INTRODUÇÃO
Na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), Carl Rogers enfatiza que os seres humanos têm uma tendência atualizante – uma força inata que os impulsiona ao crescimento, à realização pessoal e ao equilíbrio psicológico.
No entanto, quando as experiências de uma pessoa entram em conflito com sua autoimagem ou com o self ideal, podem surgir mecanismos de defesa psicológica para proteger o indivíduo da incongruência e do desconforto emocional.
Os principais mecanismos de defesa descritos por Rogers são a distorção e a negação, ambos relacionados ao modo como o indivíduo lida com experiências que ameaçam sua identidade ou autoestima.
1.
DISTORÇÃO DA EXPERIÊNCIA
A distorção ocorre quando a pessoa altera a percepção de uma experiência para que ela se encaixe dentro de sua autoimagem existente, minimizando a ameaça à sua identidade. Esse mecanismo é usado para preservar a coerência interna e evitar conflitos emocionais.
Exemplo:
Uma
pessoa que se considera muito generosa pode receber um feedback dizendo que, em
determinada situação, foi egoísta.
Para
evitar a incongruência entre essa crítica e sua autoimagem, ela pode
interpretar o feedback de forma distorcida, pensando:
"Essa pessoa não entende minhas intenções." Eu estava apenas sendo cuidadoso com meus próprios limites, e não egoísta."
Dessa forma, o indivíduo modifica a interpretação da experiência para que ela continue sendo compatível com sua autoimagem.
2.
NEGAÇÃO DA EXPERIÊNCIA
A negação ocorre quando a pessoa simplesmente recusa reconhecer uma experiência ou sentimento que entra em conflito com sua autoimagem.
Em vez de modificar a percepção da experiência, como na distorção, a pessoa simplesmente a ignora ou a rejeita, impedindo que ela entre na consciência.
Exemplo:
Uma pessoa que se considera altamente competente pode receber uma crítica sobre sua performance no trabalho.
Se
essa informação for percebida como uma ameaça ao seu self, ela pode negar
completamente a validade da crítica, dizendo:
"Isso é um absurdo, eu sei que sou excelente no que faço." Esse comentário não tem fundamento."
Esse mecanismo protege a autoestima ao evitar que a informação indesejada seja integrada à percepção do self.
DEFESAS
E A INCONGRUÊNCIA
Os mecanismos de distorção e negação são acionados quando a pessoa enfrenta uma situação que ameaça sua visão de si mesma.
Rogers
chamou essa discrepância entre a experiência real e a autoimagem de
incongruência.
Quando há muita incongruência, a pessoa pode desenvolver altos níveis de ansiedade, defensividade e dificuldades emocionais.
Se esses mecanismos de defesa forem utilizados com frequência, a pessoa pode se tornar cada vez mais rígida e resistente a mudanças, o que pode prejudicar seu crescimento pessoal e sua relação com os outros.
A
SUPERAÇÃO DAS DEFESAS NA TERAPIA CENTRADA NA PESSOA
Na terapia centrada na pessoa, o objetivo é reduzir a necessidade desses mecanismos de defesa, ajudando o cliente a alcançar uma maior congruência entre sua experiência real e sua autoimagem.
Isso é feito por meio das três condições terapêuticas essenciais, propostas por Rogers:
Empatia:
O terapeuta compreende e reflete os sentimentos do cliente sem julgamentos.
Congruência:
O terapeuta é autêntico e transparente na relação com o cliente.
Consideração
Positiva Incondicional:
O terapeuta aceita o cliente sem impor condições para essa aceitação.
Com esse ambiente terapêutico acolhedor, o cliente se sente seguro para reconhecer e integrar aspectos de si mesmo que antes eram negados ou distorcidos, promovendo crescimento pessoal e equilíbrio emocional.
CONCLUSÃO
Os mecanismos de defesa na abordagem de Rogers são estratégias inconscientes usadas para evitar a incongruência e proteger a autoimagem.
A distorção e a negação ajudam temporariamente a manter o equilíbrio psicológico, mas podem impedir o crescimento pessoal e a aceitação de novas experiências.
A terapia centrada na pessoa cria um espaço seguro para que o cliente reduza suas defesas, integre experiências ameaçadoras e se torne mais congruente consigo mesmo, promovendo uma vida mais autêntica e satisfatória.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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SOUZA, Anália A. Terapia Centrada no Cliente. Petrópolis: Vozes, 2007.
KEGAN, Robert. A Arte de Ser Cliente. São Paulo: Cultrix, 2011.
PEREIRA, Cláudia. Humanismo e Psicoterapia. Lisboa: Climepsi, 2015.
BOCK, Ana M. B.; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes T. Psicologias: Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2019.
BUGENTAL,
James F. T.
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