sábado, 11 de junho de 2016

LUTO DO TÉRMINO DE UM RELACIONAMENTO: A REALIDADE E COMO DIMINUIR O SOFRIMENTO


Era uma tarde quente e abafada, e Eros, cansado de brincar e derrubado pelo calor, abrigou-se numa caverna fresca e escura. Era a caverna da própria Morte. Eros, querendo apenas descansar, jogou-se displicentemente ao chão, tão descuidadamente que todas as suas flechas caíram. Quando ele acordou percebeu que elas tinham se misturado com as flechas da Morte, que estavam espalhadas pelo solo da caverna. Eram tão parecidas que Eros não conseguia distingui-las. No entanto, ele sabia quantas flechas tinha consigo e ajuntou a quantia certa. Naturalmente, Eros levou algumas flechas que pertenciam à Morte e deixou algumas das suas. E é assim que vemos, frequentemente, os corações dos velhos e dos moribundos, atingidos pelas flechas do Amor e, às vezes, vemos corações dos jovens capturados pela Morte”.
(Esopo, Grécia Antiga, in Meltzer, 1984)

A DOR DE PERDER UM GRANDE AMOR
Perder um grande amor dói e não é pouco. Por mais que tenha gente que veja isso como drama demais ou frescura, só quem já passou pela decepção de ver a pessoa amada ir embora sabe do que o quanto isso doi.

E essa dor, nada mais é do que um tipo de luto, um luto que causa um sofrimento terrível, chegando até a travar muitas pessoas.

O QUE É LUTO?
O luto é um sistema de sentimentos que acompanham o processo da perda de algo ou alguém, podendo ser um namorado (a), um familiar, um animal de estimação, um artista querido, um emprego, entre outros (estes são chamados pelos estudiosos de ‘objetos de amor’).

Segundo Freud (1917) “o luto é, em geral, uma reação à perda de uma pessoa amada, ou à perda de abstrações colocadas em seu lugar, tais como a pátria, liberdade, ideal, etc”.

É um processo doloroso e que não deve ser interrompido ou impedido, não é considerado uma patologia, pois é natural na vida de todos os seres humanos, a menos que essa reação seja extremamente exagerada ou causando dano excessivo à saúde física e mental. 

A perda do objeto amado é muito difícil no início, até que a pessoa se acostume à sua ausência e isso seja internalizado de forma gradativa.

Nossa atenção é sobre o luto decorrente da perda de um relacionamento, um grande amor.

O QUE A CIÊNCIA TEM A DIZER SOBRE O ASSUNTO?
O sofrimento se explica devido os seguintes:

O amor eros é viciante
Aquele desejo incontrolável de ainda estar com a pessoa e a enorme falta que ela faz estão ligadas a uma parte do cérebro chamada de núcleo accubens, onde também age a cocaína. 

É nessa região que se localiza a zona de recompensa, que faz com que o organismo sinta prazer e que causa vício.

Uma especialista em amor, a americana Helen Fisher, ao longo de anos, trabalhou com imagens de cérebros e chegou à conclusão que o amor desperta as mesmas regiões que a cocaína no cérebro e que, por conta disso, é viciante assim como essas substâncias.

O amor eros pode favorecer a obsessão
Jogar fora as lembranças e excluir o ex-amor das redes sociais pode até ser mais simples, mas e quando ele insiste em continuar nos nossos pensamentos?

Aqui temos instalado, uma obsessão que precisa ser trabalhada, pois aqui temos uma patologia que se não for tratada, causa enormes problemas para a pessoa.

ESTÁGIOS DO LUTO
Quando nos aprofundamos no estudo do luto, encontramos cinco estágios discretos pelos quais pessoas que estão lidando com a perda de um objeto de amor ou que estão em situações terminais costumam passar. 

Vejamos esses estágios:
Negação 
– Dificuldade de aceitar e acreditar que isto realmente aconteceu, defesa contra a dor da perda. 

Pensamento: “Isso não pode estar acontecendo comigo”.

Raiva 
– Sentimento de raiva pelo o que aconteceu, pessoa sente-se inconformada. 

Pensamento: “Porque eu? Não é justo”.

Barganha 
– A pessoa percebe que a raiva não resolve nada, busca-se algum tipo de negociação interna para que tudo volte a ser como antes. 

Pensamento: “Me deixe viver/Não deixe ele (a) ir”.

Depressão
 – Sentimento de tristeza, culpa, desesperança, surge a percepção que a raiva e a barganha não resolveram nada. É quando o sujeito começa a tomar consciência da nova realidade que a perda traz. 

Pensamento: “Estou tão triste. Porque devo me preocupar com alguma coisa?”.

Aceitação 
– A pessoa não nega mais a realidade e procura aceitar a perda. Pensa em enfrentar a situação, começa a surgir um sentimento de paz, não de felicidade. 

Pensamento: “Tudo vai acabar bem”.

Não necessariamente esses processos ocorrem nesta ordem, eles podem se misturar e ir e vir em diversos momentos; também não são todas as pessoas que passam por todos eles, alguns podem passar por todos e outros por menos, mas ao menos um será vivido.

SENTIMENTO DE CULPA
Muitas vezes outro estágio aparece, o da culpa, mas geralmente quando se passa por esses cinco a pessoa tende a visualizar uma melhora em seu processo e bane esse sexto estágio. 

Entretanto, os que desenvolvem a culpa, tem uma chance maior de patologizar a situação, ou seja, de desenvolver algum tipo de patologia decorrente disso e precisar de tratamento especializado.

Normalmente as mulheres são vitimas da culpa, pois elas acham que a duração, bem como a permanência do relacionamento sempre depende delas, quando na verdade, isso não se constitui fato.

LUTO DECORRENTE DA MORTE X LUTO DECORRENTE DO TÉRMINO DE UM RELACIONAMENTO
O luto decorrente da morte é encarado com maior naturalidade, pois além de acontecer com todas as pessoas, se sabe que aquele ser se foi e as lembranças boas permanecerão na memória e no coração.

Já o luto decorrente do término de um relacionamento é mais penoso do que a dor da morte, pois aquela pessoa sempre estará ali, se relacionando com outras, quebrando promessas e sonhos que haviam sido feitos a dois.

DICAS PARA ATRAVESSAR ESSE MOMENTO DE LUTO
1. Não implore
A pior coisa que você pode fazer é ficar implorando e chorando atrás da pessoa. Se ela terminou com você, é porque quer distância por algum motivo. Qualquer tentativa de implorar só piora

2. Veja o lado bom da situação
Nem tudo que acontece de ruim pra nós, é realmente péssimo. Tudo na vida tem seu lado bom, é assim que aprendemos lições, passando por coisas difíceis para aprender a fazer melhor da próxima vez. Dar mais valor, ou menos valor, perceber que algumas pessoas não são feitas pra nós etc.

3. Veja o lado ruim da pessoa
Para se deprimir menos, é bom você ir tirando a pessoa do altar em que a colocou. 

Pense nos defeitos, por exemplo, até traições que ela possa ter cometido quem sabe te abandonado pra ficar com outro (a). 

Dessa forma, você tira bastante do peso da dependência que tem por ela.

4. Evite músicas depressivas
Uma tendência de quem perdeu alguém, é procurar por coisas que lembrem o amor que perdeu. 

As pessoas que sofrem mais, são aquelas que buscam por isso, ao invés de fugir disso. 

Ouvir músicas depressivas só vai aumentar ainda mais a tristeza, focar na solidão, e aumentar a culpa e a dor. Procure por coisas mais alegres ou letras que dão a volta por cima.

5. Livre-se de tudo o que o leva a lembrar da pessoa
Livre-se de tudo que lembre o passado com o amor perdido: fotos, cartões, cartas, e-mails, presentes. 

Também é aconselhado não procurar o moço nas redes sociais e muito menos fuçar o perfil dele. 

Vale até excluir o ex do Facebook por uns tempos para facilitar o processo.

6. Elimine os pensamentos obsessivos
Lembre-se das características da pessoa que não te agradavam nenhum pouco – até porque nessas horas parece ser mais fácil lembrar apenas das coisas boas que aconteceram.

Outra coisa, nunca esquecer que um relacionamento só dá certo de verdade quando duas pessoas realmente querem que ele funcione deixar a porta aberta para um novo amor e se manter ocupada é muito importante.

Ou seja, não deixe que as recordações do passado tomem conta e parem a sua vida. 

Esforce-se para seguir em frente com a sua vida. Invista em si mesma, no seu trabalho e nos estudos, e aguarde as surpresas que o futuro te reserva.

7. Não fique em casa se deprimindo
Parar de fazer o que você fazia antes, não sair só porque vai dar de cara com a pessoa, tornar a sua vida mais "esquisita" e diferente vai ser pior. Você estava acostumada com uma rotina e do nada tudo muda por conta de alguém. Evite isso.

Evite ficar em casa sem fazer nada, e se já não tinha nada pra fazer, procure se ocupar.

8. Encontre uma atividade que exija concentração
É difícil se concentrar, mas melhor ainda é fazer um pouco mais de força pra isso. 

Procure fazer coisas que exijam de você concentração. Jogos são uma boa saída, já que são passatempos e tiram você um pouco do foco. Até mesmo trabalhar ajuda.

9. Procure os amigos
Uma das primeiras coisas é procurar por amigos pra desabafar. Ficar só e sem ninguém pra dar um conselho é lógico que só vai fazer você piorar.

Um dos problemas de quem foi abandonado às vezes, é querer ficar pior, e achar que com isso a pessoa vai voltar. Não caia nessa, evite ficar sozinho e longe de amigos e parentes.

10. Procure um novo amor
Quando somos abandonados estamos jogados fora. Nada melhor do que uma pessoa que esteja interessada em te conhecer, saber das suas preferências, te cubra de elogios, levantando a sua autoestima.

Aqui é preciso cautela, pois alguns cuidados precisam ser tomados, para que você não crie mais problemas, tendo em vista a carência.

Outra coisa importante, antes de buscar outro amor, aprenda a viver sozinho.

11. Reinvente-se
Se todas as dicas acima não deram resultado para você apenas existe uma forma de sair do buraco: Recrie-se.

Trabalhe sua personalidade e comportamento, avalie os erros, e faça as correções necessárias. 

12. Abrace mais os familiares, amigos e pratique atividades físicas
Abraçar as pessoas próximas para aumentar os níveis do hormônio ocitocina – que deixa a pessoa mais relaxada – e praticar atividades físicas, que fazem com que a quantidade de dopamina – hormônio que oferece as sensações de prazer e recompensa ao organismo, aumentam no cérebro.

13. Der tempo ao tempo
Depois de certo tempo do trauma de ser abandonada pelo grande amor – ou quem esperava que fosse – você certamente verá que as coisas terão melhorado, ao menos um pouco.

É claro que não é simplesmente deixar o tempo passar que garante que a decepção irá magicamente embora. 

Ficar no pé do ex, reler as antigas mensagens de amor e ser obcecada por ele provavelmente não fará com que o decorrer dos meses surta muito efeito.

14. Busque ajuda terapêutica
Em geral diversas pessoas procuram acompanhamento terapêutico para esquecer traumas relacionados a relacionamentos que acabaram e nesse caso a culpa se faz mais presente, a pessoa pergunta-se porque não foi suficiente para manter aquela situação e acaba necessitando de ajuda especializada.

Muitas vezes uma situação que se apresenta ruim para nós tende a nos trazer grande aprendizado no futuro, além das histórias de superação e a possibilidade de auxiliar entes queridos caso isso ocorra para com eles.

Reflexão:
As duas principais conclusões são:

Primeira, que embora seja uma crise nas vidas pessoais dos envolvidos, com ameaça a sensação de bem estar  ainda assim separação pode abrir possibilidades para o desenvolvimento pessoal e trazer perspectivas futuras de felicidade;

Segunda, que o luto é estabelecido mesmo diante de uma separação por um casamento infeliz e  que o luto tem um enorme potencial transformador de vidas, e que durante o seu processo, o enlutado é quem torneia e é torneado, é que foco nessa possibilidade de desenvolvimento pessoa.

Por fim autoestima, autoconfiança, autocompaixão, uma a uma, ou as três juntas, de preferência, são a chave para o restabelecimento de uma vida, para o reinvestimento do afeto, para o “seguir em frente” e o “conferir sentido da perda”.

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