica:

Dopamina e endorfinas.

EXPLORAÇÃO DOS SISTEMAS NA PSICOTERAPIA

Na prática clínica, a compreensão desses sistemas é fundamental para criar intervenções que auxiliem na regulação emocional.

Cada sistema, quando hiperativo ou inibido, pode gerar sintomas psicológicos distintos 

Por exemplo, distúrbios de ansiedade tendem a envolver a hiperatividade do sistema FEAR (MEDO), enquanto quadros depressivos podem estar relacionados a um desequilíbrio nos sistemas SEEKING (BUSCA/EXPLORAÇÃO) e PANIC/GRIEF (PÂNICO/LUTO). 

Para abordar esses desequilíbrios, o terapeuta pode propor técnicas de regulação emocional, exercícios de relaxamento, reestruturação cognitiva ou intervenções de mindfulness, buscando reequilibrar os sistemas afetivos. 

No caso do RAGE (RAIVA), por exemplo, trabalhar a forma de expressar e canalizar a raiva de maneira construtiva pode ser essencial para o manejo de impulsos agressivos.

Já para o CARE (CUIDADO), promover habilidades de empatia e autocuidado pode fortalecer vínculos e melhorar a autoestima do paciente. 

EXEMPLOS DE APLICAÇÃO PRÁTICAS NA PSICOTERAPIA

A compreensão desses sistemas oferece estratégias para intervenções clínicas:

SEEKING (BUSCA/EXPLORAÇÃO):

Estimular a curiosidade e metas realistas para combater apatia, usando técnicas de ativação comportamental. 

CARE (CUIDADO) e PANIC (PÂNICO):

Reconstruir vínculos seguros em casos de trauma, integrando abordagens como a Terapia do Apego.

PLAY (BRINCADEIRA E JOGO):

Utilizar atividades lúdicas ou arteterapia para ressignificar experiências negativas e promover resiliência. 

Regulação do FEAR (MEDO) e RAGE (RAIVA):

Técnicas de mindfulness e reprocessamento emocional (como EMDR) para modular respostas a ameaças.

CONCLUSÃO

Os sete sistemas de busca de afetos de Panksepp oferecem uma visão neurocientífica e emocional integrada do comportamento humano.

Sua aplicação na psicoterapia enriquece a compreensão de padrões afetivos e possibilita intervenções mais direcionadas para a regulação emocional, contribuindo para o bem-estar e o equilíbrio psicológico dos pacientes.

Os sete sistemas de Panksepp revelam como as emoções moldam desde comportamentos básicos até complexas interações sociais.

Na clínica, essa abordagem permite intervenções mais precisas, alinhadas aos substratos neurobiológicos dos pacientes. 

Como destacado por Panksepp, "as emoções são a linguagem ancestral do cérebro", e sua integração à psicoterapia abre caminhos para tratamentos mais holísticos e eficazes. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DAMÁSIO, Antonio. O erro de Descartes: Emoção, Razão e o Cérebro Humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
 
LEDOUX, Joseph. O Cérebro Emocional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
 
PANKSEPP, Jaak. Affective Neuroscience: The Foundations of Human and Animal Emotions. New York: Oxford University Press, 1998.
 
PANKSEPP, Jaak; BURGDOERFER, Ken. The Archaeology of Mind: Neuroevolutionary Origins of Human Emotions. New York: Norton & Company, 2012.
 
SCHORE,Allan.  A neurobiologia do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artmed, 2016.


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